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Aos poucos, a liberdade se esvai
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Por Julio dos Santos, publicado no Instituto Liberal

Consta que grande parte da população russa jamais soube da existência dos gulags e, por não ter a certeza de sua existência, não puderam acusar o seu grande líder, Stalin, de um ato tão desumano – afinal, ele estava fazendo a revolução para melhorar a vida do povo.

Consta que a população da União Soviética jamais teve a certeza de que milhões de ucranianos foram dizimados pelo seu governo e que toda notícia ruim vinda desta região nada mais era do que difamação.

Consta que, ao fim do regime nazista na Alemanha, havia uma significativa parcela da população alemã que não tinha a certeza sobre se existiam campos de concentração. Dizem que estas pessoas jamais acreditaram em tamanha atrocidade porque Hitler foi eleito dentro do processo democrático, então não teria poder para aniquilar milhões de cidadãos.

Consta que em Cuba, durante todos estes anos de comunismo, jamais deixou de haver intelectuais com alto grau de instrução que defendessem o regime de Fidel, dizendo que o povo está melhor com ele. Isto ocorre porque não há certeza de que a população realmente pudesse estar melhor se estes vivessem num ambiente de liberdade.

Na Venezuela, em nenhum momento, houve a ruptura para a criação de um regime ditatorial. Nunca foi dito que, a partir de determinado instante, o país estaria sobre as arbitrariedades de um ditador. Porém, mesmo estando sob ditadura, uma parcela significativa da população ainda apoia um ditador, pois não há certeza se ele realmente é um ditador.

Na verdade, estes exemplos simples e diretos mostram que, mesmo havendo uma parcela expressiva da população apoiando um ditador, jamais eles aceitarão que é um ditador. Parte da população, vivendo sob um véu de inocência, infantilidade e negação da realidade, jamais aceitará os passos mais que evidentes que um ditador segue em seu caminho.

Estas pessoas se escondem atrás da busca por uma certeza que não existe: a revelação pública do ditador sobre as verdades dos seus planos. Os passos para um regime ditatorial são dados de forma cuidadosa, adaptando à realidade local, atacando, ponto por ponto, as instituições vigentes até que este alcance o poder almejado.

Parte destes defensores do regime poderá deixar de seguí-lo, assim que fossem se dando conta do seu poder; talvez até a maioria se dê conta tarde demais das reais intenções do governante, porém alguns alertas são importantes: 1. jamais haverá o momento em que o ditador confessará ser um ditador; 2. sempre haverá pessoas que defenderão o regime; 3. sempre haverá a possibilidade de o regime intensificar seu modo de atuação.

Desta forma, respondendo a pergunta que já me foi feita, se estamos sob um regime ditatorial, digo: não sei, pois não existe o tal ponto de corte, mas é certo que parte das medidas necessárias para o início do tal regime já foi colocada em prática e parte da população está aplaudindo este grupinho de tiranos.

“Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo” (George Santayana)

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