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Regras Eleitorais

Saiba quais partidos podem ser afetados pela cláusula de barreira em 2026

Cláusula de barreira
Cláusula de barreira prevê que os partidos precisarão eleger 13 deputados federais em 2026 ou ter 2,5% dos votos válidos para Câmara e 1,5% em pelo menos nove estados (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

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Criada em 2017 pela minirreforma eleitoral, a cláusula de barreira coloca em risco a existência de ao menos 11 partidos nas eleições de 2026. Para tentar driblar a regra, essas agremiações buscam ainda neste ano acordos que devem resultar em fusões ou em novas federações antes do pleito do ano que vem. 

A lei estabelece que os partidos precisarão eleger 13 deputados federais no ano que vem ou ter 2,5% dos votos válidos para Câmara e 1,5% em pelo menos nove estados. Caso esse patamar não seja atingido, as siglas perderão acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e televisão. 

O caso mais emblemático é o do PSDB, que atualmente conta com uma bancada de 13 parlamentares e que está federado com o Cidadania, que tem outros cinco parlamentares. A federação, criada em 2021, permite que dois ou mais partidos se unam e funcionem obrigatoriamente juntos por quatro anos.  

Ou seja, as legendas precisam tomar decisões em conjunto a nível nacional, inclusive durante as eleições e dentro do Congresso Nacional, embora cada um mantenha sua estrutura partidária. Caso rompam a união antes do tempo, os partidos estão sujeitos a punições, como perda do fundo eleitoral e partidário e a proibição de fechar outra federação ou coligação. 

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PSDB rejeitado pelo PSD e MDB

Lideranças do PSDB e do Cidadania já admitem nos bastidores que a federação entre ambos será extinta no ano que vem devido aos conflitos internos entre as duas legendas. Nas últimas semanas, por exemplo, o presidente nacional do PSDB, o ex-governador Marconi Perillo, chegou a tentar acordo com outras siglas como PSD e MDB, mas as tratativas não avançaram. 

Recentemente, por exemplo, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, deixou o ninho tucano e migrou para o PSD, justamente em busca de mais estrutura para disputar a reeleição no ano que vem. Com a saída da pernambucana, o PSDB conta agora com apenas outros dois governadores Eduardo Riedel (MS) e Eduardo Leite (RS). 

Além disso, o partido chegou a perder a estrutura que mantinha no Senado depois que ficou apenas com a filiação do senador Plínio Valério (AM). A liderança só foi retomada no começo deste ano após a entrada dos senadores Oriovisto Guimarães (PR) e Styvenson Valentim (RN). 

Para evitar um encolhimento ainda maior do partido e uma debandada de deputados na próxima janela partidária, a cúpula do PSDB estuda agora a possibilidade de fusão com o Podemos ou com o Solidariedade, que também estão em risco de extinção por conta da cláusula de barreira. A fusão resultaria na criação de um novo partido e somaria o fundo eleitoral e o tempo de propaganda de rádio e de TV dos envolvidos. 

"Sabemos das dificuldades impostas pela legislação. A partir da eleição de 2026, a chamada "cláusula de desempenho" ficará mais rígida e precisamos encontrar soluções para superar esse obstáculo. O PSDB não vai desparecer", informou Perillo por meio de nota. 

Segundo Roosevelt Arraes, advogado eleitoral e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), a fusão é uma alternativa mais drástica, pois os partidos envolvidos deixam de existir para a criação de uma nova legenda.

"A diferença fundamental entre fusão e federação é que, na federação, os partidos mantêm sua autonomia e suas direções próprias. Eles apenas se unem em questões macro e estratégicas, mas continuam funcionando de maneira independente dentro de seus espaços internos. Isso faz com que partidos mais ideológicos, por exemplo, prefiram a federação, pois ela permite preservar identidades diferentes dentro de um mesmo bloco", explicou.

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Partidos de esquerda na mira da cláusula de barreira 

Paralelamente, partidos de esquerda podem ser os mais afetados pela cláusula de barreira a partir das eleições de 2026. Sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin, o PSB tem atualmente 15 deputados e discute internamente uma federação com o PDT, que conta com 17 parlamentares na Câmara dos Deputados neste momento.

