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Departamento de marketing petista entra em campo por Haddad
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Não tenho dúvida de que, uma vez definido oficialmente o candidato do PT, que não será Lula, o ungido terá alguma transferência de voto do presidiário, que ainda seduz uma massa de fanáticos ou ignorantes, mesmo atrás das grades. Mas essa transferência será menor do que muitos esperam, assim como a própria intenção de voto no líder máximo da quadrilha está longe de ser aquela apontada pelas “pesquisas”.

Não obstante, era óbvio que os militantes petistas entrariam em campo logo, para fazer torcida em vez de análise. Hoje, no Estadão, Eliane Cantanhêde anunciou a partida, e mal foi capaz de esconder o entusiasmo. Ela compra a valor de face a quantidade de votos que Lula teria segundo as pesquisas, e acha que Haddad, aquele que sequer conseguiu ser reeleito em São Paulo, é um candidato fortíssimo:

A grande novidade da eleição presidencial, tão pulverizada e incerta, está para surgir: a entrada em cena do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que une o útil, a força do ex-presidente Lula, ao agradável, a sua própria imagem, que extrapola o PT.

Condenado, preso, longe de holofotes e microfones, Lula mantém seus inacreditáveis 30% das pesquisas, numa eleição com tantos nomes e nenhuma certeza. Logo, Lula é quem tem o maior capital e o maior potencial de transferência de votos.

Livre, passando ao largo de denúncias de corrupção, Haddad é aquele bom moço sem a pecha, as marcas e as cicatrizes do PT e amplia o leque de eleitores do partido. Petista só vota em petista, mas tem muita gente que não morre de amores pelo PT, mas poderia votar de bom grado no professor Haddad.

Lula e Haddad, portanto, se complementam. Um tem voto, mas alta rejeição. O outro não tem voto, mas não tem rejeição. Um garante a largada, o outro tem de fazer o resto, ganhar fôlego, abrir horizontes. Ou atrair as elites, assim como José Alencar, em 2002, atraiu o capital.

[…]

Até aqui, Jair Bolsonaro está isolado na liderança, petulante ao ponto de prever vitória em primeiro turno, e o segundo pelotão está embolado com Marina, Ciro, Alckmin e, tentando correr atrás, Alvaro Dias. O resto é o resto. Mas a entrada de Haddad para valer tem potencial para dar uma boa chacoalhada nisso.

O que eu gostaria de entender é como um prefeito que não é capaz sequer de ser reeleito, perdendo no primeiro turno para João Doria, de repente se transforma num grande ativo eleitoral, sem rejeição, com cara de tucano que atrai mais votos do que a seita petista tem garantido. Alguém me explica?

O desempenho de Fernando Haddad (PT) como candidato à reeleição a prefeito de São Paulo foi o pior entre todos os que tentaram a reeleição ao posto. No histórico da corrida à prefeitura da capital paulista depois da aprovação da lei da reeleição, em 1998, apenas três tentaram o feito de conquistar um mandato consecutivo e apenas um foi bem-sucedido na missão. Eis que agora Haddad virou um às na manga do PT?

Poucos dias antes do início formal da campanha pela reeleição um interlocutor perguntou ao prefeito Fernando Haddad se ele cogitava deixar o PT caso perdesse a disputa. A resposta foi desconcertante: “Se perder a eleição não vou deixar o PT, vou deixar a vida pública”. Aí está a prova de que Haddad é petista mesmo, apesar das aparências tucanas: o “professor”, como chama respeitosamente a “jornalista”, é um baita de um mentiroso.

Vamos lembrar do que diziam à época, já que Haddad era mais um “poste” de Lula: “um revés de Haddad significaria uma derrota pessoal de Lula, que impôs o nome de seu ministro da Educação ao altivo PT de São Paulo. Essa imposição deixou cicatrizes que ficaram em segundo plano depois da vitória sobre o tucano José Serra, em 2012. ‘Uspiano, classe média e são-paulino’, segundo Lula, Haddad difere do padrão petista”. Lula sofreu a tal derrota pessoal, mas eis que agora tudo será completamente diferente, só porque os petistas querem? Com Lula preso e apagado?

Não vamos esquecer de que a reeleição de Haddad era considerada “prioridade” para o futuro do PT: “o presidente nacional do PT, Rui Falcão, anunciou que a reeleição de Fernando Haddad é prioridade ‘número um’ do partido. A análise do quadro atual permite dizer que a reeleição dele é essencial para o futuro do partido de Luiz Inácio Lula da Silva”. Pois é: não deu. E o resto é história, com o PT cada vez mais chamuscado.

Não estou negligenciando o risco petista, o fator Lula ou a carinha de “bom moço” do ex-prefeito paulista. Estou apenas colocando os pingos nos is, fazendo uma análise mais realista do que a torcida de alguns por aí. Lula ainda tem, sim, uma legião de idiotas ou canalhas ao seu lado, que deve dar uns 20% no máximo do eleitorado. Se ele transferir metade disso para seu ungido pouco conhecido, estamos falando em 10%. Não será o suficiente para garantir um segundo turno.

A entrada de Haddad em campo pode chacoalhar um pouco a esquerda, afetar Ciro Gomes, mas não é essa novidade toda pintada pela colunista, a ponto de mexer totalmente no tabuleiro. O PT vai perder e muito nessa eleição. Meu maior receio é com os genéricos que mudaram o nome, mas mantiveram o DNA vermelho…

Rodrigo Constantino

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