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George H.W. Bush: um homem moderado e de caráter, mas nem por isso respeitado pela esquerda
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A morte de George H.W. Bush recebeu pouca atenção na mídia nacional, e o destaque maior foi para a cena comovente de seu cachorro que se recusava a sair de perto do caixão. Um jornal chegou a escrever o nome do ex-presidente errado, confundindo com o parque de diversão em Orlando. Mas o fato é que George Bush pai era uma pessoa muito querida na América, e mereceu um tocante tributo do vice-presidente Mike Pence.

Na segunda-feira, falando na cerimônia no Capitólio dos Estados Unidos para comemorar a vida de George H.W. Bush, o 41º presidente dos Estados Unidos, o vice-presidente Mike Pence contou uma bela história sobre Bush o filho de Pence, Mike, aviador da Marinha, que ocorreu apenas alguns meses antes de Bush falecer. A história foi uma homenagem à classe, elegância e força do homem que serviu seu país de muitas maneiras.

Bush pai tinha o hábito de escrever muitas cartas, e responder as várias que recebia. Pence mencionou uma dessas cartas, que seu filho recebeu recentemente, mesmo quando o ex-presidente não tinha mais condições de assinar ou escrever com a mesma frequência. Pence disse:

Agora, fomos informados pela equipe que o presidente já havia terminado a prática de assinar autógrafos, e nós entendemos isso. Mas para minha surpresa, bem a tempo da chegada do meu filho, veio não apenas uma fotografia assinada, mas, claro, uma carta assinada à mão também – agosto de 2018. Nessa carta, o presidente Bush escreveu ao meu filho. , em suas palavras: “Parabéns por receber suas ‘asas de ouro’. Eu sei o quanto você e sua família estão orgulhosos neste momento.”

E então, em palavras que nos asseguraram que a carta veio diretamente dele, ele escreveu: “Embora não tenhamos nos encontrado, eu compartilho o orgulho que seu pai tem por você durante esta ocasião memorável. E desejo-lhe muitos dias CAVU à frente. Tudo de bom, G Bush.

Eu aprendi que esse acrônimo, CAVU, é um termo que os pilotos da Marinha usaram desde a Segunda Guerra Mundial. Ele significa Teto e Visibilidade Ilimitada.

O Presidente Bush descreveu a CAVU, em suas palavras, como “o tipo de clima que os pilotos da Marinha queriam quando voávamos no Pacífico”. E uma vez ele escreveu uma carta para seus filhos dizendo que a CAVU, em suas palavras, “descreve minha própria vida como tem sido ao longo dos anos, como é agora”. Teto e Visibilidade Ilimitada.

Você sabe, isso pode descrever bem a essência deste homem. E pode bem ter sido sua visão. A visão que ele teve para sua vida, para seus filhos, filhos de seus filhos e seu país: sem barreiras, sem fronteiras, sem limites.

Já num artigo para o Townhall, Cal Thomas revive alguns momentos que compartilhou com Bush e fala sobre sua postura política:

Bush não era o favorito dos conservadores, que acreditavam que ele seria o terceiro mandato de seu antecessor, Ronald Reagan. Quando ele prometeu uma “nação mais gentil”, alguns pensaram que ele estava sendo crítico de Reagan. De fato, pode-se argumentar que não foi Reagan quem foi indelicado e descortês, mas seus críticos.

Bush hesitou quando quebrou a promessa de “leia meus lábios, sem novos impostos” em troca de uma promessa dos congressistas democratas de cortar gastos. Os democratas conseguiram aumentar seus impostos, mas não entregaram cortes nos gastos. Ele também aguentou o calor para nomear David Souter para a Suprema Corte. Souter foi vendido a ele como conservador pelo chefe do Estado-Maior John Sununu, mas acabou por decidir com a ala “liberal” do tribunal. Ainda assim, ele deu aos conservadores Clarence Thomas, um sólido originalista constitucional.

Como presidente, Bush trouxe a atitude certa em relação ao colapso da União Soviética, alertando os americanos de que não deveriam se engajar em triunfalismo pelo colapso do regime comunista (muitos celebraram de qualquer maneira) e pelo fim da Guerra Fria por causa da incerteza do que poderia se seguir. Ele também ordenou que os militares expulsassem as forças de Saddam Hussein após invadirem o Kuwait, uma operação altamente bem-sucedida.

Qualquer epitáfio sobre a vida de George H.W. Bush deve incluir pelo menos três palavras: caráter, honra e integridade. De seu serviço na Segunda Guerra Mundial, a sua carreira política e pós-presidência, sem mencionar sua fidelidade a Barbara, sua esposa de 73 anos.

Talvez uma das razões pelas quais ele parece tão atraente seja seu contraste com o atual clima político amargo e corrosivo. Não é provável que vejamos sua espécie novamente, mas teremos sua memória e exemplo para lembrar ao considerar a definição da palavra cavalheiro.

Estou vendo uma série muito boa, documentário original da Netflix, chamada “Medalha de Honra”. Algo como 40 milhões de americanos já passaram pelas Forças Armadas, mas menos de 3600 receberam a mais alta honraria militar, por atos de bravura e coragem que desafiam até o instinto de sobrevivência. É o sacrifício máximo pela Pátria, pelos companheiros de pelotão, pela América. Na abertura, falas de Reagan, Bush pai e até Obama. O respeito por esses heróis é o denominador comum que une ex-presidentes, ao menos nos discursos. Sabemos que os republicanos costumam ter mais apreço pelos homens de uniforme. E Bush era um desses, que lutaram para preservar as liberdades dos civis.

A Associated Press teve que apagar um tuíte justamente porque ignorou esse aspecto em sua biografia e gerou revolta pelo insulto ao ex-presidente. No sábado, enquanto o mundo descobria sobre a morte de George H.W. Bush, a Associated Press gerou uma grande dose de indignação com um tuíte insultuoso. Hoje, a AP deletou aquele tuíte e colocou uma nota no Twitter:

Mas a justificativa não captura realmente o teor da primeira mensagem. Não foi apenas a omissão sobre seus serviços militares na Segunda Guerra, e sim coisa bem pior. Eis uma imagem do tuíte original que foi apagado:

Referir-se ao ex-presidente como um “patrício New Englander” e lançar luz sobre sua derrota política de forma tão negativa foi algo visto como óbvio desprezo pelo líder republicano recém-falecido, com toda razão. E a reação foi imediata, a ponto de levar a AP a retirar seu comentário original.

Normalmente os jornalistas, quase sempre com viés de esquerda, douram a pílula dos republicanos que já morreram, para impor uma narrativa de que eram muito melhores do que os atuais, uma ameaça concreta ao projeto de poder democrata. Mas o clima anda tão ruim e polarizado, com uma esquerda cada vez mais radical, que nem mesmo uma figura como George Bush pai mereceu o devido respeito na hora da morte.

Logo ele, que foi moderado ao extremo, educado e refinado, qualidades que faltam ao atual presidente, algo que mesmo um republicano conservador pode admitir. Se Bush é tratado assim, então o que esperar de Trump? E por que haveria o estímulo a uma conduta decente se ela nem é reconhecida pela imprensa?

Rodrigo Constantino

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