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A presidente deveria interditar a economista, mas é pouco provável que aconteça
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Quem manda aqui sou eu!

Em artigo publicado no GLOBO, o economista Kenneth Rogoff comenta sobre o status de celebridade dos banqueiros centrais da atualidade. Levanta algumas hipóteses para explicar o fenômeno, como o enfoque da mídia para atender aos interesses de seus anunciantes e o uso como bodes expiatórios que os políticos fazem desses tecnocratas. Diz ele:

A maioria dos dirigentes de BCs põe o foco em crescimento, inflação e estabilidade financeira, não necessariamente nessa ordem. A bolha política é um produto inevitável da independência do banco central, e evitar que a política monetária se torne um alvo dos funcionários eleitos requer esforço constante. A bolha da previsibilidade é, talvez, a mais complicada para navegar, embora meu instinto diga que menos é mais. Importância exagerada é um tipo de bolha que os presidentes de BCs deveriam estar sempre dispostos a estourar.

A crença de que os gestores da política econômica são oniscientes é realmente tola e perigosa, mas sem dúvida é mil vezes melhor ter bons tecnocratas com independência em vez de os próprios políticos comandando as decisões econômicas. O risco de abuso populista neste caso é total. Por isso mesmo os países desenvolvidos possuem bancos centrais independentes e costumam indicar ministros da Fazenda com força e autonomia também. Mesmo que tais “celebridades” ofusquem um pouco o próprio presidente.

Não foi o que fez a presidente Dilma em seu primeiro mandato. Preferiu ela mesma ser a ministra de fato e colocar um presidente no BC sem força, subserviente aos anseios do Planalto. O resultado está aí: estagflação e perda de credibilidade. Guido Mantega é um futuro ex-ministro contando os dias para sair, sem que Dilma tenha nomeado seu sucessor. E Alexandre Tombini demonstrou completa falta de autonomia ao subir os juros logo depois das eleições, sem critério técnico para tanto (o cenário justificava uma alta antes).

Paulo Guedes, em sua coluna de hoje, fala do dilema de Dilma, justamente essa necessidade que a presidente tem de interditar a economista. Dilma escolheu paus-mandados e preferiu ser a própria gestora da economia. Tornou-se, assim, indissociável do equivocado rumo tomado pela economia. “O segredo de gestões bem-sucedidas no governo e nas empresas é a escolha de gente preparada para a formulação e execução das melhores estratégias”, escreve Guedes.

Ou seja, os líderes bons se cercam dos melhores e delegam poder a eles, enquanto os medíocres ficam cercados de servos obedientes. Para Guedes, Dilma deveria ouvir Lula para não repetir Cristina Kirchner. Deveria aceitar um nome forte e independente para tocar a área econômica. Mas, para tanto, teria de deixar de ser a arrogante economista que acha que sabe das coisas, e assumir o papel de líder política. Pouco provável.

Fabio Giambiagi, em coluna no mesmo jornal, também defende a tese de que agora é a hora da política, de o governo mostrar capacidade de liderança, apresentar reformas necessárias e explicar aos parlamentares e à opinião pública as suas razões. Diz ele:

Não precisamos de indivíduos que sejam candidatos para defender diante da população o que as pesquisas de opinião indicam que ela quer. Para isso, bastam as empresas que pesquisam a opinião do eleitorado. O que o Brasil requer é um debate que se trave no Congresso em torno de agendas, em que cada grupo político exponha suas idéias e o cidadão acompanhe e opine, como ocorre em qualquer democracia.

Goethe dizia que “as frases que os homens estão acostumados a repetir incessantemente acabam se tornando convicções e ossificando os órgãos da inteligência”. Está na hora de perceber que, por trás da retórica vazia das grandes platitudes, há apenas isso: grandes platitudes. Estamos completando o ciclo de crescimento iniciado em 2004 e precisamos de propostas firmes, que possam ser defendidas, com convicção e empenho, diante do Congresso Nacional. No Parlamento brasileiro, quando o Governo articula e convence, ele vence. E — nunca é demais lembrar — o papel da liderança política é liderar. Fechadas as urnas, é isso o que o país espera.

É isso que esperam todos aqueles mais esclarecidos. Mas será que é aquilo que esse governo fará? Pouco provável. Para tanto, Dilma deveria se mostrar uma líder responsável, com humildade para assumir seus vários erros, com capacidade de delegar para terceiros o poder econômico, com disposição para enfrentar os grupos de interesse no desafio de aprovar reformas necessárias. Alguém acha mesmo que Dilma fará isso? Ela teria que deixar de ser… Dilma!

Aplaudo o esforço desses economistas de trazer o bom senso para o debate, mas invejo um pouco o otimismo. Otimistas vivem com mais esperança e, portanto, melhor. Até o dia da decepção, claro. Confesso não ver a menor possibilidade de Dilma seguir nesse caminho. A presidente jamais terá coragem de interditar a economista desenvolvimentista que habita seu corpo e mente. É de sua natureza tal ranço ideológico. Acho melhor os economistas e os empresários se prepararem para o plano B mesmo…

Rodrigo Constantino

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