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Demétrio erra ao tentar dissociar PT de cúpula corrupta. Ou: A estrela deve sumir!
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A coluna de Demétrio Magnoli na Folha este fim de semana gerou a revolta de muitos leitores meus, que pediram uma análise. Como estava em um evento em Passo Fundo, confesso não ter tido tempo para ler o artigo, o que fiz agora. Sim, merece uma análise – e uma resposta. Demétrio está errado, em minha opinião. Antes, vejamos o que ele disse.

O sociólogo não poupa a cúpula petista de críticas, afirma que uma quadrilha se incrustou no partido, defende como legítima toda a revolta do povo com a sigla, mas sustenta que é preciso dissociar essa quadrilha da sua base, dos milhões de brasileiros que acreditaram na estrela vermelha e em seus ideais. Para Demétrio, aquele que quer “exterminar” o PT da política peca pelo mesmo autoritarismo antidemocrático dessa cúpula petista. Diz ele:

O PT não se confunde com a organização criminosa nele incrustada. O partido, semeado no chão da luta contra a ditadura militar, não é uma sigla de conveniência como as criadas por Gilberto Kassab, o despachante do Planalto para negócios cartoriais. É sua militância e sua base de filiados, responsável por eleições internas que mobilizam centenas de milhares de cidadãos. É, sobretudo, sua base eleitoral, constituída por vários milhões de brasileiros. O PT é parte do que somos.

[…]

Na mensagem ao 5º Congresso Nacional do PT, a direção partidária interpreta o “sentimento antipetista” como reação conservadora “às ações políticas de inclusão social” dos governos Lula e Dilma. Vendando os olhos dos militantes, embalando-os numa ilusão complacente, os dirigentes postergam uma difícil, mas inevitável, revisão crítica. De fato, o “sentimento antipetista” expressa a vontade de evitar a identificação entre Estado e Partido. Já a manipulação exterminista desse sentimento não passa de uma cópia invertida do desejo petista de anular o direito à divergência.

No Palácio, o PT perdeu o patrimônio moral indispensável para defender a democracia. Hoje, triste ironia, são os críticos do PT que podem desempenhar o papel de advogados da sua existência como ator legítimo. Pedir o impeachment da presidente, por bons ou maus motivos, não atenta contra a ordem democrática. Sobram razões para gritar por um governo sem o PT, algo que serviria tanto ao Brasil quanto ao PT, que só na planície será capaz de entender as virtudes do pluralismo político. Por outro lado, cultivar a ideia da supressão do PT revela o impulso autoritário de amputar nossa história.

Vaccari é caso de polícia; o PT, não. A estrela fica. 

Não posso concordar com tal análise. Creio que ela erra ao tratar como vítimas inocentes aqueles que são, na verdade, cúmplices da quadrilha. Senão, vejamos: por que essa base petista não pediu a cabeça daqueles corruptos julgados e condenados da alta cúpula? Por que preferiram tratá-los como heróis injustiçados? Se a postura oficial do PT é defender seus corruptos, então quem permanece no partido só pode ser conivente com isso. Não há inocentes ali.

A acusação de que é antidemocrático o desejo de “exterminar” o PT enquanto partido é falsa, e ao tentar nivelar todos por baixo, Demétrio ignora um dado simples: se o próprio PT adota viés antidemocrático como um todo, defende ditaduras comunistas, tenta controlar a imprensa e instaurar no Brasil o chavismo, então claro que não há nada de antidemocrático em exigir a retirada do jogo de quem não aceita as regras do jogo.

Seria antiesportivo cobrar a saída de um time que ignora as regras, o árbitro e insiste em confundir o campo com um ringue? Não são os que pedem o fim do PT que possuem viés autoritário, e sim o próprio PT. A estrela vermelha nasceu com tal viés. É possível alegar que muitos não sabiam, que eram ignorantes, inocentes, mas sua ignorância não é desculpa para inocentar a verdadeira natureza autoritária do partido, seu DNA stalinista.

O PT pode ter sido um partido com viés de esquerda um dia, mas faz tempo que deixou de ser isso. Hoje, é sim uma espécie de organização criminosa disfarçada de partido, um ajuntamento golpista que não respeita a democracia, que a trata como uma “farsa”, como teria dito o próprio ex-presidente Lula ao Le Monde, um instrumento “burguês” das “elites”. Ao adotar tal visão, o PT se coloca à margem da democracia. E por isso não merece fazer parte dela, pois pretende apenas destruí-la de dentro.

Quando encontrei Demétrio durante o almoço no Fórum da Liberdade em Porto Alegre, ele me disse rindo que achava graça quando eu frisava sempre o “esquerdista” antes de seu nome. Eu fazia ele se sentir um trotskista. Eu expliquei que ele realmente é um esquerdista, e que é bom destacar isso para mostrar que há vida inteligente e civilizada na esquerda.

Demétrio representa essa esquerda mais civilizada, que deve ter espaço garantido em nossa democracia. Não o PT. O PT representa apenas o golpismo autoritário, o chavismo, o eterno flerte com o regime cubano. Demétrio erra ao tentar defender o PT e dissociar sua base de sua cúpula, já que esta fala em seu nome, não Demétrio, tratado como “reacionário” por todos os membros do partido.

A estrela não fica. A estrela deve sumir, para o bem de nossa democracia!

Rodrigo Constantino

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