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Homenagem a Ayn Rand: A sanção das vítimas
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No dia 2 de fevereiro de 1905, em São Petersburgo, nascia Alisa Zinov’yevna Rosenbaum, que ficaria mundialmente conhecida como Ayn Rand. Como alguns sabem, sou autor de um pequeno livro sobre a filósofa russa, e já fui um empedernido defensor de seu Objetivismo, do qual ainda guardo muitas lições importantes. Segue, abaixo, um dos textos desse livro, em homenagem a esta incrível combatente do coletivismo.

A sanção das vítimas

“Tudo que é necessário para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)

No filme V de Vingança, que conta a história futurista de uma Inglaterra dominada por um governo totalitário, o rebelde, conhecido apenas por V., faz um pronunciamento público com uma passagem que marca a mensagem do filme, na minha opinião. Nesta passagem, V., que luta sozinho contra o autoritarismo estatal, destaca que a culpa pela presente situação do povo é de ninguém menos que do próprio povo.

“Se querem achar um culpado, que olhem no espelho”, é o recado do justiceiro. De fato, a maldade no mundo costuma ser possível somente pela sanção das vítimas. Na mesma linha de Burke, Ayn Rand afirmou que “o mal do mundo é possível por nada além da sanção que você lhe dá”.

Dizem que cada povo tem o governo que merece. Seria uma outra maneira de falar que a culpa de um governo totalitário reside no próprio povo. Claro que muitos foram inocentes vítimas de uma carnificina injusta como a perpetrada por Stalin. Mas será que o ditador teria se mantido no poder por tantos anos sem um apoio de boa parte da população, ainda que contando com um regime de terror?

O mesmo vale para Hitler, cujo Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista chegou ao poder pelo voto. É evidente que o medo incutido pelos governantes nos leigos é uma poderosa arma de sedução. Um povo aturdido, em pânico, miserável e ignorante sempre será presa mais fácil para o oportunismo dos líderes sem escrúpulos. Mas será que, no final do dia, não está no espelho o reflexo do verdadeiro culpado?

Toda ação gera uma reação. Quando o estado mental da vítima de uma ação maléfica é de letargia total, ou até mesmo aprovação masoquista, como culpar somente o autor da ação? Quando a covardia domina os bons, como culpar unicamente os maus? Os alemães que foram complacentes com os nazistas, os soviéticos que contribuíram para a causa comunista, todos esses merecem sua parcela de culpa. Não era Lênin quem dizia que os burgueses venderiam para o governo a própria corda que iria enforcá-los?

O personagem de V. no filme lembra a figura de Ragnar Danneskjöld, no livro Atlas Shrugged. Ragnar é um rebelde cujos métodos nem todos os companheiros de causa aprovam. Ele seria um Robin Hood dos velhos tempos, que utilizava a força para resgatar o que as autoridades tinham roubado do povo. Não quer dizer tirar dos que têm mais para distribuir aos que necessitam, mas sim tirar de quem pegou à força e devolver para quem era o verdadeiro dono.

Adotando a prática da pirataria, ele recupera do governo aquilo que foi extorquido dos pagadores de impostos, guardando tudo em forma de ouro para depois ressarcir os verdadeiros donos de tal riqueza – aqueles que a criaram. Em certa passagem, Ragnar diz que um dia os brutos, que acreditam que podem governar seus melhores pela força, irão aprender a lição do que acontece quando a força bruta encontra a mente e a força. Eis o cenário da novela de Rand, onde os cérebros pensantes resolvem parar de colaborar com os parasitas. Quando as vítimas decidem não mais contemporizar com seu algoz, quando os bons suspendem a sanção do mal, quando os hospedeiros não mais ficam passivos diante de seus parasitas, eis quando o mal deixa de triunfar.

Benjamin Franklin disse: “Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”. A mensagem é bastante clara: vender a alma ao diabo em troca de migalhas é o caminho para a servidão. E este caminho é possível justamente pela complacência dos bons, que calam-se ou até compactuam com o mal. A solução é dar um basta a esta sanção das próprias vítimas.  

Rodrigo Constantino

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