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Fonte: GLOBO
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O tema Bebianno tomou conta das redes sociais e da imprensa, após trocas de acusações e vazamento de áudios. Enquanto isso, o governo sofria uma primeira derrota significativa na Câmara, ao votar a urgência para o sigilo de certas informações. Nem a base governista ficou ao lado do governo, e a derrota foi acachapante.

Pode ser apenas uma divergência pontual sobre o assunto em questão? Sempre pode, claro. Mas poucos leram assim. O grito de alerta foi evidente, uma prévia do que pode acontecer na hora de votar reformas importantes, como a previdenciária. Falta articulação por parte do governo, mergulhado em intrigas internas.

Não por acaso o DEM farejou a oportunidade de assumir mais poder (ainda), já que falta ao PSL um mínimo de coesão e experiência (não que o DEM seja grande exemplo disso, mas tudo é relativo). Rodrigo Maia, justiça seja feita, tem sido uma das poucas vozes sensatas ali, priorizando o que deve ser priorizado e se afastando das brigas mais ideológicas ou ególatras. Essa notícia mostra o que vem ocorrendo:

Único partido com um ministro civil no Palácio do Planalto – Onyx Lorenzoni (Casa Civil) -, depois da saída de Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), o DEM pediu uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro  nesta quarta-feira: quer assumir a articulação política do governo, mas com poder para negociar com parlamentares. O assunto será levado pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em almoço com o presidente hoje.

Os dois presidentes das Casas têm sido chamados nos corredores do Congresso de “líderes do governo”. Na Câmara, o líder oficial, Major Vitor Hugo (PSL-GO) vem sofrendo resistência até em seu próprio partido. No Senado, até ontem, quando Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) foi anunciado líder, a articulação política do governo estava acéfala. Com esse quadro, nas últimas semanas, Alcolumbre e Maia vinham ocupado esse vácuo, recebendo parlamentares e assumindo a defesa da reforma da Previdência.

O DEM reclama, porém, que precisa de “instrumentos” para conduzir essa articulação política. O assunto foi tratado em jantar com líderes do partido, na noite de segunda-feira. Um dos principais nomes da legenda diz que Alcolumbre e Maia estão “dispostos” a assumir essa articulação, mas não querem que um eventual fracasso do governo “caia na conta deles”. Para dar certo, esse líder diz que a legenda precisa de mais autonomia para negociar com parlamentares.

Isso significa tinta na caneta do ministro Onyx Lorenzoni: poder para liberar verbas para municípios dos parlamentares e para aceitar indicações políticas para o governo, em troca de votos no Congresso. Para líderes do DEM, a saída de Bebianno deu mais poder político a Lorenzoni no governo, já que ele se tornou o único ministro civil no Planalto. No lugar de Bebianno, entrou Floriano Peixoto, um general. 

Por “instrumentos” leia-se soltar verbas, fazer a “velha política”, aquela que Bolsonaro prometeu enterrar se eleito. Promessa irreal, utópica, até mesmo populista e demagoga, os mais céticos poderiam dizer. Não se governa com redes sociais apenas, ou com o núcleo duro “purista” (jacobino?). Quem acreditou nisso precisa sair do jardim de infância da política e amadurecer. Precisa entender o mínimo sobre política. O comentário de William Waack sobre o assunto resumiu muito bem o que está em jogo:

Enfim, se o DEM é pouco organizado e confiável, pior ainda parece o PSL, um saco de gatos, um partido de aluguel que trouxe para dentro da legenda vários oportunistas que surfaram na onda do bolsonarismo. E achar que é possível simplesmente dar adeus ao Bivar e sua turma agora, fundar um novo partido, e governar somente com os soldados leais do presidente é viver num mundo de fantasias, onde um imperador incorruptível determina tudo de cima para baixo, sem a necessidade do Congresso.

Está na hora de os seguidores mais fanáticos do “mito” serem ignorados em prol do Brasil. Não foi por falta de aviso: lá atrás eu disse que ou Bolsonaro “trairia” essa turma aguerrida, útil apenas para militância voluntária, ou teria que decepcionar o restante do país. O Brasil quer reformas, precisa crescer, gerar riqueza e empregos. Se Jair Bolsonaro escolher o lado xiita, vai receber muitos “likes” no Facebook e no Twitter, mas as reformas não serão aprovadas, e seu governo terá resultados medíocres, na melhor das hipóteses.

Arrisco dizer que se o capitão for mesmo por esse caminho, sequer termina seu mandato. E não faltarão malucos dispostos a celebrar: faça-se logo uma revolução dos caminhoneiros sob a liderança do filósofo de Virgínia! Quem quer limpar a velha política da noite para o dia pode muito bem terminar com uma baita sujeirada do sangue revolucionário. Precisamos de mais Burke e menos Marx, Rousseau ou Olavo. Bolsonaro foi eleito por quase 58 milhões de eleitores e é o presidente de toda a nação. Precisa ser responsável, vestir o figurino de estadista, e deixar de lado sua militância truculenta, a começar por seus filhos. O Brasil tem pressa!

Rodrigo Constantino

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