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Invejosos do mundo: uni-vos!
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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Qualquer pessoa que já tenha entrado numa academia de ginástica, certamente já reparou na enorme desigualdade física dos indivíduos que frequentam o lugar. Há mulheres com bumbuns lindos e pernas perfeitas, enquanto outras desfilam verdadeiras tábuas de passar roupa no lugar do bumbum e caniços no lugar das pernas. Há homens com bíceps, tríceps e abdomens avantajados e bem definidos, enquanto outros, como eu, insistem em desfilar suas barrigas enormes e musculatura atrofiada.

Apesar dessa imensa desigualdade – e da inveja que isso certamente causa em muitas pessoas -, nunca vi ninguém clamando por redistribuição de músculos, ou idealizando revoluções igualitárias a fim de tornar os corpos de todos parecidos. O motivo disso é simples: não há como tirar músculos dos fortões e transferir para os fraquinhos. O máximo que alguém conseguiria, para satisfazer os invejosos, é proibir os marombeiros de frequentar academias.

Um corpo mais ou menos musculoso, mais ou menos bonito depende de muitas coisas: a genética conta muito. Homens de ascendência africana têm mais chance de obter músculos grandes do que os de ascendência europeia. O mesmo vale para os bumbuns e coxas femininos. Além disso, conta muito também o volume de exercício de cada um, a alimentação, bem como a idade de cada praticante. Enfim, por mais que quiséssemos, jamais conseguiríamos estabelecer um igualitarismo físico.

Já quando o assunto é desigualdade de renda e riqueza, a coisa muda de figura. Ao contrário dos músculos, o dinheiro e os bens que alguém possui poderiam, hipoteticamente, até com alguma facilidade, lhe serem retirados à força e redistribuídos a outras pessoas. Embora a obtenção de riqueza, em muitos casos, dependa de fatores semelhantes aos do ganho muscular – herança genética, esforço próprio, determinação, etc. -, os invejosos sabem que sempre será possível tirá-la de uns para dar a outros. É essa possibilidade que torna a redistribuição de renda algo tão popular.

Guilherme Boulos, por exemplo, escreve hoje na Folha de São Paulo, mais um daqueles indefectíveis artigos que têm como pano de fundo os dados da famigerada ONG Oxfan, “demonstrando” que o 1% mais rico da população mundial tem mais do que os 99% restantes.

Depois de desfilar dados e números, Boulos fecha o seu libelo igualitarista da seguinte maneira:

“O capitalismo fracassou em suas promessas. O mundo de hoje é muito mais desigual que o do século passado. Nem todos os perfumes da Arábia, nem o cinismo do discurso neoliberal conseguirão maquiar esta realidade.

Aí está Bernie Sanders, pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos. Aí está o “Podemos”, na Europa. E o fortalecimento de diversos movimentos populares mundo afora. Será difícil silenciá-los ante a profundidade do abismo que separa o 1% da maioria trabalhadora.”

Será mesmo? Embora eu nunca tenha ouvido qualquer promessa feita pelo capitalismo, é inegável que este modelo de organização econômica e social tem dado aos pobres da Terra muito mais chances do que qualquer outro, ainda que as desigualdades de renda e riqueza possam ter aumentado.

A pergunta óbvia, mas que quase ninguém faz quando alguém afirma que o capitalismo aumentou a desigualdade é: quais eram os níveis de concentração de renda nos períodos pré-capitalistas?  Por acaso a distribuição da riqueza era mais igualitária naqueles tempos?  Decerto, não há como responder com precisão a tais questões, pois esse tipo de investigação estatística é muito recente.  Entretanto, uma rápida olhada nos livros de história da humanidade nos levaria a concluir que as diferenças eram ainda maiores antes.

Durante a Idade Média, período do feudalismo, havia, basicamente, três classes de gente. Em primeiro plano estavam os nobres, uns poucos privilegiados que, em razão de herança familiar e sem que tivessem que produzir qualquer coisa, ostentavam uma riqueza nababesca para os padrões da época, obtida pela exploração (espoliação) da vassalagem a eles subordinada por juramento de fé e submissão.  Os vassalos eram a imensa maioria, trabalhavam de sol a sol, em condições extremamente insalubres e ficavam com uma parte mínima de tudo que produziam, suficiente apenas para a subsistência. E o que é pior: naquele tempo não havia qualquer chance de ascensão social. Se você nascia pobre, fora dos berços de ouro, sua sina era permanecer assim durante toda a vida.

