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Brexit: o hotel California da União Europeia
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Você pode até fazer o check-out, mas nunca pode de fato sair dele. Assim diz a famosa música “Hotel California”, do Eagles. É exatamente como a União Europeia. Os britânicos votaram em plebiscito pela saída, mas o Brexit não é aceito, as autoridades patinam no acordo sobre os detalhes, e o establishment já propõe uma “solução” incrível: novo plebiscito, para ver se dessa vez o povo vota “certo”.

Em seu editorial de hoje, O GLOBO vai justamente nessa linha. Após chamar os que votaram pelo Brexit de alienados e ignorantes, indiretamente, porque teriam votado com base apenas em emoções e foram enganados por populistas de direita, o jornal carioca apresenta a melhor saída para o imbroglio: novo plebiscito para ver se dessa vez os idiotas tomam vergonha na cara e votam de acordo com o desejo das lideranças “progressistas”. Diz o jornal:

De certeza, até agora, apenas a convicção de que o voto do referendo em 2016, que aprovou o Brexit por estreita margem, 51,9% a 48,1%, foi emocional, impulsionado por promessas irreais do brexitistas na linha de que bastaria comunicar à UE a intenção de sair que a imigração britânica passaria a barrar quem quisesse. Não era nem nunca será tão simples .

Por uma série de razões — étnicas, religiosas e, principalmente, econômicas — britânicos também foram inoculados pelo vírus da xenofobia. Foram manipulados pela ideia ilusória de que bastaria sair da UE para fechar as portas, religar alto-fornos de siderúrgicas ultrapassadas, reabrir estaleiros obsoletos. Mas até 29 de março há tempo para muito debate, nos espaços institucionais, como o Legislativo, a imprensa, a sociedade. Os que se iludiram com a ideia de que bastaria se desconectar da UE e fechar as fronteiras já devem ter percebido que há um custo para o divórcio: barreiras a exportações britânicas para o continente, a exigir duras negociações de acordos comerciais; perda de grandes vantagens do centro financeiro mundial de Londres (a City), que hoje pode operar no continente sem custos adicionais etc.

O tempo permite, espera-se, reflexão. Dados que o Banco da Inglaterra, BoE, o BC britânico, divulgou há pouco são importantes para se entender o tamanho do problema que pode ser o Brexit: se houver uma ruptura, em 29 de março, sem qualquer acordo, acontecerá uma recessão na Grã-Bretanha maior do que na crise financeira mundial a partir de 2008/2009. A depender da restrição à imigração, intenção dos xenófobos, a Grã-Bretanha padecerá uma perda no PIB a longo prazo. Bem como uma queda de produtividade, segundo técnicos do BoE. Não faltam subsídios para os políticos britânicos decidirem. E ainda há uma possibilidade, mesmo remota, de novo referendo, com a sociedade mais informada. Esta é a melhor alternativa.

O establishment alertou: a crise vai ser grande se o Reino Unido não continuar submisso aos burocratas de Bruxelas. O globalismo precisa prevalecer contra a soberania nacional. Os “alienados”, gente como o filósofo sir Roger Scruton, que aplaudiram o Brexit, precisam entender de uma vez por todas aquilo que George Soros e Bill Clinton sabem: que é muito melhor a UE ditar todas as regras de Bruxelas, e que o estado-nação é um conceito ultrapassado.

Novo plebiscito já! Até o povo alienado escolher certo. Assim é a democracia “progressista”…

Rodrigo Constantino

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