A falta de sentido do nosso Fundo Soberano e seu enorme custo

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Após constatar que 90% da carteira de ações do nosso Fundo Soberano do Brasil estão concentrados em um só papel, o Banco do Brasil, vale desenvolver melhor o absurdo que tal instrumento representa para um país com nossas características. Abaixo, um trecho da carta da Empiricus Research de hoje:

Aqui, deixo três ponderações sobre o fundo soberano, mais uma das excrescências da política econômica brasileira:

1) Fundo soberano só faz sentido em país superavitário em transações correntes, sendo tradicionalmente criado para evitar a chamada doença holandesa; obviamente, não é o caso brasileiro, que tipicamente convive com a necessidade de poupança externa;

2) O fundo soberano, se é usado como uma poupança qualquer, em que se acessa à primeira necessidade, não faz sentido de existir. É como criar uma poupança em separado para o filho e usar para comprar um carro novo; e

3) Se você cria um fundo soberano para ajudar-lhe em momentos de baixa de cíclico, não deve fazer, nele, investimentos cíclicos, como as ações do Banco do Brasil. Caso contrário, via de regra, você vai vender ações na baixa e comprar na alta. Aula básica de finanças.

Explicando melhor para os mais leigos em finanças:

1) Quando um governo tem superávit em conta corrente, pode fazer sentido ele criar um fundo desses para investir em papeis sólidos e garantir um colchão de proteção em épocas de vacas magras, se a bonança virar, mas não faz sentido um país que precisa importar poupança de fora para fechar suas contas criar uma “poupança” extra;

2) Quando o país cria tal poupança, pois tem recursos sobrando, não deve mexer nela em hipótese alguma, à exceção de uma eventualidade catastrófica mesmo, análogo a pais que separam um excedente mensal para garantir a faculdade do filho;

3) O investimento desse fundo deve ser em ativos de baixo risco, justamente porque o foco é muito de longo prazo, e não faz sentido especular com ações de estatais extremamente voláteis.

Em suma, o que o governo do PT fez com o Fundo Soberano do Brasil é mais do que errado; é irresponsável, sem sentido algum, um absurdo! O resultado está em seu péssimo desempenho. Segundo o relatório do primeiro trimestre de 2014, o FSB não consegue nem mesmo acompanhar o “benchmark” da TJLP, extremamente camarada:

Fonte: Tesouro Nacional

Se o FSB seguisse a rentabilidade medíocre da TJLP, que não compensa nem mesmo nossa elevada inflação no período, era para ele ter quase R$ 2,5 bilhões a mais no final do primeiro trimestre de 2014. O custo de oportunidade é enorme. O Tesouro se financia pagando algo como 10% ao ano, e investe no FSB rendendo menos da metade!

Um leitor definiu bem: é como sacar do cheque-especial para aplicar na poupança! No caso, o governo “aplica” na poupança da gente…

Rodrigo Constantino