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Figueiredo estava certo sobre a Copa, diz neto. Mas temos o direito de torcer mesmo assim!
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Fonte: GLOBO

Circula pelas redes sociais a história de que o então presidente João Figueiredo teria recusado a ideia de João Havelange de realizar uma Copa do Mundo no Brasil, pois seu custo seria alto demais e o país teria outras prioridades em meio a tanta miséria.

Seu neto, Paulo Figueiredo Filho, confirma a história em artigo publicado hoje no GLOBO, e reconhece a sabedoria do avô, pois ele mesmo se empolgou e trabalhou em prol da realização desta Copa que começa amanhã, e que custou os olhos da cara para o pagador de impostos.

A estimativa de Havelange na época era de um custo de US$ 1 bilhão, ou R$ 6 bilhões a valor presente. Tal valor estrondoso assustou o presidente Figueiredo. A Copa do PT custou quase R$ 30 bilhões aos cofres públicos! A promessa de uma Copa diferente, bancada basicamente pela iniciativa privada, não se concretizou. A infraestrutura prometida tampouco se materializou. O neto se curva humildemente diante do conhecimento do avô:

Hoje, sete anos depois, às vésperas da competição, eu e boa parte do país somos forçados a reconhecer a sabedoria do meu avô. Pesquisas recentes mostram que o apoio à Copa no Brasil caiu para 52% da população. Pudera: o custo total da competição deve chegar a R$ 30 bilhões. Menos da metade das obras de infraestrutura foi entregue e os estádios viram seus custos de construção quadruplicarem em alguns dos casos mais escandalosos de superfaturamento da história da República. Por pura ganância de alguns, gastamos cerca de R$ 11 bilhões do dinheiro dos contribuintes apenas na construção das arenas da Copa.

O sonho virou pesadelo e, como Figueiredo antecipara, tantos bilhões teriam sido suficientes para custear integralmente casas populares a quase 2,5 milhões de pessoas ou sete vezes e meia o orçamento original da transposição do Rio São Francisco. Mas, em vez disso, acabaremos com estádios de futebol vazios e um gosto amargo na boca do que a Copa poderia ter sido e da chance que desperdiçamos. É, parece que Figueiredo conhecia o Brasil melhor do que ninguém.

As pesquisas comprovam que a maioria dos brasileiros compreendeu isso. O sentimento típico no Brasil é hoje contraditório. Muitos rejeitam a ideia de que a Copa terá efeito positivo para o país, julgando que os benefícios não compensam os custos. Ainda assim, quase 90% dos entrevistados pretendem torcer para o Brasil.

Acredito e espero que o povo esteja preparado para separar as coisas. Uma coisa é condenar a organização do evento, a corrupção, a incompetência, o uso político. Outra, bem diferente, é torcer contra a seleção ou, pior ainda, participar de manifestações violentas que prejudiquem aqueles que querem torcer.

Foi a mensagem de outro artigo publicado no jornal, de autoria do documentarista André Iki Siqueira. O protesto pacífico, a condenação pública, tudo isso é legítimo e parte do pluralismo em uma democracia. Mas é direito de todos os apaixonados por futebol torcer em paz. Não devem pagar o preço pelo descaso do governo. Diz ele:

Mas fiquei perplexo vendo gente por aí queimando álbum de figurinhas da Copa, incendiando a bandeira brasileira, armando e preparando a maior confusão possível para tumultuar todos os dias de jogos. Vão prejudicar diretamente os prejudicados de sempre. Queimem pilhas de álbuns se quiserem, mas não interfiram na liberdade dos outros.

E, apesar de tudo isso, acho que não será diferente: a bola vai rolar bonita dentro dos campos, os jogos serão transmitidos para todo o planeta, com nossas praias e belezas, a Fifa vai lucrar absurdamente, e eu espero que o Brasil fique com a taça. Eu vou torcer, mas vou cobrar depois, nas urnas.

Conheço pessoas que não aceitaram trabalhar na Copa com medo dos protestos. Já soube de gente que se sente constrangida, com receio de colocar bandeira brasileira no carro ou vestir a camisa canarinho e sofrer agressões. É um absurdo! Querem protestar, protestem, mas deixem o povo torcer em paz!

De acordo. Não gosto nada desse clima crescente no país de que os revoltados têm direito de impedir os direitos dos outros. É esse tipo de mentalidade que pariu os black blocs, por exemplo. O PT está conseguindo destruir o país, ao dividi-lo o tempo todo e ao incitar o uso da violência como instrumento “legítimo” de demanda popular. Não podemos deixar o PT estragar nossa paixão pelo futebol também. Como diz Roberto DaMatta em sua coluna de hoje no mesmo jornal:

Para nós, pentacampeões, a taça da vitória que hoje é um pesado troféu, um tanto cafona na sua ostentação aurífica, seria a prova de que o nosso sangue mestiço é nobre, e não o testemunho de fatal inferioridade. Ganhar a Copa no Brasil, em pleno território nacional, portanto, resgataria a tal prosperidade e a santa paz prometida pelo velho populismo esquerdista que, cada vez mais corrupto e dissimulado, tem desonrado muita coisa, menos — assim espero — o futebol.

Rodrigo Constantino

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