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EBC virou divisor de águas e ajuda a identificar independentes, isentões e minions
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TV Lula. Era assim que Bolsonaro chamava a TV Brasil, subsidiária da estatal EBC. O atual presidente sempre condenou a existência desse troço, um instrumento para bancar militantes. Definiu inclusive como promessa de campanha acabar com a empresa. Uma vez eleito, no poder, o tom mudou. A EBC não seria mais fechada ou vendida. A TV Brasil não desapareceria. Ao contrário: seria alvo de uma “restruturação”.

Escrevi textos condenando tanto a decisão de não acabar com a estatal como essa suposta restruturação. Fontes internas me asseguraram se tratar de um engodo. A empresa enviou para a Gazeta do Povo uma resposta, e em nome do debate aberto vou publicar aqui um trecho:

A EBC não é um canal de televisão. Trata-se de uma empresa pública gestora de duas emissoras de TV, sete emissoras de rádio, uma agência de notícias, duas agências de conteúdos radiofônicos, portais e redes sociais.

A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados. Diversos portais aproveitam grande parte do conteúdo produzido pelos veículos EBC. Fotos feitas pelos profissionais da empresa abrem a primeira página de jornais de cobertura nacional e regional.

A empresa faz a cobertura dos atos do governo federal e distribui o conteúdo a veículos de comunicação de todo o país e estrangeiros. O selo da NBR, por exemplo, aparece diariamente em matérias dos programas jornalísticos desses veículos.

O plano de reestruturação da EBC é real e está totalmente alinhado às diretrizes do Governo Federal. Propõe a racionalização e otimização dos recursos com a ampliação do alcance e espectro de atuação da empresa. Beneficia o contribuinte usuário porque busca a sustentabilidade orçamentária e financeira, com menor dependência em relação ao Tesouro Nacional.

O processo de seleção e nomeação de perfis para os cargos comissionados e de direção, Diretoria Executiva, Conselhos e Comitês, segue critérios técnicos e convergentes com a Lei das Estatais.  

A nova EBC utilizará sua competência profissional para produzir conteúdos de qualidade, educativos, culturais, científicos, informativos e de utilidade pública. O objetivo é o de apresentar uma TV para todos os brasileiros sem segmentação, oferecendo informações e programas com temas universais e de interesse geral do público.

Desde a criação da EBC, em 2007, o eixo principal das ações está em Brasília, sendo que o Rio de Janeiro permanece como principal centro de produção. É completamente falsa a afirmação de que a sede do Rio foi dizimada. Pelo contrário, os dois imóveis que abrigam as instalações e pessoal foram recentemente reformados e adequados para suportar a estrutura existente.

Em relação ao aluguel da sede de Brasília, a gestão conseguiu reduzir seu valor em 13% em 2018. As alterações estruturais, como as nomenclaturas de cargos, decorrem das necessidades de atendimento das missões da EBC e são previamente aprovadas pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Os recentes cortes de cargos e exonerações estão diretamente ligados à reestruturação da EBC e alinhados às diretrizes do Governo Federal. Nada tem a ver com alegados nepotismo/pessoalidade.  

Atenciosamente,

Gerência de Comunicação
Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

“A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados”. Essa justificativa é a mesma de todo estatizante. A Petrobras é “estratégica”. O Correio é “estratégico”. O Banco do Brasil é “estratégico”. A Caixa é “estratégica”. E atuam onde a iniciativa privada não “alcança”. Trata-se simplesmente de uma justificativa inaceitável para qualquer um familiarizado com o liberalismo.

O governo Bolsonaro, não obstante, preferiu ignorar sua promessa de campanha e manter a estatal. A reação a esta decisão equivocada serve como divisor de águas e facilita muito na identificação dos perfis mais à direita. Quem é realmente independente, elogiando o que merece elogio e criticando o que deve ser criticado, condenou a decisão publicamente. Foi o que fez a turma liberal em peso. Grave erro do governo optar pela manutenção da EBC.

Já os “isentões” de direita adotaram um discurso mais “neutro”, do tipo: “A medida é errada em si, mas calma, Bolsonaro não pode desfazer em um mês aquilo tudo de ruim que o PT fez em mais de uma década”. A narrativa pode confortar alguns, os mais pragmáticos podem se convencer de que seria negativo cortar a boquinha de centenas de funcionários encostados na estatal, mas a decisão continua sendo inaceitável e traindo uma promessa de campanha.

Já os “minions”, aqueles fanáticos que acham que o “mito” jamais está errado, justificaram e até aplaudiram a medida: agora o governo terá um canal de televisão para combater a doutrinação esquerdista! Esses são aqueles que Janaina Paschoal chamou de “petistas com sinal trocado”. Eles estão dispostos a adotar todos os métodos do inimigo, desde que para a “causa certa”. Os “nobres” fins justificam quaisquer meios. Assassinato de reputação, duplo padrão, perseguição e intimidação, mentiras, tudo é válido se for para ajudar na “causa”, ou seja, manter Bolsonaro no poder para ele “salvar” o Brasil.

A TV Lula também é conhecida como TV Traço, ou seja, não tem audiência. Mante-la não é perigoso por questões de doutrinação ideológica, já que ninguém assiste o troço. O ponto é outro: serve como instrumento para bancar a militância, que atua em outros canais. Bolsonaro tem militância voluntária, mas como agora é poder, muitos poderão apresentar a fatura, ou trabalhar em dobro se passarem a receber por isso. Se eram chatos nas redes sociais de graça, imagina recebendo uma bolada da estatal?

O aparelhamento da máquina estatal foi um dos pontos que mais receberam críticas na era petista, com razão. A vitória de Bolsonaro representa uma guinada à direita, e “despetizar” o estado é uma meta louvável. Mas não para aparelhar com “minions” em seu lugar! Isso é simplesmente absurdo e inaceitável. Quem aplaude a manutenção da EBC como estatal, e talvez esteja de olho num cargo na TV Brasil, demonstra ser inimigo do Brasil, ao menos de um país republicano, sério e livre.

Bolsonaro foi eleito, entre tantas outras coisas, para acabar com a TV Brasil, não para criar a TV Minion.

Rodrigo Constantino

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