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sun life

Leitores sempre me pedem para comentar mais sobre a vida na Flórida, comparando-a com a do Brasil. Pois bem: peço licença aos mais interessados em política, assunto do qual voltarei a falar em breve, para relatar a “experiência cultural” que é um jogo de Football aqui. Fui ver, ainda na “pré-season”, o Dolphins de Miami apanhar dos Buccaneers de Tampa, no belíssimo Sun Life Stadium. É, em resumo, um show de entretenimento.

Para começo de conversa, a organização. Os milhares de carros – sim, tudo que é americano, de qualquer classe social, possui um carro decente, para verem como o capitalismo é desgraçado – chegam e vão se enfileirando, como acontece nos parques temáticos da Disney em Orlando. Vários policiais ajudam para não deixarem virar uma zona caótica. A capacidade é para quase 25 mil carros. Como diz um amigo meu, aqui as coisas funcionam.

O estádio é um show à parte. Muito bonito, grande, extremamente limpo, mais parece um shopping center. Fiquei a pensar: quanto custou esse troço todo moderno? E depois lembrei de que a reforma do Maracanã custou bilhão. Isso sem falar dos elefantes brancos construídos em Brasília e Manaus. Agora já ficou mais claro para o brasileiro que isso atendia aos interesses da Odebrecht e do Brahma, o lobista da empreiteira (também conhecido por seu boneco Pixuleco 13-171), mas jamais dos pagadores de impostos brasileiros.

Ah sim, um detalhe: a renovação do Sun Life Stadium, orçada em $ 350 milhões, foi totalmente financiada pela iniciativa privada! Isso mesmo: o estado não se mete. Os americanos não precisam do governo “benevolente” para terem acesso a lazer esportivo de qualidade. Claro, com Obama e companhia as coisas nos Estados Unidos cada vez se parecem mais com as latino-americanas, mas as instituições têm resistido razoavelmente bem ao avanço populista e intervencionista dos Democratas.

Preciso comentar o quesito segurança? Basta mencionar que você pode ir com seu Rolex ou seu Cartier, e as mulheres podem usar jóias à vontade, que não vão sofrer um só segundo de tensão ou medo. Como eu disse, a sensação é a de que estamos num shopping center, rodeados por policiais de bom nível e famílias com seus pequenos filhos, todos em busca de diversão. Não há aquele clima hostil que sentimos nos estádios brasileiros, dominados por torcidas organizadas. A cerveja é liberada, pois os americanos sabem que não é o álcool que causa a violência, e sim a impunidade.

Agora vamos ao espetáculo em si. Americano sabe fazer essas coisas. As cheerleaders parecem todas modelos da Victoria Secret, e são profissionais na dança, com muita precisão, resultado de bastante treino. Levam a sério aquela sua função de embelezar o evento, mantendo sempre um sorriso no rosto. A cada pequeno intervalo, música boa e animada, mascotes divertindo a garotada, e os dois imensos telões de alta-resolução capturando momentos impagáveis do respeitável público. A turma vai ao delírio.

Na minha frente, uma dupla improvável, um coroa que era uma figura torcendo para os Dolphins, e outro que tinha um estilo rapper torcendo para o time de Tampa. Claro, estava isolado, em meio a torcedores de Miami, e como provocava a turma! Com seu time ganhando, o rapaz não parava de gritar: “olhem o placar!”. Fiquei imaginando um torcedor de um time de fora fazendo isso no Maracanã contra o Flamengo ou o Vasco, no meio da torcida adversária. Ele conseguiria sair vivo de lá?

Enfim, o Football é tradição por aqui. Desde cedo os garotos sonham em ser o quarterback do time da escola, as meninas em ser a cheerleader, como cansamos de ver nos filmes. Ver tudo isso concretizado num espetáculo profissional, bem organizado, animado, seguro e totalmente familiar é algo bonito. O Football está para os americanos como o futebol (soccer) está para os brasileiros. A “pequena” diferença é que eles souberam fazer disso algo sério, profissional e, principalmente, acessível e agradável para milhões de famílias de todas as classes.

Já o Brasil, o “país do futebol”, consegue cada vez mais afastar as famílias dos estádios, enquanto os próprios times se afundam em dívidas, desorganizados, geridos de forma incompetente e corrupta, dominados por marginais, como quase tudo em nosso país. Ir ver um jogo de futebol no Brasil não é um evento, um grande entretenimento familiar, e sim uma aventura arriscada, repleta de obstáculos e ameaças. Não surpreende cada vez mais gente ficar ligada aos jogos europeus…

O Brasil é mesmo o país das oportunidades perdidas. E cansa, como cansa!

PS: Durante um intervalo do jogo, uma surpresa à parte. Um sujeito para bem na minha frente e pergunta: “Rodrigo Constantino?” Era um fã do meu blog, que acompanha há mais de um ano. Diz que foi graças aos meus textos que conseguiu abandonar o comunismo enfiado goela abaixo por seu professor em Ouro Preto, e que resolveu tentar a sorte nos Estados Unidos. Resultado: mora aqui há um ano, trabalhou nas reformas do estádio, e está muito feliz. Nunca podemos subestimar a influência – positiva ou negativa – que nossas palavras têm. Aceito a responsabilidade de bom grado, pois sei que defendo algo melhor, um sistema que gera oportunidades para todos, e o faço com convicção e independência. Fiquei emocionado com o feedback, confesso, pois nem sempre temos a dimensão da coisa. E lamentei, em seguida, por todos aqueles que acabam sendo influenciados pelos “formadores de opinião” errados, pelos vendidos ao governo, pelos vendedores de utopias, pelos populistas e canalhas. Essa gente causa um estrago e tanto por aí, e depois vai curtir as férias em Paris. Como podem dormir com a consciência tranquila?

Rodrigo Constantino

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