Graças ao capitalismo, nos últimos 250 anos houve um aumento exponencial do padrão de bem-estar no mundo e, consequentemente, uma redução espetacular dos níveis de pobreza global absoluta. Só para se ter uma ideia desse milagre, em 1820, 85% da população mundial vivia com menos de um dólar por dia (a preços de hoje). Em 1950, essa proporção havia caído para 50%. Atualmente, são 20%.

Em 1900, a expectativa média de vida nos países subdesenvolvidos era de apenas 30 anos. Em 1960, esse índice saltou para 46 anos. Em 1998, já era de 65 anos. Não por acaso, mesmo com o propalado aumento das desigualdades nos EUA, a maioria dos norte americanos têm hoje um padrão de vida e bem estar superior ao de John D. Rockefeller, há apenas 100 anos.

Outro ponto fundamental dessa discussão, como já escrevi alhures, é que existe um abismo enorme entre a preocupação genuína de alguns com os pobres e a revolta de muitos com a riqueza alheia. Por isso, sempre que você encontrar algum Boulos pela frente, lamentando a enorme diferença de renda e/ou riqueza entre ricos e pobres, pergunto se ele estaria disposto a admitir que os muitos ricos se tornassem ainda mais ricos, desde que isso significasse uma melhoria substancial nas condições de vida dos mais pobres. Se a resposta for “não”, ela equivale à admissão, coberta pelo véu da hipocrisia, de que a verdadeira preocupação do seu interlocutor é com o que os mais ricos possuem, e não realmente com o que falta aos pobres. Se, por outro lado, a resposta for “sim”, restará demonstrado que o tal “gap” é irrelevante.

Por outro lado, a existência dos muito ricos, longe de ser algo a lamentar, é altamente benéfica para os mais pobres. A menos que nós estejamos falando de ladrões ou rent-seekers, a riqueza pessoal indica que alguém obteve lucros e/ou investiu recursos em empreendimentos rentáveis. Os lucros sinalizam a criação de valor, ou seja, que os recursos disponíveis foram bem utilizados, produzindo bens que são desejáveis para muitos. Pessoas ricas, em geral, criam um monte de valor para um monte de gente, além, é claro, de um monte de empregos. A ausência de pessoas ricas, na verdade, é um péssimo sinal para qualquer sociedade, pois reduz a geração de poupança e, consequentemente, de novos investimentos.

Ademais, a concentração de renda é um efeito. Sua causa é a diferença de produtividade das pessoas. Criticar a desigualdade de renda é como reclamar que um quilo de lagosta vale mais que um quilo de sardinha. Assim como o preço reflete o valor de mercado de um produto, o rendimento de cada um reflete o valor de mercado do seu trabalho. Não há uma cesta fixa, preexistente, de salários que, de alguma forma injusta, escorre para os bolsos de uns em detrimento de outros. Numa economia capitalista, a maior parte da riqueza é criada, multiplicada e trocada de forma voluntária pelas pessoas.

Desigualdade de renda, portanto, só é algo injusto quando o status de alguém é medido não pelo que ele tem, mas pelo que os outros têm. Infelizmente, esse é o padrão dos bobocas igualitaristas, que sonham com uma inalcançável uniformidade da renda, independentemente da capacidade de cada um em gerar bens e serviços de valor para os demais. É o padrão da inveja, do rancor pelo simples motivo de que alguns têm mais, de qualquer coisa, do que a maioria.

Nota do blog: Ao excelente texto de Mauad, apenas acrescento a síntese, que tenho repetido há anos: o socialismo é a pura idealização da inveja. Todo igualitário é, no fundo, um ser recalcado, ressentido, mesquinho, invejoso. Sonhar com a sociedade como uma enorme colônia de insetos gregários é mesmo algo de quem não suporta encarar no espelho as diferenças, pois elas reforçam toda a sua própria mediocridade.

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