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A "malaise" francesa: décadance avec élégance
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Em meu livro Privatize Já, escrevi no final do capítulo sobre as privatizações francesas:

Cabe notar que a França ainda não escapou totalmente do risco de decadência. Nicolas Sarkozy foi eleito com uma plataforma liberalizante, mas não foi capaz de entregar o prometido, devido às resistências de grupos organizados. Com a crise europeia, o país ameaça retomar sua paixão estatizante. A eleição do socialista François Hollande sinaliza esta intenção, e sua retórica tem sido um tanto retrógrada: taxar ainda mais os ricos, dificultar a vida das empresas, conceder benesses estatais aos empregados, reduzir a idade de aposentadoria etc. Isso em um país que já tem carga tributária acima de 50% do PIB e déficit fiscal perto de 5% do PIB, sem falar de uma taxa de desemprego acima de 20% entre os jovens, maiores vítimas deste modelo engessado pelos sindicatos.

Se ele realmente abandonar o pragmatismo e abraçar um projeto socializante, então nem mesmo os mais de 15 milhões de turistas internacionais que despejam todo ano seus dólares em uma das mais visitadas cidades do mundo, a “cidade do amor”, serão capazes de evitar a decadência francesa. Ainda que charmosa.

Essas palavras ecoaram em minha memória ao ler a notícia sobre a nova lei aprovada na França:

O parlamento francês aprovou nesta quinta-feira, com voto unânime no Senado, uma medida que proíbe os distribuidores de livros em série, em particular a Amazon, de oferecer descontos que deixem os preços da obras abaixo daqueles fixados para as livrarias no país. A emenda à chamada lei Lang, de 1981, tem por objetivo impedir que Amazon ofereça desconto de 5% e frete grátis aos seus clientes. Ela determina que os descontos aos livros comercializados on-line não poderão superar 5% ou ser acompanhados de outros benefícios. O texto prevê ainda que o frete apenas poderá ser gratuito nas ocasiões em que as despesas com o envio do livro não superarem o equivalente a 5% do valor do produto.

Ou seja, em nome da “proteção” dos interesses nacionais, o governo francês resolve punir o consumidor, obrigando-o a pagar mais caro pelo livro eletrônico. Logo a França, que se gaba de ter um povo educado e estimular a leitura, criando obstáculos para a… leitura!

A gestão de Hollande só dá tiro no pé. Não podemos esquecer do aumento de impostos sobre os mais ricos que, junto com normas mais perversas levou a um verdadeiro êxodo de empreendedores do país. O governo conseguiu afugentar justamente aqueles que criam as riquezas!

Essa “malaise” francesa foi também o tema da coluna de Marcos Troyjo na Folha hoje. O diplomata deu alguns exemplos da doença econômica cada vez mais evidente no país, que não é mais reconhecido por muitos de seus antigos cidadãos:

Os franceses ressentem-se da dívida pública e desemprego que só aumentam. Dividem-se quanto à imigração do Magreb ou da Europa do Leste. Muitos não se reconhecem mais no país em que nasceram.

Jovens doutores não encontram emprego na iniciativa privada. Recorrem à mal remunerada colocação no desestimulante serviço público –totalmente ossificado pelos sindicatos.

Eis a palavra-chave: sindicatos. O sindicalismo afundou a França! O poder sindical é enorme, e em conluio com os socialistas, criou inúmeros obstáculos à iniciativa privada ao longo do tempo. O “welfare state” criou regalias insustentáveis, o setor público se expandiu demasiadamente, a carga tributária é absurda, e a economia perdeu dinamismo. Diante deste quadro lamentável, eis a solução do socialista:

A ideia de Hollande, que também vai de encontro a articulações do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, permitiria a implementação de uma política social e industrial com base no conceito de empresas “campeãs europeias” – à semelhança da estratégia de nosso BNDES e seu (agora abandonado) favoritismo às campeãs nacionais.

Os esquerdistas olham sempre para o estado como solução para os problemas criados por excesso de estado. Seria cômico, não fosse trágico. Como resumiu um leitor, atualmente a França não passa de um Brasil de grife…

Rodrigo Constantino

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