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| Foto: Felipe Werneck / Ibama

O ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, trocou farpas com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre os dados do desmatamento da Amazônia e criticou as acusações do governo sobre a suposta manipulação dos números: “O que nós usamos é publicação científica, ministro. Não balela com vocês usam, não coisa de jornalzinho ou Twitter”, disparou Galvão, que recentemente foi demitido do cargo após a polêmica com o presidente Jair Bolsonaro.

Galvão e Salles ficaram frente à frente no programa Painel, na Globonews, na noite deste sábado (10). “Não disse que os números foram manipulados. O que é manipulado é a forma de apresentar os números”, rebateu Salles. Segundo o ministro, criou-se “sensacionalismo em torno da leitura dos dados”, que “chegaram a imprensa antes que ao Ibama” (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

O ex-diretor do Inpe disse que o presidente da República foi desrespeitoso com ele e por isso sua reação foi tão dura. Ao dizer que os dados são mentirosos, “ele [Bolsonaro] está acusando todos os cientistas do Inpe de terem cometido crime de falsidade ideológica”, afirmou Galvão. “Ele me acusa de estar a serviço de uma ong internacional. Eu não sou uma criança, tenho uma responsabilidade enorme”, completou.

Galvão afirmou ainda que “qualquer dirigente de um país tem que entender que quando se trata de questões científicas não existe autoridade acima da soberania da ciência. Nem militar, nem política, nem religiosa”. Ele criticou também o aparelhamento militar no Ministério da Ciência e Tecnologia, já que ao lado do ministro Marcos Ponte foram colocados “13 militares”.

Desmatamento

O ministro Ricardo Salles confirmou que a intenção do governo é “contratar um serviço para complementar o do Inpe, nós não queremos substituir”. Galvão criticou a proposta que corre o risco de abalar a credibilidade mundial da ciência brasileira: “Admiro ele [o ministro] como servidor do governo dizer ‘vou contratar a Planet’, sem licitação, já fala ‘vou contratar a Planet’”. A Planet é uma empresa americana que opera satélites e faz monitoramento de imagens e que já foi apontada pelo ministro como possível substituta do Deter, o sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, operado pelo Inpe.

Em alternativa, Galvão sugeriu potenciar os sistemas atuais por meio da criação de um consórcio entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e o MapBiomas. O cientista e o ministro concordaram em retomar o TerraClass, projeto que monitora entre outras coisas a regeneração da floresta e que está suspenso desde 2014 por falta de financiamento.

Minérios na Amazônia

Ao citar as “grandes reservas de ouro, nióbio, cassiterita e diamante”, Salles defendeu novas regras para o desmatamento e a exploração das reservas de minérios na Amazônia. “Existem formas de fazer a exploração desses recursos naturais de maneira responsável, preservando o meio ambiente como fazem outros países”, disse. Ele citou a Noruega que explora suas reservas de petróleo no círculo polar ártico: “Quando o Brasil discute a exploração de petróleo na foz do Amazonas vira uma grande discussão vetando o próprio debate. Há dois pesos e duas medidas nesse sentido”, criticou.

Segundo o ministro, a exploração de minérios na região amazônica vai dar dinamismo econômico e ajudar a população mais pobre. “Nos últimos 25 anos o que fizemos com a Amazônia foi a política do avestruz: fazer de contas que não tem mineração e a mineração correndo solta, garimpo de toda sorte em vários lugares. Isso não começou em janeiro de 2019”, afirmou. Não fazer isso, diz o ministro, vai continuar com a pressão ilegal sobre a floresta.

A proposta gerou críticas do ex-diretor do Inpe segundo o qual corre-se o risco de repetir o que aconteceu na Serra Pelada, no Pará, onde toneladas de ouro e pedras preciosas foram retiradas em centenas de garimpos ilegais. “O que resultou daquilo? O que que ganhou a população com aquilo?”, questionou Galvão. “A Amazônia é muito rica em minérios é uma riqueza que não precisa ser tirada agora explorada agora, precisamos explorar a Amazônia usando sua biodiversidade. Os minérios, quem vai pegar são as grandes empresas, não vai dar nenhum benefício para a população pobre”, retrucou o cientista.

Fundo Amazônia

Por último, Salles fez críticas ao Fundo Amazônia, que financia projetos na região com dinheiro de outros países. “O Fundo Amazônia foi de um bilhão de dólares, agora já tem metade. Um bilhão de dólares para a Amazônia não é nada. É a mesma coisa que falar: te dou R$ 10 e resolve os problemas de São Paulo”, disparou.

Segundo o ministro, o Brasil precisaria de U$ 100 por metro quadrado da Amazônia por ano. “Dá 500 bilhões de dólares por ano. A gente resolve o problema da Amazônia imediatamente: não vai ter mais ninguém pobre, passando fome e tendo que ir para cima da floresta, cortar a madeira e fazer o garimpo para sustentar seus filhos”, disse.

Ele criticou também o Imazon que, disse, “recebeu R$ 40 milhões do Fundo Amazônia e gastou 80% com salários de seus funcionários; ou seja, virou um grande instrumento para sustentar os funcionários da própria ong”.

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