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Elucidando os mortadelas. Ou: Os liberais ainda não se impuseram na batalha de ideias
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Por Paulo Bressane

No aprendizado da vida, felizes os que têm um bom mestre para clarear as ideias. No meu caso, tenho a sorte de poder receber as críticas de Paulo Roberto de Almeida, que além de diplomata, é também escritor, mestre em planejamento econômico pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento, doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas e titular do blog diplomatizzando.blogspot.com.br. Em relação à última coluna, “Os Rebotalhos II”, ele me diz: “Está um pouco confuso esse ‘Rebotalhos II’. Acho que faltou estruturar melhor as ideias e os argumentos. A transcrição da cartinha da seguidora gramatical da Dilma acrescenta um pouco de colorido, mas tampouco resolve problemas que me parecem subsistir neste texto. Não tenho sugestão específica ou correções a fazer, mas o fato é que não acho que este texto seja representativo da mesma qualidade da maioria de seus anteriores”.

ELE CONTINUA: “O tema é relevante, ou seja: mesmo que os companheiros tenham sido temporariamente derrotados, e afastados do poder, eles ainda dominam um largo espectro da ‘consciência social’, e isto é gramscismo em ação. Eles ainda dominam as mentalidades de uma parte relevante da nossa população. Mesmo que saibamos que as soluções, as ideias, as políticas dos esquerdistas são falaciosas, contraproducentes e conduzem a desastres, onde quer que tenham sido implantadas, infelizmente eles ainda conquistam muita gente, e não só “pobres e oprimidos”, muita gente de classe média, até magistrados e membros da elite. E isso é uma falha dos liberais, que não construíram doutrina, não fizeram trabalhos teóricos e empíricos que atestem o fracasso das ideias esquerdistas e destinados a provar que as soluções de mercado são melhores, como aliás atestado pelos países mais avançados, mais livres economicamente. Os liberais ainda não se impuseram na batalha de ideias”.

CASPITA! Quanto mais aprendo, mais me surpreendo com o quanto ainda tenho de aprender. Minha intenção foi dizer aos inocentes úteis, facilmente manipulados pelo ódio dos militantes de esquerda – estes sim, casos perdidos – que o socialismo sempre foi uma ponte para a pobreza. Paulo está correto ao dizer que os liberais erram por não construir uma doutrina e nem trabalhos empíricos que atestem o fracasso das ideias esquerdistas. Entendo que no Brasil a dualidade ideológica entre esquerda e direita nos mantém reféns dos esquerdopatas que “odeiam a classe média” e nutrem um grande preconceito contra o capitalismo, portanto, de novo, precisamos elucidar os mortadelas úteis, mostrar-lhes que para avançarmos como país, é preciso extirpar a ideia de que o Estado é a solução dos problemas. Provar-lhes, enfim, que o socialismo falhou em todo o mundo, e que somente com a liberdade econômica conseguiremos alcançar o bem-estar social.

Comento: permitam-me discordar de ambos, por quem nutro respeito e admiração. A falha dos liberais não foi tanto em não mostrar o fracasso empírico ou teórico do socialismo. Isso fizemos, e muito. Preciso citar Böhm-Bawerk, Mises, Hayek, os austríacos? Ou tantos livros e estudos sobre o caos produzido pela coletivização das propriedades, o planejamento central, o excesso de intervencionismo? Creio que não. Eis a real falha dos liberais, em minha opinião: conquistar os corações das pessoas, não só as mentes. Por termos a razão e a história do nosso lado, costumamos relaxar quanto às emoções. Mas pessoas são seduzidas por ideologias ou doutrinas com base nelas também. No caso dos esquerdistas, só nelas. Segundo Böhm-Bawerk, “as massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções”. Acreditam na teoria marxista de exploração porque a teoria lhes agrada. O economista conclui: “Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse ainda pior do que é”. Infelizmente, não adianta apenas mostrar o fracasso socialista. É preciso chegar ao coração das pessoas, cativar. Não foi o departamento teórico ou empírico dos liberais que fracassou; foi o de marketing.

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