As negociações, no entanto, estão travadas diante do embate entre os irmãos Ciro Gomes e o senador Cid Gomes, que recentemente deixou o PDT e migrou para o PSB diante da rixa familiar. Eles romperam relações ainda em 2023 diante da disputa por espaço político no Ceará. 

“O nosso partido já havia autorizado, desde o ano passado, o início de diálogo sobre uma federação e eu acredito que a gente vai ter o ano de 2025, vai ser um ano que não só o PSB, mas vários partidos – grandes, menores porte, médio porte – vão discutir sobre federação. Qual é o grande desafio da federação? Na minha opinião, é um encaixe regional”, afirmou o prefeito do Recife, João Campos, em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura

Apesar disso, integrantes do PSB admitem que as conversas estão travadas neste momento e outras alianças com o Cidadania, PV e a Rede também estão na mesa de negociações. O PV está atualmente federado com o PT e o PCdoB, enquanto a Rede se federou com o PSOL, mas ambos os acordos não serão renovados para a próxima legislatura. 

De um lado, integrantes do PV admitem que o partido foi "engolido" pelo PT e é o único partido da federação que não foi contemplado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além dos ministérios comandados por petistas, o PCdoB comanda a pasta de Ciência e Tecnologia com Luciana Santos. 

"De qualquer forma, com a cláusula de barreira aumentando, partidos menores não terão muito espaço para sobreviver sozinhos. Cabe a cada partido pensar em como construir o estatuto da federação de uma forma que esse problema da legenda maior suprimir a menor. O estatuto precisa resolver isso", explicou Arraes. 

Além das siglas de esquerda, partidos como o Avante, com 7 deputados, PRD e Solidariedade, com cinco deputados cada, e o Novo, com 4 parlamentares, também integram a lista de agremiações que podem ser afetados pela cláusula de barreira a partir do ano que vem. Desde 2018, a regra já levou à extinção, seja por fusão ou incorporação, de PPL, PRP, PHS, Pros, PSC, Patriota e PTB. 

Federação pode ampliar o poder do Centrão no Congresso

Na contramão dos partidos que podem ser extintos por meio da cláusula de barreira, legendas do Centrão discutem uma federação para ampliar o poder de barganha no Congresso Nacional. As negociações envolvem o União Brasil, o Republicanos e o PP. 

As conversas entre União Brasil e PP estão avançadas, mas os líderes de ambos os partidos ainda tentam atrair o Republicanos. Caso seja confirmada, a composição formaria um dos mais fortes grupos dentro da Câmara, com mais de 150 deputados, e ultrapassaria com folga a maior bancada hoje na Casa: a do PL, com 98 deputados. 

Essa federação, no entanto, tem sido travada por questões locais, porque há estados e cidades em que políticos do Republicanos são adversários de políticos do PP e do União Brasil. A decisão final sobre o tema será dada pelo presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).  

A expectativa é de que Pereira ainda tenha conversas com os presidentes do PP e do União Brasil, Ciro Nogueira e Antônio de Rueda, respectivamente, sobre o assunto. O prazo para as negociações, segundo parlamentares dos três partidos, é até o final de abril deste ano. 

"A federação tem vantagens eleitorais e financeiras, mas também dificuldades operacionais por conta da diversidade do país e da necessidade de alinhamento em todas as instâncias. Um dos principais desafios da federação é a necessidade de verticalização", destacou Arraes.  

"Os partidos que se unem em nível nacional precisam estar juntos também nos estados e municípios, o que pode gerar conflitos. Muitas vezes, a relação entre os partidos em um estado é boa, mas em determinados municípios há rivalidades históricas", salientou o integrante da Abradep. 

Confira a lista de partidos que podem ser afetados pela cláusula de barreira em 2026

  • PSDB
  • Cidadania
  • Podemos
  • Solidariedade
  • PSB
  • PDT
  • PV
  • Rede
  • Avante
  • PRD
  • Novo

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