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Carta aos eleitores moderados de centro que não gostam nem do PT nem de Bolsonaro
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Prezado leitor moderado de centro, hoje é com você que quero falar. Seu perfil é contra extremos, e sua natureza clama por soluções negociadas, prudentes e contemporizadoras. Você no fundo sente admiração pelos tucanos, apesar de andar meio cansado de sua postura. Nutre simpatia por João Amoedo, do Partido Novo, e tinha em Meirelles ou Álvaro Dias nomes razoáveis como alternativa. Talvez até mesmo Marina Silva fosse uma opção nesse cenário, certo?

Mas entenda o que está em jogo agora: a disputa se afunilou para um plebiscito sobre o lulopetismo. Não há sentido em chiar, chorar ou reclamar. É o que é. E mesmo com sua aversão ao estilo de Bolsonaro, que considera tosco e autoritário, quiçá machista e preconceituoso, é forçoso reconhecer qual a única alternativa concreta que restou na mesa. Você está mesmo disposto a contribuir para a volta do PT ao poder? Ficar no muro, agora, é ignorar que do lado esquerdo do muro tem a Venezuela. Deseja isso para o Brasil?

Entenda: não se trata de teoria da conspiração de reacionários ou sequer de especulação. São confissões feitas pelos próprios petistas. José Dirceu, falastrão arrogante, já deu o caminho das pedras: é tomar o poder, não importa o resultado das eleições. Lula quer vingança contra a Justiça, de dentro do cárcere, de onde comanda o show da candidatura de seu poste. A sigla oficial e abertamente defende o modelo venezuelano, e tem em Maduro um companheiro. É isso que quer para nosso Brasil?

Sei que você enxergava em Alckmin alguém mais comedido e até melhor gestor. Sei que morre de medo da aventura com Bolsonaro, apesar de vários sinais de moderação de sua parte. Sei que nem mesmo Paulo Guedes te tranquiliza tanto, pois o considera um ultraliberal com um plano econômico ousado demais ou inexequível. Não pretendo refutar aqui seus receios, ainda que pudesse fazê-lo (de alguns, porém, compartilho). Basta mostrar qual é a real e única alternativa que sobrou.

Mesmo que você seja um social-democrata, um “liberal progressista”, você precisa concordar, em nome do bom senso, com a tese de que o pêndulo extrapolou demais para o lado esquerdo. Ou então vejamos: você acha mesmo que as minorias estão ameaçadas em nosso país por serem minorias? Não nego o “feminicídio” ou o assassinato de homossexuais, mas convenhamos: morre gente demais de todo tipo! São mais de 60 mil assassinatos por ano, e sem distinção entre negros, gays ou mulheres. Morre geral. Não seria o caso de endurecer mais com os marginais? E mesmo que você desconfie das propostas de Bolsonaro nessa área, ele ao menos não é um símbolo de mais firmeza no combate ao crime?

Na economia é a mesma coisa: mesmo que você defenda o “welfare state” europeu, deve admitir que o paternalismo estatal se agigantou demais no Brasil, que o estado se tornou um parasita muito gordo, um fardo insuportável. Ainda que não seja um liberal aqui, não acha que é preciso ao menos reduzir o tamanho do estado, privatizar algumas estatais, diminuir privilégios e burocracia? Então: o PT certamente vai à contramão dessa receita, enquanto Bolsonaro já deixou claro que tentará seguir nessa rota reformista.

O ponto central aqui é que o esquerdismo, na economia e nos costumes, avançou tanto no Brasil nas últimas décadas que mesmo alguém de centro como você pode aceitar que uma guinada mais radical à direita, nesse momento, pode fazer sentido. O vetor resultante ainda estará apontado para a esquerda, pode ter certeza disso, até porque Bolsonaro não conseguirá fazer tudo o que quer. E, no mais, é como disse e repito: os candidatos que representam seu perfil mais moderado não têm chances concretas. É uma escolha binária agora: volta do PT ou Bolsonaro. Será mesmo indiferente?

A Venezuela bate à porta, querendo entrar. Você vai permitir? Só por sua ojeriza a Bolsonaro? Não tem mais asco ainda do chavismo? Votar em outro candidato qualquer para ficar com sua consciência tranquila é como brincar de roleta russa: não tem nada a ganhar, mas tudo a perder. Se aquela bala no tambor estiver no lugar errado, pum! Você ajudou a colocar o PT de volta no poder, e selou o destino venezuelano do Brasil. Pode conviver com isso? Seu desprezo por Bolsonaro é tão grande assim?

Por fim, um último argumento: se Bolsonaro ganhar, você pode se tornar oposição a ele no dia seguinte, e torcer para que alguém mais de centro vença após quatro anos de governo. Mas se o PT vencer, acabou a “brincadeira”, é o fim da própria democracia. A quadrilha petista virá com tudo para cima das instituições republicanas, com sede de vingança e poder. Nesse caso, com tudo que o PT já provou ser capaz de fazer, poderemos nem ter disputa em 2022, ou será uma disputa para inglês ver, de cartas marcadas. Será a morte da própria esperança da moderação. Pense nisso.

Um abraço de quem discorda de sua visão da mundo, mas que a respeita dentro dos limites democráticos e civilizados,

Rodrigo.

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