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Fala grosso, Aécio! Ou: Por que o tucano não passa dos 15% nas pesquisas
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Há quase um ano, escrevi uma carta aberta a Aécio Neves pedindo que fosse, de fato, líder da oposição ao PT. Chamava a atenção para o delicado momento em que o Brasil vive, com sérios riscos ao próprio modelo democrático, e clamava por um ataque mais veemente ao PT. Nela, eu dizia:

O que me remete ao meu apelo: seja oposição! Não tente competir com o PT em “simpatia popular”, em bandeiras “progressistas”, pois nisso eles têm o monopólio do discurso. Conseguiram criar uma narrativa de que são o povo, defendem o povo, e representam a esquerda. Você vai realmente enfrentá-los sendo parecido com eles, atuando no mesmo tom, ou em cinquenta tons diferentes de vermelho? Derrota certa.

[…] 

Em eleições, os mitos importam. O que o eleitor pensa que o candidato representa é determinante. Quem vota em discurso burocrático de “mais eficiência” na gestão pública? O voto daqueles que sabem que você será mais eficiente que o PT – o que é moleza, convenhamos – você já tem. Mas e os demais?

Não, Aécio. Não será com esse tipo de abordagem que os quase um terço de eleitores ainda indecisos ou de saco cheio da política, sem falar os quase 20% da própria Marina que não sabemos ainda se vai ou não disputar, vão migrar para o seu PSDB e digitar 45 nas urnas em 2014.

[…]

Será que vocês ainda não perceberam que há uma demanda reprimida enorme por uma oposição de verdade, por alguém que vá claramente contra esse modelo atual? Sim, eu falo de bandeiras bem mais liberais ou mesmo conservadoras, firmes, que condenem sem rodeios o bolivarianismo petista, a degradação de valores morais, tradicionais e familiares, o avanço estatal sobre nossos bolsos e nossas vidas. Onde está essa opção?

Claramente, Aécio Neves, se leu minha carta, não se sensibilizou por ela. Adotou justamente a postura do homem simpático, racional, eficiente e transparente, que vai salvar o Brasil com uma boa equipe tecnocrática. Usa termos difíceis em seus discursos e entrevistas, como “aviltar” ou “inexequível”, que o povo não entende. E não consegue subir o tom para bater no PT.

Vejam o último exemplo: o tucano disse que a proposta do PT fracassou pelo “absoluto descompromisso com a ética que envergonha a todos os brasileiros” e pela má condução da economia. “O Brasil parou de crescer. E parando de crescer para de gerar empregos. Por isso a candidata do PT terá muita dificuldade em vencer as eleições”, disse.

Descompromisso com a ética? É sério isso? Parece-me análogo ao sujeito que teve sua casa invadida por criminosos, que mantiveram por horas sua esposa e filhos como reféns, que ameaçaram estuprar sua filha, que roubaram tudo de valor da propriedade, acusar os marginais de “malfeitores”. Pode?

O que o eleitor deve entender ao escutar que o PT teve “absoluto descompromisso com a ética”? Que tiveram alguns casos de corrupção durante seu governo? Isso tem em todos! Isso é fazer o jogo petista, de tratar tudo como equivalente. O que o PT trouxe de novidade foi algo bem diferente.

Foi o aparelhamento total da máquina estatal, com uma verdadeira quadrilha de bandoleiros instalada dentro do seio de nossa República. Foi o mensalão, uma tentativa de usurpar o poder do Congresso, comprando os deputados para não precisar negociar. Foi o desmonte das estatais, transformadas em instrumentos partidários e dutos de desvio de recursos públicos para os companheiros. Etc.

Descompromisso com a ética? Aécio, se um delinquente batesse em você na frente de todos, você diria que ele está “faltando com o respeito”? É essa a postura que se espera de quem pretende ser verdadeira oposição aos mafiosos no poder? É essa a reação de quem deveria denunciar o golpe bolivariano em curso? Como pode deixar a Marina Silva, que foi do PT a vida toda, assumir um papel de oposição mais firme do que você? Ela tem acusado a roubalheira do PT com mais firmeza do que você!

“Minha expectativa é que depois de várias ondas nesta eleição está chegando a hora da onda da razão. E na onda da razão somos nós que vamos vencer as eleições”, disse Aécio. Mas será que realmente acredita que os indecisos vão votar com base apenas na razão?

As pesquisas mostram um Aécio Neves estagnado em 15%, com alta probabilidade de sequer ir ao segundo turno. Parte da explicação é a má qualidade dos eleitores em geral, que realmente são pouco sensíveis aos ditames da razão. Isso aqui é, afinal, Brasil. Mas outra parte é responsabilidade do próprio tucano, que não soube trabalhar sua imagem de oposição firme contra essa podridão que tomou conta do país.

Os antipetistas não tiveram em Aécio um interlocutor fiel para expressar toda a sua revolta com o estrago que esses mafiosos disfarçados de partido político fizeram com nosso Brasil. Eis a triste verdade.

Rodrigo Constantino

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