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O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou nesta quarta (16) que apresentará um requerimento na Câmara para convidar o perito Eduardo Tagliaferro a prestar esclarecimentos sobre o vazamento de mensagens de práticas do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o temor que ele tinha pela própria vida por causa disso.
Reportagem exclusiva da Gazeta do Povo publicada nesta terça (15) mostra que Tagliaferro tinha medo de ser preso por ordem do ministro ou até mesmo ser morto caso contasse o que sabia. Mensagens vazadas no ano passado mostram que Moraes encomendou relatórios sobre políticos, ativistas e veículos para embasar investigações judiciais.
“Diante da gravidade dos fatos, apresentarei um requerimento para convidar Eduardo Tagliaferro a prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização da Câmara. O Brasil precisa saber da verdade”, afirmou o deputado.
Nikolas Ferreira afirma que as mensagens vazadas levantam dúvidas sobre a atuação de Tagliaferro na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que “censurou e perseguiu diversos deputados e vozes conservadoras”.
Segundo mensagens trocadas entre o perito e a esposa, Tagliaferro afirmou que “se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”, e que ele pretendia “contar tudo de Brasília” antes de morrer. “Minha vontade, é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto”, escreveu.
Entenda o caso
As mensagens foram capturadas pela Polícia Federal no inquérito contra Tagliaferro que tramita no STF. A Gazeta do Povo acessou o histórico de conversas dele com a mulher pelo WhatsApp a partir de um relatório oficial da investigação. O inquérito é público e o documento pode ser acessado por qualquer pessoa cadastrada no sistema de consulta processual do STF.
O relatório, que também é público, contém a análise dos dados extraídos do celular de Tagliaferro e nele a PF inseriu link e endereço na internet onde estão arquivos com prints das conversas dele com a atual esposa ao longo de quase oito meses, entre março e novembro do ano passado, bem como mensagens com seu advogado.
Os diálogos, de 2024, ocorreram no ano seguinte à demissão de Tagliaferro do cargo que ocupava no TSE. O perito chefiou, entre agosto de 2022 e maio de 2023, a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED).
No último dia 2 de abril, a Polícia Federal indiciou Tagliaferro pelo crime de violação de sigilo funcional com dano à administração pública, por supostamente vazar à imprensa mensagens que ele trocou com outros auxiliares de Moraes. Essas mensagens, reveladas pela Folha de S.Paulo em agosto do ano passado, mostravam como Moraes, quando presidia o TSE, encomendava relatórios de Tagliaferro que depois eram usados pelo próprio ministro para bloquear perfis e remover postagens de críticos nas redes sociais.
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As mensagens publicadas em agosto indicavam que Moraes tinha alvos pré-determinados. Na época da revelação das mensagens, o ministro afirmou que eram pessoas já investigadas no inquérito das fake news, no STF, e que, como presidente do TSE, Moraes também tinha poder de polícia para coletar provas contra os investigados.
As novas mensagens, de Tagliaferro com a atual companheira, mostram que ele não só temia o ministro, como tinha opiniões negativas sobre ele. Pelo WhatsApp, o perito desabafava com ela sobre o período em que trabalhou com Moraes, queixando-se do serviço que realizava e do ex-chefe, que chegou a xingar de “FDP”.
Tagliaferro foi demitido da AEED por Moraes em 9 de maio de 2023, um dia após ser preso em Caieiras (SP). Na noite da véspera, em casa, durante um desentendimento com a ex-mulher (com quem convivia na época) e um amigo, sua arma pessoal disparou e ele foi detido por suposta prática de violência doméstica.








