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Enquete: 40% querem ou aceitam fechar Congresso na marra para presidente governar por decretos
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Estudei estatística, então podem ficar tranquilos: não acho que minha enquete seja perfeita. Primeiro, porque a fiz na rede social, o que já é uma amostra enviesada, uma vez que o Twitter não pode se confundir com o povo. Segundo, porque foi feita com o meu público, que já é também enviesado e não representa uma distribuição normal da população.

Mas, mesmo com essas ressalvas, o resultado é um pouco assustador, ainda que esperado, para mim ao menos. Perguntei se era desejável fechar o Congresso na marra para que o presidente pudesse governar por decretos. Parêntese: houve quem visse nisso um desejo meu de tal coisa, o que só a ignorância ou a má-fé justificam. Eis o resultado:

Foram mais de 30 mil votos, o que não é desprezível. Um terço diz abertamente que quer fechar o Congresso mesmo, para conferir poderes absolutistas ao presidente eleito. E outros 8% estão na dúvida.

Entendo a revolta popular com o Congresso, que virou sinônimo de “centrão fisiológico”. O discurso de que esses “bandidos” estão boicotando as reformas do governo seduziu muita gente, e é parcialmente verdade.

Como o “povo” não tem paciência, e nunca demonstrou muito apreço pelas regras do jogo democrático, número expressivo quer partir logo para um despotismo “esclarecido”. Sim, pois é disso que se trata a questão.

Desafiei olavetes e bolsonaristas fanáticos a fazerem a mesma enquete, mas nenhum se animou. Entendo. Com certeza os resultados seriam muito piores, talvez invertidos: uns 60% do público deles deve aplaudir com empolgação esse caminho autoritário, no mínimo. Fazer essa enquete derrubaria certas máscaras, e isso eles não aceitam.

A manifestação governista do dia 26, que teve convocação do próprio presidente, ganhou adeptos mais moderados de peso, e agora foca numa pauta objetiva de reformas. Mas eis o problema: se for sucesso de público, dá peso aos radicais também, ajuda a endossar as mensagens raivosas e autoritárias dos jacobinos de direita, que querem partir para um regime tirânico populista.

É verdade que esses mais extremistas serão minoria, assim como é verdade que a grande imprensa vai focar neles, mostrar seus cartazes para contaminar todo o protesto. Mas, como podemos ver em minha enquete, por mais enviesada que seja, não se trata de uma minoria tão ínfima ou insignificante assim.

Proporções similares servem para a narrativa de que o Islã moderado é um mito, por exemplo. Quando 30% dos pesquisados defendem a Sharia, isso é sinal de que o radicalismo é extenso. Se 30% deseja fechar o Congresso na marra, então é mau sinal, é um grupo expressivo de gente, que terá o escudo dos mais moderados nas ruas.

Como argumenta Brigitte Gabriel sobre o Islã, a maioria silenciosa é irrelevante nesses casos. Não era a maioria russa que queria os bolcheviques no poder em 1917, assim como não era a maioria alemã que desejava Hitler na década de 1930. Era em torno de… 30%. Gente demais. Gente muito radical, que fala mais alto, que é mais mobilizada, que forma grupos coesos e intimida o restante. Gente que se apropria da maioria moderada para suas causas radicais, e rotula de covardes os demais.

Entendo e respeito quem discorda de minha análise e pretende fazer coro a esse protesto governista no dia 26. Mas, diante dessa pesquisa e de tudo que sabemos sobre “massas nas ruas”, acho que esses também deveriam tentar compreender quem, como eu, recusa-se a participar, sem acusa-los de “traidores” ou “vendidos”. Os que agem assim, aliás, estão justamente dando razão ao alerta e ao receio dos mais céticos. E são muitos…

Rodrigo Constantino

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