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É preciso criar uma Comissão da Verdade para as contas públicas, diz Gustavo Franco
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Fonte: Folha

As contas de setor público fecharam o mês de maio com o primeiro resultado negativo para o mês desde o início da série histórica do Banco Central, em 2002. De acordo com o BC, União, Estados, municípios e empresas estatais registraram deficit primário de R$ 11,05 bilhões no mês passado. Considerando todos os meses, o resultado é o pior desde dezembro de 2008, quando o déficit foi de 20,952 bilhões de reais, no auge da crise internacional.

Em entrevista para a Folha, Gustavo Franco coloca as contas públicas como causa de inúmeros problemas atuais da economia. Para um dos “pais” do Plano Real, a Copa se tornou uma metáfora perfeita das causas da inflação. “Alguns estádios foram construídos com um dinheiro que não existe, aumentando a dívida do governo. Se queríamos exemplos de irresponsabilidade fiscal que todos entendessem, a Copa foi um espetáculo”, disse.

Para Franco, é preciso fazer quase uma Comissão da Verdade para saber o que houve com as contas públicas. Ele defende maior transparência com o orçamento, e não poupa o governo Dilma de críticas. Todo cuidado com a inflação é pouco, pois nosso histórico é de um viciado. Como ele diz, não há cura, apenas abstinência. E cita o caso de nossos vizinhos bolivarianos como alerta:

Na Argentina, a situação degringolou quando a inflação chegou a 15%. Foi uma esbórnia de controle de preço e ocultação de informação. Na Venezuela, a inflação subiu para 60% e, retirados os controles, já se parece com hiperinflação. É uma inflação dolorida, porque gera escassez.

Esses países demonstraram que existe uma fronteira, entre 10% e 15%, que é muito perigosa. Será uma tragédia histórica se a inflação escapar e entrarmos na trajetória de Argentina e Venezuela.

Algumas receitas são apresentadas pelo economista ao próximo governo, para que o risco inflacionário seja contido:

O próximo governo precisa recompor os pilares de uma economia sadia, que foram abandonados por questões ideológicas.

Temos que falar da responsabilidade fiscal em todas as suas dimensões e não apenas em superavit primário. É preciso fazer quase uma comissão da verdade para saber o que houve com as contas públicas nos últimos tempos.

O segundo ponto é o câmbio flutuante. O que está em jogo é o relacionamento do Brasil com o mundo. Com o Plano Real, abrimos o país para a economia internacional. Recentemente houve um recuo perigoso em direção a ideias dos anos 1950.

Também existia no Brasil a percepção de que o governo gostava da liderança empresarial no crescimento. Hoje o governo tem reputação de hostilidade ao setor privado.

[…]

O próximo governo precisa de uma proposta de orçamento transparente. Nunca organizamos direito nosso orçamento, que é o centro econômico de qualquer democracia digna desse nome. 

Como todos aqueles que acompanham as notícias políticas e econômicas sabem, o PT não tem condições de seguir por esse caminho, principalmente sob o comando de Dilma, que acredita no nacional-desenvolvimentismo e não parece se importar com as contas públicas deterioradas, pois sempre há o malabarismo contábil para “enganar” os investidores.

A revista Veja desta semana estampou em sua capa um alerta de extrema importância, aproveitando o momento que celebra os 20 anos do Plano Real para mostrar como seus pilares se encontram, hoje, ameaçados. Vale a leitura na íntegra, que vai ao encontro dos alertas feitos por Gustavo Franco na entrevista.

Derrotar a hiperinflação foi uma tarefa dificílima e cheia de obstáculos. Com o benefício do retrospecto parece mais fácil, mas não havia garantia alguma de que o resultado seria esse. Os petistas do alto escalão foram, inclusive, contra o plano, e disseram que não daria certo. Pelo visto, hoje no poder, fazem de tudo para realmente boicotar o plano que domou o dragão inflacionário.

Rodrigo Constantino

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