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Eles ferraram de vez com o que já era bem ruim
Eles ferraram de vez com o que já era bem ruim| Foto:

Quando ingressei no curso de Economia da PUC, em 1994, debatia-se intensamente o jovem Mercosul. Lembro de trabalhos sobre o tema, e lembro também de eu, que nunca tive coração e já era liberal desde cedo, espantado com o grau de burocracia e amarras do tratado. Por que não abraçar logo o livre comércio e mergulhar na globalização? Não conseguia entender bem o propósito de tanta intervenção em algo que se pretendia para liberar o comércio.

Pois bem: o tempo passou, eu estudei mais, aprendi economia de verdade como autodidata lendo os “austríacos”, e descobri que o Mercosul era ainda pior do que eu já imaginava. E ficou pior, bem pior, quando o lulopetismo chegou ao poder com seu DNA ideológico socialista. O que já era ruim piorou bastante, e o Mercosul virou uma verdadeira camisa de força ideológica para o Brasil, impedindo a redução de nossas práticas protecionistas.

Cheguei a fazer uma analogia em coluna da VEJA impressa: se alguns países são “rabo de baleia” quando se trata de comércio internacional, segundo a crista da onda globalizante, e outros preferem ser “cabeça de sardinha”, liderando um pequeno grupo fechado e insignificante, o Brasil petista tinha inovado e transformado o Brasil em “rabo de sardinha”.

Ou seja, éramos – e somos – o otário de um grupo fechado, os bundões que obedecem a países como Bolívia e Argentina, que deixam seus governos “camaradas” abusarem de nossas empresas sem reação alguma. Uma vergonha! Quem lembra de Evo Morales falando grosso e até invadindo propriedade da “nossa” estatal Petrobras enquanto o governo petista só sorria de volta para o “companheiro”? Pois é…

Em artigo publicado hoje no GLOBO, Rodrigo Montoya, economista que foi ministro da Fazenda da Colômbia, toca nos pontos certos das “rachaduras do Mercosul”, e mostra porque há espaço para algum otimismo. O liberal Mauricio Macri, que substituiu a socialista Cristina Kirchner no comando da Argentina, sinaliza na direção correta. O Mercosul precisa mudar, ficar mais parecido com a Aliança do Pacífico. Diz Montoya:

O Mercosul, o esquema de integração econômica que criaram Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, ao qual se somou a Venezuela, está longe de ser um experimento bem-sucedido. Sua trajetória esteve marcada por sobressaltos, desavenças e retrocessos. Em parte, isso se deve a falhas iniciais de desenho institucional; em parte, às assimetrias entre seus sócios; e em parte, ao excesso de protecionismo. Durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, no Brasil, e de Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina, os objetivos estritamente comerciais foram obscurecidos por convergências ideológicas e posturas antiocidentais, que se acentuaram com a entrada da Venezuela ao grupo em 2012. Num momento de euforia bolivariana, chegou-se a propor a inclusão de Cuba no Mercosul.

[…] O erro inicial do desenho consistiu na insistência em estabelecer um mercado comum, em vez de uma área de livre comércio. A adoção de uma tarifa externa comum alta implicou optar pelo desvio do comércio em direção ao resto do mundo. […] Outro inconveniente do desenho do Mercosul foi a proibição de assinar acordos individuais de livre comércio com países de fora. 

[…]

O presidente Mauricio Macri pediu que a Argentina seja aceita como país observador na Aliança do Pacífico. Propõe-se a comparecer em 30 de junho da reunião de presidentes do grupo em Santiago do Chile. Esta aproximação pode ser o primeiro passo rumo à transformação do Mercosul em uma área de livre comércio em escala latino-americana.

Enquanto o Brasil petista se aproximava de Venezuela e Cuba, contaminando de vez o já ruim Mercosul, países como Chile, Peru e Colômbia selavam a Aliança do Pacífico, que os aproximava dos Estados Unidos e da Europa. O Brasil se deixou levar pela ideologia vermelha, antiglobalização, contrária ao livre comércio e também antidemocrática. O Mercosul virou um monstro protecionista, algo mortal para um país já bastante fechado ao comércio global.

O Brasil não precisa do Mercosul; precisa de livre comércio. Precisa reduzir tarifas e barreiras alfandegárias. Precisa diminuir o grau de protecionismo de sua economia, abrir-se ao mundo, mergulhar de cabeça na globalização, palavra que é pecado nas hostes esquerdistas. Se alguém ainda tem dúvida quanto às vantagens da globalização, que tal comparar a Coreia do Sul, extremamente aberta, com sua irmã do norte, o país mais fechado do mundo e, portanto, “protegido” contra a maldita globalização?

Rodrigo Constantino

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