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“Eu quero é resultados, não me importa um tweet ou outro”, diz Salim Mattar sobre governo
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Será que nós, da imprensa, pegamos demais no pé do presidente Bolsonaro? Ou será que é ele quem acaba criando tantas polêmicas desnecessárias e falando tanta bobagem que fica irresistível torna-lo pauta negativa? Eu acredito que seja um misto das duas coisas.

O governo tem méritos, tem feito coisas importantes em diferentes áreas, tem ministérios mais técnicos, e vem aprovando reformas necessárias. A economia esboça uma reação, ainda que tímida e aquém do necessário.

A criminalidade despencou, ainda que não por mérito exclusivo do governo federal. Mas há uma agenda virtuosa que aponta na direção certa. Por que, então, a queda de popularidade e o foco tão concentrado nos defeitos?

Em parte acho que é pelo estilo do próprio presidente, por sua arrogância com a imprensa, que é parcialmente uma reação compreensível e até legítima após tantos ataques injustos de que é alvo. Há, ainda, a questão delicada do seu filho e seu suspeito afastamento da Lava Jato, o que o desgasta bastante.

E tem, claro, o bolsonarismo, a militância insuportável e fanática nas redes sociais, influenciada ou comandada pelos próprios filhos do presidente, que afasta os mais moderados. Essa ala não estaria restrita a dizer bobagens em redes sociais, pois ilustra uma essência sombria do fenômeno.

Dito isso, há méritos, repito, em especial nos ministérios da Economia e da Infraestrutura. E eles precisam ser reconhecidos, assim como o contexto de qual seria a alternativa tivesse Bolsonaro perdido.

É a reflexão que provoca Salim Mattar nessa breve fala em que enaltece Tarcísio Gomes de Freitas, em evento do BTG na semana passada. O painel na íntegra pode ser visto aqui, e sempre vale muito a pena escutar Salim Mattar.

Talvez o foco de muitos seja excessivamente voltado para o Twitter. Ou talvez essa postura nas redes sociais seja um indicativo da verdadeira essência bolsonarista, o que assusta com razão, já que a parte técnica ou liberal da economia estaria a serviço, involuntariamente, de um projeto de poder autoritário. É esse o dilema dos liberais hoje.

Lula escreveu a carta ao povo brasileiro e começou seu governo com a austeridade de Palocci e Meirelles. Até Lenin lançou a Nova Política Econômica, com concessões ao capitalismo. E Pinochet convocou os “Chicago Boys” para dar jeito na economia, mas permaneceu por duas décadas no poder. Quem garante que integralistas com inclinação fascistoide não estão usando o liberalismo para um projeto autoritário de poder?

Salim é um craque, um empresário com espírito público como poucos, um liberal de verdade. É preciso escutar sua provocação e refletir sobre isso. Mas é saudável manter a pulga atrás da orelha. Muitos podem estar exagerando nas críticas sim. Ou podem estar antevendo a carranca autoritária por trás do verniz liberal.

Afinal, se chegar um momento em que Bolsonaro precise escolher entre Paulo Guedes e Salim Mattar ou seus filhos, alguém acha que a parte técnica e liberal será capaz de vencer essa batalha?

Rodrigo Constantino

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