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A imoralidade ideológica
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Por Jocinei Godoy, publicado pelo Instituto Liberal

Dizem que os termos “Direita e Esquerda” utilizados para significar de algum modo o posicionamento político contemporâneo, não carregam em si mesmos qualquer teor de imoralidade. Os que assim pensam preservam a pureza de sua ideologia política, imputando a responsabilidade por qualquer desgraça associada à sua ideologia às pessoas que não compreenderam com exatidão os seus fundamentos teóricos.

Esse tipo de pensamento que tenta blindar a ideologia contra críticas e responsabilizações por erros a ela associados não se sustenta, uma vez que toda ideologia é formada por um corpo de ideias e ideias são pensadas por pessoas. Logo, se as ideias que formam determinada ideologia se assentam na imoralidade, fatalmente a práxis desta ideologia resultará inevitavelmente em ações imorais.

Tomemos o marxismo como exemplo. O Manifesto do Partido Comunista, escrito em 1848 por Marx e Engels, começa estimulando uma visão histórica de mundo que se centra no enfrentamento entre classes e termina com este mesmo enfrentamento violento. Em seu inicio, o Manifesto diz: “[…] A história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. Já em seu final o mesmo Manifesto conclui: “Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista!”.

Há inúmeros escritos de Marx e Engels, de Lênin, dos teóricos marxistas posteriores como Louis Althusser, bem como os da Escola de Frankfurt, que endossaram o uso explícito da violência e da bandidagem para atingir os “propósitos puros” de suas ideologias de base marxista. Basta uma simples pesquisa a partir dos termos marxismo – violência – proletariado que você verá um vasto batalhão de apologetas marxistas defendendo o uso da violência para a instauração da sociedade sem classes.

Isto posto, voltemos ao germe do marxismo que infectou desastrosamente o Ocidente, a saber, a ideia de luta de classes. Desde os escritos marxianos até os escritos marxistas contemporâneos houve várias transmutações operadas e legitimadas pelo uso da dialética própria do marxismo. Entretanto, o germe da disputa e da eliminação do outro continuou mais firme do que nunca. Eis o ponto nevrálgico que torna esta ideologia ontologicamente imoral. É claro que alguns embarcam no ideário marxista por não gostarem de trabalhar – não arrumam o próprio quarto e querem mudar o mundo! – e outros por terem ressentimento do sucesso alheio – que paga a conta do welfare state.Entretanto, a ideia de eliminação do outro ainda é o ponto imoral de maior prejuízo para os que aderem a esta ideologia.

Por outro lado, a propaganda e a capacidade de articulação próprias do uso da dialética marxista, seja nos escritos, seja na retórica utilizada por seus ideólogos, mascaram este germe maligno com a autocolagem de rótulos positivos e a ostentação de bandeiras humanitárias. É por isso que a maioria dos estudantes e professores das universidades flertam acriticamente com as vertentes do marxismo. O que aparece para eles é apenas a “boa intenção” das teorias marxistas disseminada pelos principais canais de informação e formação intelectual, respectivamente, a mídia e a academia. Ao olhar para um mundo desigual e cheio de misérias, o acadêmico incauto é convidado a vestir a camisa da esquerda, acreditando ser ela a porta-voz dos fracos e oprimidos.

Sob o simulacro de defesa dos oprimidos e minorias, aqueles que incorporam a ideologia política de esquerda não percebem que, ao comprar todo o pacote ideológico, estão servindo como marionetes para a causa ideológica que, antes de lutar pela igualdade, visa desestabilizar toda a ordem moral vigente para implantar suas estratégias de controle em todas as facetas da sociedade. Por este motivo, encontramos muita gente boa militando na esquerda, porém sem reconhecer o fundamento asqueroso desta ideologia.

Nesta esteira, o fenômeno conhecido como politicamente correto e o controle das metanarrativas impostas pela esquerda ajudam a empurrar o “fantasma do discurso de ódio” sempre para os outros. Nunca são os integrantes do seu partido/ideologia que lançam discursos de ódio. Para eles não é o que se fala que é discurso de ódio, mas quem fala que determina se o discurso é de ódio ou não.

Como o germe da luta de classes está internalizado em todas as variantes da ideologia marxista, não é sem razão que movimentos radicais de esquerda, a exemplo do feminismo radical e de tantos outros, não se contentam em coexistir com seus “oponentes” (o problema não é a atitude machista, mas o próprio macho, sacou?). Assim como dito no Manifesto do Partido Comunista, os efeitos desse germe letal resultam na impossibilidade de coexistência pacífica entre grupos que se arrogam opostos, uma vez que, a instauração do tempo de paz na Terra para todo o sempre só pode ocorrer com a completa destruição da “burguesia”.

Diante disso, não é difícil concluir que determinada ideologia possa neutralizar a capacidade cognitiva das pessoas sobre o certo e o errado. Até porque na Modernidade muitos teóricos se prestaram a inverter a noção de vício e virtude, assim como fez o próprio Nietzsche, tornando “moral” as ações dos imorais. Quem cai nessa armadilha ideológica transforma pequenas falhas dos outros em falhas brutais, ao mesmo tempo em que não consegue enxergar as desgraças e brutalidades praticadas pelo próprio partido/ideologia de que faz parte.

Portanto, a ideologia como o resultado de um corpo de ideias pensadas pelos seus pais fundadores pode carregar em si certa neutralidade ou pode ser totalmente imoral, mesmo que possua boa aparência e ativismo em prol de ideais positivos. Infelizmente, este é o caso da esquerda enquanto ideologia política calcada na ideia de luta de classes, que continua arrastando pessoas em todo o mundo sob a retórica do inalcançável final feliz.

Sobre o autor: Jocinei Godoy é formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Independente de Campinas-SP; estudante de Filosofia na PUC-Campinas-SP; e Sócio da Evolução Consultoria.

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