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Haddad tem buscado apoio em Lula e no vice-presidente Geraldo Alckmin
Haddad tem buscado apoio em Lula e no vice-presidente Geraldo Alckmin| Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Antes mesmo de entregar o texto da nova regra fiscal para o Congresso Nacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), já é alvo de "fritura" por parte de lideranças do próprio PT. O fogo amigo contra Haddad vem, principalmente, da ala política do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem criticado esta e outras políticas econômicas da pasta, a exemplo da reoneração dos combustíveis.

A proposta da novo arcabouço fiscal vinha sendo costurada desde o início do governo e chegou a ter a sua apresentação adiada por diversas vezes por conta das resistências da própria base do governo, que defende uma ampliação dos gastos por parte do Executivo. A principal crítica dos petistas é que a proposta é melhor que o atual teto de gastos, mas ainda tem forte base liberal.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), é uma das integrantes do partido que mais demonstrou resistências ao texto, mas após uma interferência de Lula, ela se manteve em silêncio publicamente. Depois disso, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) virou o principal opositor da proposta.

Nesta segunda-feira (10), por exemplo, o petista afirmou em entrevista à revista Fórum que o "arcabouço é um erro e pode ser mortal para Lula. Para Farias, o presidente pode pagar um "alto preço por não adotar posturas econômicas mais expansionistas e por manter o arcabouço conservador proposto por Haddad".

Ainda na semana passada, Farias já havia afirmado em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que a apresentação do novo arcabouço fiscal seria um "pacto com diabo". Haddad chegou a rebater o correligionário, alegando não ser possível "agradar 100% das pessoas" e cobrou que o governo crie um “núcleo hegemônico” para “recolocar o Brasil numa trilha de desenvolvimento sustentável”.

"Manifestações críticas e elogiosas vão acontecer em qualquer agremiação. Agora quem fala pelo Partido dos Trabalhadores é a sua Executiva, com todo respeito a vozes internas. Nada obsta a um deputado em exercício de seu mandato apresentar o seu projeto", declarou Haddad.

Reservadamente, integrantes do governo avaliam que as manifestações por parte de Farias ocorrem por intermédio da ala política do PT, liderada por Gleisi Hoffmann. Nos bastidores do Planalto, a avaliação é de que a fritura do Haddad é uma "briga de egos", mas que não há expectativa de haver obstrução ao projeto da regra fiscal.

Lula sai em defesa de Haddad e da nova regra fiscal do governo 

Para tentar contornar o fogo amigo dentro do governo, o presidente Lula saiu em defesa do novo arcabouço fiscal. A orientação, segundo assessores do Planalto, é de que o petista passe a falar publicamente sobre a proposta como forma de fortalecer Haddad dentro do governo.

Na avaliação do presidente, a nova regra fiscal, que será enviada para análise do Congresso no fim da semana, tem "soluções realistas", põe fim "às amarras descumpridas do falido teto de gastos" e "coloca o pobre de volta no orçamento".

"Aqui, Haddad, de vez em quando, eu sei que você ouve algumas críticas. Eu tenho que elogiar, você e a equipe que trabalharam, porque certamente, em se tratando de economia, em se tratando de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade", afirmou Lula ao defender o ministro da Fazenda.

Ainda durante o afago ao ministro, Lula afirmou que o governo irá "colher os frutos" quando a proposta for aprovada. "Eu tenho certeza que vai ter sucesso. Tenho certeza que vai ser aprovado, e tenho certeza que a gente vai colher os frutos que foram plantados na nossa proposta [do arcabouço fiscal]", acrescentou o presidente.

Após o aceno público de Lula em favor de Haddad, aliados do ministro da Fazenda avaliaram que ele sai fortalecido da disputa contra a ala política do PT.

"Eu, essa semana, vi um artigo muito ruim contra você, eu pensei em responder, meu conciliador, o [Alexandre] Padilha, achou que não valia a pena, melhor ficar quieto, porque a compreensão da sociedade sobre o que foi feito vale mais do que uma crítica de uma pessoa", disse Lula sem citar publicamente o deputado Lindbergh Farias.

Haddad vai atrás de apoio do Centrão para tentar aprovar arcabouço

Para tentar contornar as críticas dentro do PT, Fernando Haddad vai buscar o apoio de deputados e senadores do Centrão para aprovar a nova regra fiscal. Além disso, o chefe da pasta econômica conta ainda com o apoio dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

"A recepção dos líderes e dos presidentes foi muito boa, assim como foi dos ministros, que conheceram o arcabouço na sexta-feira. Estamos confiantes", disse Haddad.

Aliados de Haddad afirmam que, neste momento da negociação, a intenção do ministro é garantir que Lira e Pacheco consigam blindar o projeto. De acordo com o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a discussão sobre o nome do relator vai acontecer nos próximos dias.

Em outra estratégia para tentar ampliar o apoio ao novo arcabouço fiscal, Haddad vai escalar o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, para protocolar a proposta no Congresso Nacional. A justificativa oficial é de que o ministro da Fazenda estará na comitiva de Lula à China e o texto precisa ser protocolado até o dia 15 deste mês.

“A ministra Simone vai estar aqui. Dia 15 é o prazo para mandar. E ela vai estar tranquila de que vai estar validada por todos os ministros”, disse o ministro da Fazenda.

A avaliação interna dentro do governo é de que Alckmin e Tebet são nomes que transitam fora do campo da esquerda e podem ampliar o apoio ao texto dentro do Congresso. A expectativa, por exemplo, é que Alckmin busque votos inclusive no PSDB, seu antigo partido.

“Meu desejo como líder do governo é votar essas matérias até o final de junho para entrar julho, agosto, quando formos votar o Orçamento. A base está, a cada semana, subindo um degrau. Desde o começo a gente diz que a prioridade é o arcabouço e a reforma tributária, tudo mais é acessório”, disse o deputado José Guimarães.

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