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Crianças precisam de jogos e brincadeiras criativas, não de “robôs com códigos”
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As prateleiras das lojas de brinquedos estão repletas de robôs codificados, de diversos produtos que adoram receber comandos. Pegue um livro chamado Coding for Kids for Dummies, depois baixe um aplicativo ou três para que seus filhos possam “codificar” na estrada. 

É natural desejar que nossos filhos tenham sucesso – a programação de computadores é, afinal de contas, a próxima grande novidade, e ela mal existia como uma opção de carreira quando muitos de nós nascemos. Mas nos corredores intermináveis de criaturas de codificação coloridas, perdemos de vista a verdadeira razão pela qual as crianças são inspiradas a aprender.

O foco direto e singular no ensino de crianças ao código ignora a realidade de que o desenvolvimento de software como profissão tende a ser chato, repetitivo e facilmente comoditizado. Codificar é uma profissão honrosa, mas nós acidentalmente adotamos a fantasia de que aprender a codificar é um caminho seguro para se tornar um pensador inovador e independente.

Na melhor das hipóteses, é um caminho para um trabalho estável, na pior das hipóteses, para as linhas de montagem do futuro. As habilidades que mudam vidas são aquelas que as crianças desenvolvem através de brincadeiras criativas e exploratórias. Quando cultivamos a brincadeira, abrimos as portas para as crianças se tornarem inovadoras, empreendedoras e líderes de pensamento que admiramos – e só então elas terão uma boa razão para aprender a codificar.

Esse é o começo do texto de Rob Howard, autor de Hiatus, numa tradução livre. Como alguém que sempre brincou muito com coisas criativas – eu inventava meus próprios super-heróis, criava meus próprios casos de detetive etc. – sou suspeito, mas concordo totalmente com o autor. Vejo uma garotada brilhante em tecnologia hoje, alguns ganhando rios de dinheiro no Vale do Silício, mas que são incapazes de pensar fora do quadrado, de compreender minimamente o “big picture”.

Howard, que fez sua primeira programação aos 12 anos, discorre depois sobre o atual e o futuro mercado de trabalho para programadores, antecipando que haverá cada vez mais concorrência de países com baixo custo de mão de obra. Ele conclui sobre esse aspecto:

A soma dessas tendências é que buscar código por causa de um trabalho está se tornando uma tarefa tola. Para orientar nossos filhos em direção a carreiras extraordinárias, precisamos mudar nosso foco do treinamento de programadores comuns para o cultivo de crianças que se desenvolvem em brincadeiras experimentais e exploratórias. Essas experiências são os blocos de construção de empreendedores de tecnologia criativa – que, a propósito, também sabem codificar.

Mas o meu interesse maior não é com o mercado de trabalho dos programadores de códigos, e sim com a visão de quão importante é deixar um amplo espaço para a criatividade das crianças em suas brincadeiras. Inspirar a inovação é algo que demanda essa abordagem. Howard cita o livro Brain Rules for a Baby, de um neurocientista, que faz uma metáfora interessante, descrevendo um playground ideal como se fosse uma Fábrica de Chocolate do mundo real:

Um lugar para desenhar. Um lugar para pintar. Instrumentos musicais. Um guarda-roupa pendurado com fantasias. Blocos. Livros de imagens. Tubos e engrenagens. Qualquer coisa em que uma criança possa ser solta com segurança, alegremente livre para explorar o que quer que seja que a atraia. Uma ecologia totalmente explorável e não linear.

Cultivar a paixão, a arte e a diversão de forma descontraída e espontânea: eis algo que anda em falta no mundo moderno. Será que estamos embotando as almas dos nossos filhos ao trata-los como robôs codificados? Fica o alimento para nossa reflexão…

Rodrigo Constantino

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