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Bruno Gagliasso tenta “lacrar” mas feitiço se volta contra feiticeiro
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O ator Bruno Gagliasso tentou apelar para aquilo que os ingleses chamam de “virtue signalling”, ou seja, a tentativa de posar de bonzinho nas redes sociais, o que todo poser costuma fazer. No mundo da estética, tudo que importa é a percepção, não a realidade.

Gagliasso se meteu em assunto alheio para bancar o cruzado contra o racismo, defendendo a ideia de que deve haver maior fiscalização do público para inclusive pressionar empresas que patrocinam os supostos racistas. Ele só esqueceu que o mesmo poderia ser feito com ele também. Como acabou acontecendo:

Seu passado te condena? Deixou rastro nas redes sociais? Então ao menos não banque o purinho desprovido de preconceitos e o anjo do bem na patrulha politicamente correta contra os racistas do mundo todo. Não pega bem quando a hipocrisia é exposta.

Os companheiros da mídia tentaram deixar os que expuseram o passado do ator em maus lençóis, e falaram que os tuítes foram “desenterrados” ou então em “perseguição”. A reação do Projaquistão expõe o duplo padrão dessa gente: o que fazem contra os demais, e chamam de “jornalismo investigativo”, passa a ser considerado “ataques pessoais” ou “perseguição” quando é feito contra os seus companheiros.

Ora, cobrar coerência e resgatar o passado de mensagens do ator não é um trabalho de jornalismo investigativo? Não serve para comparar discurso com prática? Não é exatamente o que a mídia faz com os políticos e aqueles que pregam certos valores morais? Por que só o Bruno Gagliasso deve estar blindado, protegido desse tipo de verificação?

Uma leitora, porém, lembrou que a máquina estará a serviço do companheiro, como aconteceu até com o petista José de Abreu, que havia cuspido numa mulher num restaurante: “Pau que bate em Chico, bate em Francisco. Ele também está sendo execrado nas redes sociais. Mas como ele faz parte da patotinha de justiceiros, domingo ele tá lá no Faustão com os olhinhos azuis e o discursinho ‘sou do bem'”.

O problema, para essa gente, é que a televisão não tem mais o monopólio da “informação”, ainda que alcance muitos milhões de telespectadores. Hoje há, felizmente, as redes sociais, que servem justamente para lançar luz sobre coisas ou pessoas que a mídia adoraria manter no escuro, quando interessa.

Claro que elas servem, também, para essa patrulha politicamente correta. Estamos todos num panóptico imaginado por Bentham, sob olhares e o escrutínio de milhões de “pequenos irmãos” que podem representar uma tirania pior do que aquela do Big Brother retratada por Orwell. É a maldição da transparência excessiva.

Dionisius Amendola resumiu bem: “Redes sociais são ambientes extremamente autoritários. Se ilude quem acha que isso aqui é um paraíso de liberdade e compreensão. Somos todos Estalines aqui. Quem não entende isso, ainda não entendeu a natureza da utopia gestada no Vale do Silício”.

O mundo moderno, dominado pela tirania do politicamente correto, está muito chato, insuportável. Entendo que atores e atrizes, que vivem de aparências, precisem adotar discursos legais, “do bem”, “prafrentex”. Hoje mesmo vi alguém afirmando no programa de Fátima Bernardes que é normal amar dois, três ou mais parceiros, apenas para uma Deborah Secco concordar e, com sua filhinha no colo, acrescentar: “são pessoas mais livres”. É preciso ser muito “compreensivo” e “mente aberta”, não é mesmo?

Mas esses atores precisam se lembrar de que agora temos as redes sociais para checar suas falas e verificar se elas batem com seus atos. O ultra-esquerdista Gregorio Duviver, por exemplo, resolveu casar com a mãe de sua filha, uma concessão ao tradicionalismo inconcebível para um “moderninho” feminista como ele. Para não dar bandeira demais, porém, a cerimônia não foi numa igreja clássica, mas sim numa… padaria. É preciso ser muito “descolado” para tanto, não é verdade?

Atores costumam disputar para ver quem vai se destacar mais na defesa das “causas corretas”. Tornam-se ativistas, militantes engajados insuportáveis, e claro, hipócritas. É parte do show? Talvez. Mas é cansativo, e como eles gostam de se meter em política ou em nossas vidas, reagir é necessário, e parte do jogo.

Se não aguentam o calor, não podem ficar na cozinha. Não sabe brincar, não desce pro play. Quer o bônus da fama, com a imagem de bonzinho trabalhada pelos “lacres” nas redes sociais? Então vai ter que aguentar o ônus também: a exposição da farsa toda.

A alternativa é ligar o “dane-se” e bancar a autonomia, com o custo que isso representa em termos de “likes”. Martim Vasques da Cunha, escritor, constatou: “Eu sou da época na qual o Didi Mocó podia tirar sarro do Tião Macalé e da Roberta Close sem pedir perdão ao Roberto Marinho”. Eram bons tempos, tempos melhores? Há controvérsias e muitos – eu incluso – responderão que sim.

Se as mudanças são para melhor ou pior, pouco importa. O importante é que parecem inevitáveis. Um exército de cruzados moralistas está sempre a postos para verificar tudo que escrevemos nas redes sociais e nos denunciar por qualquer “escorregão moral”, segundo sua ótica ideológica. Um dos efeitos disso é tornar a vida uma chatice e forçar um comportamento artificial. Outro efeito é criar uma autocrítica que nos leva a pensar duas vezes antes de publicar algo, o que realmente pode ser saudável.

Um terceiro efeito é justamente a dificuldade de “lacrar” dos hipócritas, uma vez que as redes deixam rastro e a memória pode sempre ser resgatada. Isso exige mais humildade por parte dos moralistas “lacradores”. Fica a dica, Gagliasso…

PS: Complicada ficou a vida das empresas na hora de escolher quem patrocinar. Sempre haverá algum grupo incomodado pregando boicote a seus produtos, já que tudo virou guerra tribal. Na era da “tolerância”, tão propagada pela esquerda, já não toleramos absolutamente nada diferente do nosso credo. Parabéns aos envolvidos!

Rodrigo Constantino

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