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Estadão faz reportagem sobre influenciadores olavistas e militância acusa golpe e fala em “lista negra”
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José Fucs é um jornalista sério, com inclinação mais liberal, até mesmo libertária. Foi dos primeiros a dar destaque para pautas relacionadas à direita, como privatização ou mesmo Escola Austríaca. Denunciou o petismo desde sempre, com coragem e determinação. Tem um histórico, um currículo, e não vai se intimidar diante do poder. Pois bem: para a militância olavista, Fucs agora é mais um “comunista” da “extrema-imprensa”, toda ela supostamente inimiga do Brasil.

Ele assinou uma reportagem esse fim de semana sobre a militância virtual bolsonarista e olavista, expondo os principais influenciadores e seus métodos um tanto autoritários, de intimidação e xingamento de quem ousa discordar. Claro que a turma acusou o golpe: falou em “difamação” ou “lista negra”, como se fosse uma espécie de perseguição aos críticos da imprensa. Mas discordo: não há uma lista de perseguição; é apenas um bom trabalho jornalístico para mostrar quem é quem entre os militantes.

Fucs não fala em controle de cima para baixo, em comando, mas sim em “hordas bolsonaristas e olavistas”. A militância é muitas vezes voluntária. São pessoas que realmente enxergam em Bolsonaro e Olavo de Carvalho “mitos” ou “gurus”, e não toleram muito bem críticos, mesmo aqueles à direita. São tratados como inimigos, como comunistas, como se não houvesse distinção entre um Felipe Moura Brasil, até ontem “olavete”, e uma Miriam Leitão.

A liberdade de expressão é fundamental, assim como a liberdade de imprensa. Elas andam juntas, mas na era das redes sociais pode haver alguma confusão. Não fere a liberdade de expressão dos indivíduos um jornal fazer uma lista daqueles que compõem a tropa de choque virtual do presidente, o que é liberdade de imprensa pura e simples. Não há clamor por boicote ou nada parecido. Fucs foi objetivo em sua análise, e ninguém precisa se sentir intimidado por isso.

Por outro lado, há bolsonaristas e olavistas que tentam, sim, intimidar jornalistas, como se a gritaria e os xingamentos fossem nos calar. Não entendem o papel do jornalismo independente, que ainda existe a despeito do viés da mídia, e é muito diferente do puxa-saquismo de quem concorda com tudo que vem do governo ou do guru filósofo. Para essa turma, adepta de seita tribal, qualquer crítica ou mesmo análise objetiva já é prova de que se “vendeu”, foi “cooptado” pelo inimigo.

A incapacidade de entender como funciona o jornalismo é espantosa, alimentada pelo fato concreto de que muitos na imprensa desejam mesmo destruir Bolsonaro e o tratam como inimigo. Fucs, porém, não é um deles, como não o é Felipe Moura Brasil e tantos outros. O que bolsonaristas e olavistas querem, pelo visto, são “jornalistas” que digam “amém” para tudo que o capitão diz ou faz, e que jamais ousem criticar Olavo de Carvalho, que “tem sempre razão”. Essa é uma postura tribal, autoritária e incompatível com o jornalismo verdadeiro.

Eis o trecho em que sou citado:

No caso de Constantino, chamado de “Coconstantino” por Olavo, os conflitos também não são de hoje e decorrem das críticas públicas feitas a Bolsonaro e ao escritor, numa época em que poucos “trombones” da direita se aventuravam a fazê-lo. Por sua ousadia, despertou a ira dos bolsominions e olavetes e ainda hoje paga um preço alto por isso. Na semana passada, chegou a ser chamado de “comunista” por um “jacobino” indignado com suas críticas ao “professor”.

“Sempre que critico o Olavo e o Bolsonaro sou alvo da patrulha que remete ao petismo mais indigesto”, disse o economista, provavelmente o primeiro a se referir ao escritor como Osho, o guru indiano que liderava o movimento Rajneesh. “Poucas vezes vi um modus operandi tão autoritário, de um grupo que funciona como uma seita e intimida os críticos como se fossem inimigos.”

Só faço uma ressalva: o apelido “carinhoso” dado pelo filósofo é Rodrigo Cocô Instantâneo. Mas aquele que trata assim os formadores de opinião liberais ou mesmo conservadores não pode nunca ser alvo de críticas, pois isso já seria prova de que se trata de um inimigo do povo, da direita, do governo, do Brasil. E esse pessoal não percebe que justamente essa reação, essa postura deve ser condenada por todo aquele que preza a liberdade, o bom debate construtivo, e o futuro do Brasil.

O maior inimigo do país não é a imprensa; é a mentalidade tribal, que enxerga inimigos mortais por todo lado, comunistas espalhados por todo canto, disfarçados de liberais e até de conservadores. Quem só aceita tudo ou nada, quem cobra de jornalistas adesão incondicional ao governo, esse joga contra o Brasil. Há, sim, militantes esquerdistas infiltrados na mídia. O grande erro dos bolsonaristas e olavistas é achar que todos são iguais, pois qualquer crítica já é sinal de “traição”. Se falta objetividade e independência por parte da imprensa, certamente também falta por parte dessa militância virtual.

Rodrigo Constantino

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