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O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A comunicação no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem levado lideranças do governo a criticar nos bastidores a estratégia adotada pelo ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta. O "fogo amigo" contra Pimenta ganhou força nas últimas semanas, depois que ele chegou a anunciar que haveria o corte do patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, o que não ocorreu.

A crise ganhou repercussão depois que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, desistiu de participar do evento por causa do convite feito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com integrantes do Planalto, Pimenta anunciou o corte do patrocínio da instituição sem um alinhamento prévio com os demais setores do Executivo.

"Descortesia e mudança de caráter de um evento institucional de promoção do agronegócio para um evento de características políticas e ideológicas. Ou é uma feira de negócios plural e apartidária ou não pode ter patrocínio público", defendeu o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta.

A avaliação de lideranças do PT é de que o movimento de Pimenta acabou ampliando a crise e as dificuldades de aproximação de Lula com o agronegócio. Após a repercussão negativa, Fávaro tentou contornar o episódio, disse que não haveria corte e defendeu a ampliação de recursos para o setor . "Não há, em hipótese alguma, nenhuma retirada de investimento", minimizou Fávaro durante encontro com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Mas, nesta sexta-feira (12), o próprio Lula agravou a crise, que parecia ter passado, ao chamar empresários do agro de São Paulo de fascistas.

Além desse episódio, os governistas acreditam que a comunicação do Planalto tem provocado ruídos "injustificáveis" até com a imprensa. Em março, por exemplo, Pimenta foi criticado depois que tentou desqualificar a apresentadora da CNN Brasil Raquel Landim durante uma entrevista para a emissora.

Na ocasião, o ministro da Secom questionou as qualificações de Landim após ser questionado por ela sobre a fala do presidente Lula, que sugeriu, sem provas, ser uma "armação" do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) o plano da facção criminosa PCC contra autoridades. "Você é jornalista?", perguntou o ministro. A apresentadora rebateu e respondeu que sim, "formada pela Universidade de São Paulo".

"Sou jornalista, sim. Meu papel é fazer as perguntas; o da autoridade pública deveria ser trazer os esclarecimentos", escreveu Landim em uma rede social. Também pelas mídias sociais, Pimenta negou a intenção de ofender ou desqualificar a jornalista.

Oposição aponta suposto "gabinete do ódio" liderado pela Secom de Lula

Paralelamente, integrantes da oposição na Câmara dos Deputados apontam a existência de um suposto “gabinete do ódio” de Lula e que funcionários da Secom estariam por trás de uma série de ataques contra big techs e parlamentares contrários ao PL das Fake News. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles. O governo foi procurado pelo veículo, mas não deu retorno sobre a questão.

O material apresentado pelos oposicionistas - que teria sido disparado pelo "gabinete do ódio" petista - contém imagens que tentam associar as empresas donas de grandes redes sociais e deputados da oposição aos ataques terroristas que ocorreram em escolas pelo Brasil recentemente. Há ainda peças atacando o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), apontando que ele seria contra o projeto que pode “impedir criminosos de usarem redes para planejar ataques”.

A pasta compartilhada pelo Google Drive estaria associada a um suposto e-mail de um integrante da pasta comandada por Paulo Pimenta. Haveria, ainda, arquivos modificados por usuários que também seriam funcionários da Secom. Para a oposição, a Secom estaria utilizando as mesmas táticas que tentaria impedir com o PL das Fake News.

"Essas informações demonstram a necessidade de uma investigação rigorosa sobre a conduta desses funcionários e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Vale notar que a ferramenta para atacar aqueles que se opõem ao PL das Fake News são, mais Fake News, vindas justamente daqueles que dizem querer combater a desinformação", defendeu o deputado Kim Kataguiri (União-SP).

Pimenta vira alvo da oposição dentro da Câmara dos Deputados

A atuação do ministro Paulo Pimenta também tem gerado desgastes para o Palácio do Planalto dentro do Congresso Nacional. Na última semana, por exemplo, parlamentares do PT tiveram que negociar para que o chefe da Secom não fosse convocado pela comissão de Comunicação da Câmara.

O deputado Filipe Barros (PL-PR) apresentou o requerimento de convocação, depois que Pimenta recusou os convites do colegiado. O ministro chegou a sugerir que teria agenda para participar da audiência apenas no final deste mês, o que provocou reações da oposição. Diferente do convite, a convocação, se aprovada, obriga o ministro a comparecer ao colegiado.

"É de bom tom que os ministros, por livre e espontânea vontade, compareçam em cada comissão que afeta o seu ministério. Mas o ministro da Secom dorme em berço esplêndido e não vem nesta Casa. Outros convites foram feitos e esses convites foram solenemente ignorados pelo ministro Paulo Pimenta", criticou Barros.

De acordo com o parlamentar, o ministro precisa prestar esclarecimentos sobre a ameaça de corte do patrocínio à Agrishow, além da atuação do governo sobre o PL das Fake News, e sobre o site de checagem de informações lançado pelo governo.

A plataforma, denominada "Brasil contra Fake", tem como objetivo selecionar notícias com potencial desinformativo que possam prejudicar membros do governo, ou que estejam relacionados a temas de interesse do Executivo, e contrapor com a versão "oficial" do governo.

Já deputado Bibo Nunes (PL-RS) acusou o ministro da Secom de se comportar como "mais realista que o rei". "Foi feito o convite, mas essa não é a primeira vez que o ministro Paulo Pimenta tenta dar uma de mais realista que o rei. É o que ele gosta de fazer conheço bem. Isso é um desprezo por esta comissão e nós temos que exigir no mínimo um pouco mais de respeito", disparou Nunes.

Diante da mobilização da oposição, integrantes da base governista costuraram um acordo para que Pimenta compareça ao colegiado no próximo dia 24. "Não existe uma real necessidade de transformar o convite em convocação, haja visto que o ministro demonstrou a disponibilidade de ir à comissão. Então, não seria de bom tom convocar, já que ele disponibilizou datas", minimizou a deputada Carol Dartora (PT-PR).

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