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Greg, a esquerda caviar e o monopólio da virtude
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Luciana Genro e Greg: adoram o socialismo… para os outros!

Sei que muitos leitores acham que dou trela demais para o “humorista” Gregorio Duvivier, aquele que se esforça muito para ser um novo Chico Buarque da vida, ícone da nossa esquerda festiva. Mas me sinto como Darwin observando as tartarugas em Galápagos, e por isso insisto no penoso ofício de ler aquela coluna na Folha toda segunda-feira. Gosto de saber o que essa gente diz por aí, pois é importante verificar a estratégia da esquerda caviar. Ela ainda seduz alguns incautos.

No texto de hoje, Greg usou e abusou das principais táticas pérfidas dos esquerdistas. Atacou a “elite”, da qual assume fazer parte (dessa forma tentando se mostrar mais “consciente” e “descolado” do que seus pares), recorrendo a caricaturas absurdas do passado. Por exemplo: a elite teria sido contra o fim da escravidão. O “humorista” só ignora que foram liberais, não socialistas como ele, que lutaram pela abolição. Gente como Joaquim Nabuco no Brasil, ou os quacres religiosos na Inglaterra.

Em seguida, ele associa a elite a Collor, ignorando que a alternativa era Lula, mas um Lula ainda pior do que o atual, se isso for possível. Um barbudo raivoso que falava em calote da dívida externa e confisco de propriedade dos “ricos”. Como seria o Brasil hoje se em 1989 tivesse dado PT? Se mesmo hoje o partido está conseguindo destruir o Brasil, o que teria feito naquela época? Seríamos a Venezuela já. Mas Greg ridiculariza o risco, ainda hoje, como se falar das Farc ou do Foro de São Paulo e sua ligação com o PT fosse pura paranoia da elite.

A mesma tática é usada para falar de 1964. Em primeiro lugar, não foi a elite que clamou pela intervenção militar, mas a classe média (Greg faz constante confusão entre ambos, ignorando que ele é da elite festiva, enquanto muito trabalhador de classe média, longe do conforto que ele tem na vida, defende valores conservadores e liberais, não socialistas). Ao fazer isso, ignora o contexto e, novamente, ridiculariza o “fantasma comunista”, que era bem real na época da Guerra Fria.

Por fim, vem o velho truque da esquerda: monopolizar as virtudes, os fins nobres. Greg dá a entender que é a pobreza a causa da criminalidade (bandeira típica da esquerda), e que o caminho para reduzir ambos é distribuir recursos, de preferência pela coerção estatal, mas pode ser por filantropia também:

Você sabe que lá fora você pode abrir seu laptop na praça, pode deixar a porta aberta, a bicicleta sem cadeado. Mas lá fora, não esqueça, é você quem limpa a sua privada. Você já relacionou as duas coisas?

Nos países em que você lava a própria privada, ninguém mata por uma bicicleta. Nos países em que uma parte da população vive para lavar a privada de outra parte da população, a parte que tem sua privada lavada por outrem não pode abrir o laptop no metrô (quem disse isso foi o Daniel Duclos).

Não adianta intervenção militar, não adianta blindar todos os carros, não adianta reduzir a maioridade penal (SPOILER: isso nunca adiantou em lugar nenhum do mundo).

Sabe por que os milionários americanos doam tanto dinheiro? Não é por empatia pelos mais pobres. Tampouco tem a ver só com isenção fiscal. Doam porque sabem que, quanto mais gente rica no mundo, mais gente consumindo e menos gente esfaqueando por bens de consumo.

Um pobre menos pobre rende mais dinheiro para você e mais tranquilidade nos passeios de bicicleta. A gente quer o seu (o nosso) bem. É melhor ser a elite de um país rico do que a de um país pobre.

Curioso mencionar os países ricos e depois a maioridade penal: SPOiLER: todos possuem uma idade penal menor! O Brasil tem uma das legislações mais brandas, tratando marginais de 17 anos como crianças (à exceção da hora do voto). Isso o Greg não diz. Assim como não diz que é possível abrir o laptop na praça pública ou no metrô pois não há impunidade. Pobreza há, bem menos, é verdade, mas há. O que não há nos países desenvolvidos é a impunidade que a esquerda do Greg ajuda a fomentar com seu discurso sensacionalista que transforma bandido em “vítima da sociedade”.

Mas chega a ser hilário ver o Greg colocando a carroça na frente dos bois e trocando causa e efeito. Ou seja, há pouca pobreza nesses países porque os ricos lavam suas privadas, e não o contrário: os ricos lavam as privadas porque há pouca pobreza, logo, custa muito caro ter empregada doméstica. Talvez Greg “pense” que a solução é decretar aumento de salário e benefícios para as domésticas, em vez de entender que, nesses países ricos, há menos “conquistas trabalhistas”. Como já escrevi aqui, desse ser terrível ser uma faxineira desamparada nos Estados Unidos…

Greg conclui com uma frase verdadeira: é melhor ser a elite de um país rico do que a de um país pobre. Isso é óbvio. É melhor ser pobre de um país rico do que pobre de um país pobre. Também é melhor ser classe média de um país rico do que de um país pobre. O óbvio ululante: é melhor ser um país rico do que um país pobre! A questão toda é saber como o país pode ficar mais rico. A resposta, segundo todas as experiências históricas e a boa teoria, é o capitalismo liberal. Para Greg, a resposta está em distribuir a riqueza dos ricos, pelo visto. Ou seja, ele “pensa” que riqueza é um jogo de soma zero, algo estático.

Só não dá para entender, então, porque ele mesmo não começa fazendo sua parte. Já que ele é da elite, como admite, e da ala rica da elite, ao contrário de muitos trabalhadores da classe média que ele condena pelo conservadorismo, por que ele não pratica filantropia e não reduz as desigualdades dando parte de sua fortuna para os mais pobres? Não é essa a saída para o problema da criminalidade, segundo o próprio? Então o que ele está esperando exatamente? Aliás, os capitalistas ricos dos EUA fazem isso: por que os socialistas ricos do Brasil não podem fazer o mesmo?

A menos que tudo não passe de um discursinho hipócrita para a própria elite culpada que lê a Folha e compra seus livros. Seria isso? Ó, céus! Seria Greg uma espécie de Chico Buarque mesmo, que defende Cuba de Paris, que prega mais igualdade e socialismo de sua cobertura no Leblon, que aplaude até os invasores do MST de seu campo particular para peladas no Recreio? Como é doce a vida hipócrita da esquerda caviar, não é mesmo? E como é divertido o meu ofício darwinista de dissecar a espécie à luz do dia. E meus leitores ainda querem me tirar esse prazer!

PS: Pergunto-me: quando foi a última vez que Greg lavou a própria privada? Tenho para mim que ele escreve esses textos nela, mas duvido que meta a mão na massa depois…

Rodrigo Constantino

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