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Alexandre de Moraes

Tagliaferro diz que no “momento oportuno” dará as respostas que o Senado precisa

O perito Eduardo Tagliaferro trabalhou na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE
O perito Eduardo Tagliaferro trabalhou na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE (Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

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O perito judicial Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enviou um áudio, nesta quarta-feira (30), à Comissão de Segurança Pública do Senado, dizendo que, “no momento oportuno”, estará à disposição dos senadores, “para que vocês possam fazer as perguntas que desejam e obter as respostas que precisam”.

O áudio foi reproduzido pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na audiência pública que ele convocou para ouvir Tagliaferro sobre supostas ameaças de morte que estaria sofrendo depois que passou a ser investigado por Moraes.

Tagliaferro se tornou alvo de um inquérito conduzido por Moraes depois que a Folha de S.Paulo publicou, em agosto do ano passado, reportagens sobre como produzia relatórios sobre críticos do magistrado, depois usados por ele mesmo para investigá-los censurá-los. As reportagens foram baseadas em conversas de Tagliaferro com outros ex-auxiliares de Moraes no TSE e no Supremo Tribunal Federal (STF).

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O perito foi indiciado no início de abril por supostamente vazar o material para o jornal; o caso agora está sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe denunciar ou não Tagliaferro.

Neste mês, a Gazeta do Povo publicou mensagens de Tagliaferro, trocadas com sua mulher no ano passado, em que desabafou sobre o medo de ser preso por ordem de Moraes, ou até morto, caso contasse tudo que sabia. Convidado para falar no Senado, ele disse no áudio enviado à comissão que atualmente cuida de sua segurança.

“Boa tarde a todos. Eduardo Tagliaferro aqui que está falando. Queria agradecer o convite recebido através de meu advogado, Eduardo Kuntz. Infelizmente não pude comparecer, por questões pessoais, e pela preservação da minha segurança e da minha família, mas, no momento oportuno, estarei aí à disposição de todos nessa comissão, pra que vocês possam fazer as perguntas que desejam e obter as respostas que precisam. Tá ótimo? Uma ótima tarde a todos, fiquem com Deus”.

Os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Eduardo Girão (Novo-CE), que convocaram a audiência, também convidaram Alexandre de Moraes e seus ex-juízes auxiliares Airton Moreira e Marco Antônio Vargas, mas eles também não compareceram. Apenas participaram os jornalistas Glenn Greenwald e Sérgio Tavares. 

O primeiro foi um dos autores das reportagens da Folha de S.Paulo e o segundo recentemente divulgou vídeos de uma conversa em que Tagliaferro revelava ao também jornalista Oswaldo Eustáquio o medo que tinha de ser morto.

Durante a audiência, o senador Magno Malta (PL-ES) reproduziu outro áudio de Tagliaferro enviado durante a audiência para o jornalista Allan dos Santos, em que também revelou a disposição de contar mais sobre o que sabe.

Durante a audiência, vários parlamentares defenderam o impeachment de Moraes, mas reconheceram que, nesta legislatura, não há número suficiente de senadores para avançar com a medida.

Para Glenn Greenwald, Moraes criou clima de medo e intimidação no Brasil

Durante a audiência, Glenn Greenwald foi questionado sobre as reportagens que produziu sobre o gabinete de Moraes e fez comentários sobre a atuação do ministro. Afirmou que foi criado no Brasil um clima de medo em relação ao magistrado.

“Eu percebi muito rápido que tem muitas pessoas, do mundo jurídico, que expressaram críticas sobre Moraes de forma privada, mas quando perguntei se queriam se manifestar publicamente, pessoas poderosas, com muitas exposição, disseram que não queriam, por temer consequências legais também. Esse foi o clima criado”, afirmou.

Ele lembrou do caso do deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS), presente na audiência, que passou a ser investigado depois de criticar Alexandre de Moraes e o delegado Fabio Shor na tribuna da Câmara. “Sei que muitas pessoas têm medo de ser alvo do ministro também”.

Greenwald afirmou que o ministro passou a criminalizar opiniões não apenas de seus críticos à direita, mas a própria imprensa, criando também um ambiente de intimidação.

“Nos primeiros dias que começamos a publicar essas reportagens, ele se defendeu no STF e usou as mesmas palavras que usa para criminalizar opiniões. Disse que isso foi feito por uma organização criminosa com objetivo de destruir as instituições, que estaria ofendendo a honra do Supremo... Ele sempre está interpretando qualquer crítica, qualquer reportagem, qualquer denúncia como crime. Isso obviamente estava incluindo nossas fontes, mas nós como jornalistas, inclusive o maior jornal no Brasil, a Folha de S.Paulo. Ele não tinha a menor hesitação de usar essas acusações contra jornalistas e contra um jornal muito grande, que funciona há muitas décadas”, disse.

Relatou que, na investigação sobre o vazamento das conversas de Tagliaferro com outros auxiliares, também havia previsão de que ele e o jornalista Fábio Serapião prestassem depoimentos. “Eu estou fazendo jornalismo há muito tempo, não é a primeira vez que estou fazendo jornalismo que está criando raiva em autoridades, nunca vi jornalistas sendo incluídos formalmente na investigação. Não estou falando que necessariamente somos alvos da investigação, mas obviamente quando a polícia é mandada para questionar jornalistas sobre jornalismo, isso tem impacto bem grande para criar esse clima de intimidação”.

Greenwald diz que caso de Filipe Martins pode complicar situação de Moraes nos EUA

Glenn Greenwald, que é americano, também foi questionado se a pressão internacional pode frear Moraes – o ministro passou a chamar a atenção da imprensa estrangeira, com críticas sobre seus excessos e, nos EUA, tornou-se alvo de parlamentares da direita solidários ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Eu acho que é muito importante que as maiores revistas e jornais internacionais, dos EUA, do Reino Unido, e outros lugares, estejam expressando preocupação com o [incompreensível] brasileiro por causa do Alexandre de Moraes. Mas eu tenho certeza que um dia, mais cedo ou mais tarde, vai chegar o momento quando o Trump e o governo do Trump vai focar no Brasil. Elon Musk já garantiu que Alexandre de Moraes vai ser preso e ele não é uma pessoa que esquece coisas com facilidade”, disse Greenwald, referindo-se à rixa pública entre o ministro e o empresário, que hoje integra o governo do presidente Donald Trump e é um seus conselheiros.

O jornalista americano, porém, opinou que o caso de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro preso por meses pela falsa suspeita de que teria viajado aos EUA para fugir, pode complicar a situação de Moraes. Para determinar e manter a prisão preventiva, o ministro se valeu de um registro falso de entrada no território americano.

“Como apareceu, no meio de tudo, um documento perfeito para justificar a prisão de Filipe Martins? Isso não é sobre o Brasil, isso é sobre Estados Unidos. Estou fazendo de tudo para publicar, já fiz reportagens sobre isso, estou falando com membros do Congresso, porque tem que ser investigado, porque isso pode revelar alguma coisa bem incriminadora”, afirmou.

Por fim, ele disse que muitas vezes demora tempo para mostrar que alguém muito poderoso esteja cometendo impropriedades. “Mas acontece. Não se pode esconder a verdade para sempre. Aqui no Brasil tem muitas pessoas querendo proteger Alexandre de Moraes”, afirmou, citando entrevista recente do ministro em que ele expressou, na visão de Glenn Greenwald, que nada o poderia atingir. “Um dia, mais cedo ou mais tarde, acredito que o valor do Alexandre de Moraes vai diminuir muito e ele vai ficar vulnerável, mas esse momento ainda não chegou.”

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