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Estrada sem lei: filme da Netflix resgata fatos sobre Bonnie e Clyde, criminosos idolatrados por idiotas úteis
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O homem é um bicho estranho. Gosta de cada coisa que chega a assustar! Sempre haverá uma legião pronta para idolatrar algum bandido qualquer, adotar como guru um picareta da vida, ou seguir modismos toscos só porque outros fazem o mesmo. Raro é aquele que mantém a sensatez em tempos de loucura geral.

Bonnie e Clyde foram dois jovens que abraçaram o mundo do crime nos anos 1930, deixando um rastro de morte e violência por onde passaram. Mas isso não impediu uma pequena multidão de enxerga-los como heróis. O clima da Grande Depressão ajudou, sem dúvida, e os dois eram vistos como uma espécie de Robin Hood, que tirava dos bancos para “distribuir”.

Essa romantização da bandidagem, como se vê, não é coisa nova, tampouco exclusividade brasileira. Olhar para marginais como figuras irreverentes que “desafiam o sistema” tem seu apelo, especialmente em pessoas com vidas medíocres e apagadas. Elas passam a sonhar com toda a “liberdade” que esses bandidos supostamente desfrutam. É uma válvula de escape para a vida mesquinha que normalmente levam.

Nas décadas de 1960 e 1970, houve glamourização ainda maior do casal de bandidos, inclusive com um filme sobre ele em que essa visão predominava. Mas mesmo na época os dois eram idolatrados, tratados como celebridades, e algo como 15 mil pessoas foram ao enterro de Clyde, enquanto umas 20 mil estiveram presentes no enterro de Bonnie.

Finalmente há um bom filme que resgata fatos contra essa fantasia toda. “The Highwaymen”, traduzido como “Estrada sem lei”, é um filme dirigido por John Lee Hancock e escrito por John Fusco, que conta a história de Frank Hamer e Maney Gault, dois Texas Rangers que tentam rastrear e prender (ou matar) os notórios criminosos Bonnie e Clyde nos anos 1930.

Com Kevin Costner no papel de Hamer (Pancho) e Woody Harrelson no papel de Maney, o filme rejeita logo de cara a visão romanceada do casal de criminosos. A governadora Miriam “Ma” Ferguson (personagem de Kathy Bates), respondendo a jornalistas sobre essa tese de heroísmo ao estilo Robin Hood, devolve com uma pergunta: o que há de Robin Hood em se matar um funcionário de um posto de gasolina por $4?

Aliás, parêntese: as feministas talvez fiquem chocadas ao descobrir que, na década de 1930, uma mulher podia ser “empoderada” a ponto de governar um estado e mandar, com punhos de ferro, em vários homens subalternos, incluindo os durões Texas Rangers e seus chefes. Ao julgar pela narrativa do movimento, poderia se jurar que as mulheres, nessa época, viviam praticamente acorrentadas e levando chibatadas dos terríveis homens brancos opressores. Fecho parêntese.

O filme retrata, portanto, com maior realismo o que foi a história de Bonnie e Clyde, sem essa distorção floreada dos “progressistas”, que se derretem quando veem um bandido matando policiais ou assaltando bancos em nome de uma “causa”. Basta pensar em Eduardo Suplicy com Cesare Battisti, por exemplo.

Não é o melhor filme do mundo, e em alguns momentos fica meio arrastado. Mas recomendo aos leitores, principalmente para quem tem algum interesse não só na história do casal assassino, mas nessa glamourização que atrai inúmeros idiotas úteis.

Aqueles responsáveis pelo “império das leis” não são perfeitos, e às vezes terão de ignorar as próprias leis para preservar a Justiça – um tema sempre instigante e polêmico, que está presente na tensão entre Frank e Maney com base numa experiência em que ambos eliminaram mais de 50 marginais, e só depois mandaram “levantar as mãos”.

Mas a atração que alguns sentem pelos “foras da lei”, que adotam a violência como estilo de vida e desafiam o “sistema”, transformando os policiais em bandidos, isso é coisa que só Freud explica.

Rodrigo Constantino

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