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A queda de "gigantes": Eike Batista e Lula tomam chá de sumiço
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Eike Batista e Lula: arrogância fatal

Por onde andam Lula e Eike Batista? Há mais semelhanças entre ambos do que se poderia imaginar em um primeiro olhar. Os dois são filhos do mesmo fenômeno, um na política e o outro na economia. Os dois se julgaram mais poderosos e brilhantes do que são em suas respectivas áreas. Os dois se deixaram levar pela extrema arrogância. E agora, os dois saem de fininho de cena, tentam se manter enclausurados, resguardados das crises que os engoliram e expuseram suas reais fraquezas.

Eike, o “Midas”, teve seus bens bloqueados, e agora alega ter um patrimônio negativo de R$ 1 bilhão! Réu em ação penal, acusado de manipular as ações do grupo, ele luta para preservar alguma parte da fortuna que já teve, fruto da bolha Brasil. Sobre sua situação delicada de hoje, Eike disse: “Fui educado como um jovem de classe média. E a gente não perde isso”. Mas quem observava o empreendedor nos anos de euforia não via nada disso. Humildade e pé no chão eram coisas que passavam longe do arrogante que seria o “homem mais rico do mundo”, sem saber apenas se passaria Carlos Slim e Blll Gates pela esquerda ou pela direita.

Já Lula, o carismático “gênio” da política, andou bem sumido, e resolveu aparecer na Petrobras, com um macacão laranja como o da estatal, para um comício chapa-branca escancarado. A ideia era realizar um “abraço” simbólico em torno do prédio da empresa, mas pela quantidade minguada de “militantes” (essa gente é paga para estar ali), não deu nem para um aperto de mão. Lula não consegue mais encher comícios como antes. As pessoas cansaram dele. E de seus postes, então, nem se fala! Como já disse aqui, Lula vai conseguir destruir o PT e apagar todos os postes que acendeu com a ajuda da bolha Brasil.

Em julho de 2013, escrevi para o GLOBO um artigo fazendo um paralelo entre ambos. Vale reproduzi-lo aqui, quando a queda dos dois “gigantes” parece cada vez mais evidente e inevitável:

A queda

Eike Batista está para a economia como Lula está para a política. O “sucesso” de ambos, em suas respectivas áreas, tem a mesma origem. Trata-se de um fenômeno bem mais abrangente, que permitiu a ascensão meteórica de ambos como gurus: Eike virou o Midas dos negócios, enquanto Lula era o gênio da política. Tudo mentira.

Esse fenômeno pode ser resumido, basicamente, ao crescimento chinês somado ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. As reformas da era FHC, que criaram os pilares de uma macroeconomia mais sólida, também ajudaram. Mas o grosso veio de fora. Ventos externos impulsionaram nossa economia. Fomos uma cigarra que ganhou na loteria.

A demanda voraz da China por recursos naturais, que por sorte o Brasil tem em abundância, fez com que o valor de nossas exportações disparasse. Por outro lado, após a crise de 2008 os principais bancos centrais do mundo injetaram trilhões de liquidez nos mercados. Isso fez com que o custo do dinheiro ficasse muito reduzido, até negativo se descontada a inflação.

Desesperados por retorno financeiro, os investidores do mundo todo começaram a mergulhar em aventuras nos países em desenvolvimento. Algo análogo a alguém que está recebendo bebida grátis desde cedo na festa, e começa a relaxar seu critério de julgamento, passando a achar qualquer feiosa uma legítima “top model”.

Houve uma enxurrada de fluxo de capitais para países como o Brasil. A própria presidente Dilma chegou a reclamar do “tsunami monetário”. Os investidores estavam em lua de mel com o país, eufóricos com o gigante que finalmente havia acordado. Havia mesmo?

O fato é que essa loteria permitiu o surgimento dos fenômenos Eike Batista e Lula. Eike, um empresário ousado, convenceu-se de que era realmente fora de série, que tinha um poder miraculoso de multiplicar dólares em velocidade espantosa, colocando um X no nome da empresa e vendendo sonhos.

Lula, por sua vez, encantou-se com a adulação das massas, compradas pelas esmolas estatais, possíveis justamente porque jorravam recursos nos cofres públicos. A classe média também estava em êxtase, pois o câmbio se valorizava e o crédito se expandia. Imóveis valorizados, carros novos na garagem, e Miami acessível ao bolso.

O metalúrgico, que perdera três eleições seguidas, tornava-se, quase da noite para o dia, um “gênio da política”, um líder carismático espetacular, acima até mesmo do mensalão. Confiante desse poder, Lula escolheu um “poste” para ocupar seu lugar. E o “poste” venceu! Nada iria convencê-lo de que isso tudo era efeito de um fenômeno mais complexo do que ele compreendia.

Dilma passou por uma remodelagem completa dos marqueteiros, virou uma eficiente gestora por decreto, uma “faxineira ética”, intolerante com os “malfeitos”. Tudo piada de mau gosto, que ainda era engolida pelo público porque a economia não tinha entrado na fase da ressaca. O inverno chegou.

O crescimento chinês desacelerou, e há riscos de um mergulho mais profundo à frente. A economia americana se recuperou parcialmente, e isso fez com que o custo do capital subisse um pouco. Os ventos externos pararam de soprar. Os problemas plantados pela enorme incompetência de um governo intervencionista, arrogante e perdulário começaram a aparecer.

A maré baixou, e ficou visível que o Brasil nadava nu. O BNDES emprestou rios de dinheiro a taxas subsidiadas para os “campeões nacionais”, entre eles o próprio Eike Batista. O Banco Central foi negligente com a inflação, que furou o topo da meta e permaneceu elevada, apesar do fraco crescimento econômico. Os investidores começaram a temer as intervenções arbitrárias de um governo prepotente, e adiaram planos de investimento.

A liquidez começou a secar. O fluxo se inverteu. E o povo começou a ficar muito impaciente. Eike Batista se viu sem acesso a novos recursos para manter seu castelo de cartas. As empresas do grupo X despencaram de valor, sendo quase dizimadas enquanto as dívidas, estas sim, pareciam se multiplicar. A palavra calote passou a ser mencionada. O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro.

Já a presidente Dilma, criatura de Lula, mergulhou em seu inferno astral. Sua popularidade desabou, os investidores travaram diante de tantas incertezas, e todos parecem cansados de tamanha incompetência.

Eike e Lula deveriam ler Camus: “Brincamos de imortais, mas, ao fim de algumas semanas, já nem sequer sabemos se poderemos nos arrastar até o dia seguinte”.

Rodrigo Constantino

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