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A ditadura da Austeridade: uma esquerda que se recusa a aprender
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Oxi

Ditadura do mercado: o que seria isso? Já vimos vários “intelectuais” usando a expressão, mas alguém já parou para pensar no que se trata? Vejamos: em Cuba falta tudo, graças ao socialismo. Nos países capitalistas com livre mercado há abundância de produtos, para todos os gostos e bolsos. Basta entrar num supermercado e você se perde com tanta opção. Pronto: ditadura do mercado! Você é “obrigado” a escolher entre milhares de alternativas, submetido a muita propaganda que procura te apresentar cada alternativa com suas respectivas qualidades. Ó, céus, que horror!

O que seria, então, a ditadura da Austeridade, outra expressão que nossos ilustres “intelectuais” utilizam, como fez Verissimo em sua coluna de hoje? Novamente: nos governos socialistas, o governo avança sobre o bolso alheio com voracidade jamais vista, e também gasta o que não tem. Com isso, endivida-se, imprime papel-moeda gerando inflação, e aumenta impostos. Mas a farra é insustentável, e eventualmente as finanças públicas precisam ser ajustadas. Ditadura da Austeridade!

É como uma criança que se recusa a aceitar a “ditadura da gravidade”. Ora, onde já se viu alguém ter que respeitar essa maldita lei que nos impede de bater os braços e sair por aí voando?! Como Verissimo entende de economia tanto quanto eu de física quântica, claro que ele precisa de um apoio. E o encontra num Prêmio Nobel como Paul Krugman. Ah, nada como os falastrões e embusteiros que usam seus títulos acadêmicos para fazer militância ideológica!

A Grécia vai mal por causa da austeridade, dizem os socialistas. Uai, então por que países que fizeram mais cortes estão em situação melhor? Por que Portugal está melhor que a Grécia? Por que a Inglaterra já vai deixando a crise de lado? E por que, claro, a Alemanha, ícone da maior austeridade na região, é quem dá as cartas do jogo, sendo convocada pelos socialistas para bancar a fatura dos irresponsáveis? Perguntas “bobas”, que os socialistas jamais vão responder, por motivos óbvios. O objetivo é atacar a “ditadura da Austeridade”, assim como a “ditadura do mercado”, e também a “ditadura da gravidade”. Maldita realidade!

Mas chega a ser hilário ler a coluna de Verissimo logo depois da de Carlos Alberto Sardenberg, no mesmo jornal. Uma é a antítese da outra, e para quem tem mais de dois neurônios e um mínimo de honestidade intelectual (elimina praticamente todos os petistas), fica claro quem está certo. Verissimo usa o gancho da Grécia para afirmar que nosso “referendo” deu manutenção de “nova matriz macroeconômica”, a mesma que nos causou todos esses problemas, mas que Dilma escutou mal e chamou Levy, o “austero”.

Já Sardenberg mostra como foram esses equívocos intervencionistas de Dilma que produziram a crise atual, e como os liberais já a criticavam por isso, mostrando que daria tudo errado. Bem, deu tudo errado, mas Dilma e seus defensores se recusam a admitir isso, e insistem no ataque aos “pessimistas”, sem um mea culpa. Por Verissimo, Dilma continuava na mesma toada, sem qualquer ajuste, coisa de quem sucumbiu à “ditadura da Austeridade”.

Claro, chegaríamos na Venezuela em pouco tempo, mas talvez seja exatamente isso que Verissimo deseje, não é mesmo? Desde que ele possa continuar desfrutando das benesses que só o capitalismo pode oferecer, quem liga para o povo? Não esses “intelectuais” socialistas, por certo…

Sardenberg termina seu artigo com uma nota sobre a incoerência da esquerda grega, que usa um discurso e, no poder, precisa fazer algo diferente. O recado parece feito sob medida para o colega da página ao lado:

Dá para entender o desconforto de Alexis Tsipras e seu ministro das Finanças, Euclides Tsakalotos.

Imaginem: você faz sua formação intelectual no marxismo; inicia-se na política dizendo que a União Europeia e Zona do Euro formam uma construção neoliberal, uma falsa democracia, e que tudo se resume num sistema de dominação capitalista pelo qual os países ricos do Norte exploram os pobres do Sul. Ah, sim, e que o sistema financeiro europeu está lá para garantir os lucros imorais dos banqueiros, danem-se as pessoas. E que pregar ajuste fiscal é terrorismo de credor contra o devedor.

Aí, surpreendentemente, seu partido de extrema esquerda ganha a eleição prometendo o socialismo — e lá está você sentado à mesa com os terroristas neoliberais, tentando salvar o sistema financeiro/capitalista, prometendo ajustes e sacrifícios em troca de uns trocados a mais.

Não pode dar certo.

Não, não pode dar certo. E não vai dar. Mas novamente: quem vai pagar o pato é o povo grego, os mais pobres, e quem liga para eles? Não os “intelectuais” que escrevem baboseira sem compromisso com a verdade, e podem continuar vivendo como se nada tivesse acontecido. Esses podem seguir com seu discurso hipócrita contra a “ditadura da Austeridade”…

Rodrigo Constantino

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