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A imprensa mainstream precisa de uma autocrítica para sair da bolha
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Tem sido tema recorrente aqui: a bolha “progressista” em que a maioria dos jornalistas entrou e não consegue sair. Parte por (de)formação ideológica, que vem desde a faculdade de jornalismo tomada por marxistas, parte por se enxergarem como “intelectuais orgânicos” numa revolução, bem ao gosto de Gramsci, o fato é que muitos desses profissionais da mídia têm errado feio em suas “análises”, pois se parecem mais com torcida.

É curioso alguém como eu atacar tanto a mídia mainstream, se ao mesmo tempo tive e tenho amplo espaço nela. Fui colunista da revista Veja e do jornal O GLOBO, e hoje tenho coluna na revista IstoÉ, esse blog na Gazeta do Povo e, agora, espaço como comentarista na rádio Jovem Pan. Mas é que sou um caso “borderline”: se coloquei um pé na grande imprensa, o outro sempre esteve fora, nas redes sociais, de forma totalmente independente.

E creio que as portas que se abriram para mim na imprensa se devem justamente à percepção de seus proprietários acerca da necessidade de uma guinada mais à direita, para ao menos se tornarem mais plurais. O público demandava e ainda demanda mais opiniões fora da hegemonia esquerdista. Mas, se é possível ver avanços com a contratação de vários nomes associados ao liberalismo e ao conservadorismo, é verdade que ainda falta muito para a mídia mainstream ser considerada imparcial em seu jornalismo.

O viés ideológico ainda é forte, e há muita gente que considera sua missão, como jornalista, a de esclarecer os “alienados” sobre política e cultura. Ou seja, em vez de relatar notícias da forma mais isenta possível, respeitando a inteligência do público, eles preferem enfiar ideologia goela abaixo do leitor, telespectador ou ouvinte, que cobra um preço elevado por isso: a perda de audiência. Para sair dessa sinuca de bico, os veículos de comunicação precisam de uma autocrítica urgente, como defende Carlos Alberto Di Franco em sua coluna de hoje, citando outro respeitado jornalista, J.R. Guzzo:

A eleição de Jair Bolsonaro escancarou uma virada cultural profunda, que sacode os alicerces do jornalismo tradicional. A imprensa, no entanto, parece estar paralisada pela síndrome da negação. De costas para as mudanças que estão gritando na nossa frente, na queda da circulação, na diminuição das audiências, aferra-se a um passado que não voltará mais.

As empresas de conteúdo, éticas e independentes, são essenciais para a democracia. Mas precisam se reinventar. E parte importante dessa mudança, urgente e necessária, passa por uma autocrítica sincera, que não briga com a realidade e com a força dos fatos.

Muitos foram os recados dessa eleição disruptiva. O presidente eleito soube captar o pulsar profundo da sociedade. O Brasil real estava algemado pela interdição da ideologia. Sua mensagem – na política, na economia, na segurança pública, na defesa da família e dos valores – foi ao encontro de um sentimento latente na alma nacional. Isso explica boa parte do seu desempenho. Sem dinheiro, sem partido, sem televisão e sem apoio midiático, Bolsonaro transformou-se num fenômeno eleitoral.

[…]

Guzzo, armado de uma retórica afiada, lança uma saraivada de indagações procedentes: “Por que a mídia ignorou a lista de desejos, claríssimos, que a maioria da população estava apresentando aos candidatos? Por que não tentou, em nenhum momento, entender por que um número cada vez maior de eleitores se inclinava a votar em Jair Bolsonaro? Durante meses seguidos, os comunicadores brasileiros tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer para todos se Bolsonaro continuasse indo adiante – mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país”.

“A mídia, na verdade, convenceu a si própria de que não estava numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passou a torcer e a trabalhar por um lado da campanha, convencida de ter consigo a ‘superioridade moral’. Resultado: disputou uma eleição contra Jair Bolsonaro e perdeu, por mais de 10 milhões de votos de diferença. Não é função dos órgãos de comunicação disputar eleições”, concluiu Guzzo.

Ambos estão cobertos de razão. E ambos atuam na mídia mainstream há décadas. Infelizmente, a postura de seus colegas de trabalho não é a mesma. Não buscam relatar fatos com a maior objetividade possível, pois deixam a lente partidária falar mais alto. Basta lembrar, como menciona Di Franco, de quanto tempo a imprensa insistiu na candidatura de Lula, sendo que era evidente que ele, preso, jamais seria candidato. Era o desejo turvando a razão, algo inaceitável no bom jornalismo.

“A imprensa de qualidade, séria e independente, é essencial para o futuro da democracia”, diz Di Franco. E eu concordo. Alguns mais radicais festejam a “morte da imprensa”, como se ela de fato pudesse ser substituída pelas redes sociais sem perdas. Não acho que pode. Acho que são funções distintas, e que as redes sociais vieram trazer o desinfetante da transparência para um viés ideológico que permanecia oculto antes.

Mas essa lufada de ar fresco deveria justamente servir para tal autocrítica e mudança no jornalismo. A gritaria e a cacofonia das redes sociais não são capazes de assumir o papel do jornalismo sério e sistemático, que vive de correr atrás de notícias com fontes primárias. Basta dizer que meu trabalho mesmo, muitas vezes, é o de “media watch”, ou seja, de opinar e criticar em cima de notícias reveladas por jornais, para cobrar mais imparcialidade ou apontar os desvios. Continuamos, portanto, precisando desses jornalistas que vão atrás dos furos de reportagens. Eles só deveriam se ater mais aos fatos e deixar sua ideologia de lado…

Rodrigo Constantino

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