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Os desencontros na comunicação entre o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , e o ministro da Economia, Paulo Guedes , levaram o presidente Jair Bolsonaro a arbitrar na segunda-feira o primeiro atrito na sua equipe de governo. Contra as notícias de conflito entre a “ala política” e a equipe econômica sobre as primeiras medidas de sua gestão, Bolsonaro chamou ao gabinete, logo no início da manhã, Onyx e Guedes para afinar o discurso.

O vice, Hamilton Mourão, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, também foram convocados para ajudar na tarefa. No meio da tarde, a Casa Civil chegou a divulgar uma foto em que Onyx e Guedes aparecem almoçando no Palácio do Planalto.

Os embates entre o homem forte da economia e a ala política do Planalto, encabeçada por Onyx, têm a reforma da Previdência como tema principal. Enquanto Guedes é a favor de um proposta com efeito de longo prazo, Onyx defende um texto que tenha facilidade de aprovação, mesmo que o impacto nas contas públicas seja limitado — na campanha, por exemplo, chegou a dizer que era contrário ao projeto enviado ao Congresso pelo ex-presidente Michel Temer. Na semana passada, em entrevista ao SBT, Bolsonaro falou de detalhes da reforma que não estavam nos planos da equipe de Guedes.

— Lógico que não teve rusga. Nem carrinho por trás, nem tesoura voadora, não teve nada. Hoje (ontem) de manhã eles se encontraram. “Best friends“ — disse Heleno, que admitiu as dificuldades típicas de um início de governo:

— Não é uma novidade, em início de governo, ter alguns desencontros. Hoje já houve uma conversa muito boa. A prova que até andaram levantando se havia desgaste no relacionamento dele com o Paulo Guedes. Acho que aqui ficou provado que é pura invenção. Não existe nada disso. E acho que esse entrosamento vai ser cada vez maior, porque, quando a gente ouve um discurso, e eles não são combinados, a gente percebe que há uma identidade de propósitos — disse o ministro do GSI.

Após o encontro, Guedes também reverberou o clima de harmonia:

— Todo mundo acha que tem uma discussão entre nós, uma briga. Nós somos uma equipe muito, muito sintonizada.

Identidade de propósitos é o que deve manter a equipe sintonizada. Guedes e Onyx não precisam ser “best friends”. O importante é que o chefe de ambos entenda realmente a urgência das reformas liberais, especialmente as mudanças na Previdência, que não podem ser cosméticas. Bolsonaro demonstrou humildade na área econômica ao longo da campanha inteira, apontando para seu “posto Ipiranga”, e reforçou a mensagem agora:

— O desconhecimento meu ou dos senhores em muitas áreas, e a aceitação disso, é um sinal de humildade. Tenho certeza, sem qualquer demérito, que eu conheço um pouco mais de política que o Paulo Guedes. E ele conhece muito mais de economia do que eu.

O problema é se a ala política tiver mais peso na largada, na hora de apresentar a proposta. Tanto Onyx como o próprio Bolsonaro já deram sinais de fraqueza na questão da reforma, e se seus respectivos conhecimentos políticos prevalecerem sobre o conhecimento econômico do ministro Guedes, então a proposta já vai nascer capenga, tímida demais.

Se o desenho for o possível para ser aprovado no Congresso, sem melindrar grupos de interesse e com o cuidado de agradar companheiros no pior estilo corporativista, então Guedes terá emprestado seu nome para um engodo, praticamente uma farsa, já que não se pode chamar de choque liberal um modelo que deixa intactos os privilégios do setor público na questão das aposentadorias. Cortar na carne é preciso.

Se Guedes for “amigo” de Onyx, então a reforma previdenciária vai subir no telhado e a economia não vai deslanchar. O Brasil precisa dessas mudanças, e Guedes sabe disso. Melhor, então, que haja atrito dentro da equipe, entre as alas econômica e política, do que a ala econômica se curvar diante da política, já que o contrário parece menos provável. A presença de Onyx Lorenzoni como articulador tem enfraquecido a posição mais firme de Guedes.

A “amizade” entre ambos não interessa ao Brasil, se significar concessões demais por parte do ministro da Fazenda. Essa briga é uma que vale – e deve – ser comprada. E Guedes terá o apoio da maioria, especialmente daqueles mais esclarecidos que sabem que sem uma reforma previdenciária séria, os resultados do novo governo serão medíocres.

Rodrigo Constantino

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