• Carregando...
Do jacobinismo purista ao “luta contra corrupção é coisa da esquerda”
| Foto:

Lembram daqueles jacobinos de direita, puristas, que queriam “ucranizar” o Brasil, jogar político corrupto na lata do lixo antes mesmo da condenação legal, fechar Congresso e STF porque todos ali são bandidos e ninguém presta? Pois bem: em sua dialética marxista, Olavo de Carvalho instigou bastante esses revolucionários, apenas para afirmar, agora, que a “luta contra a corrupção” é uma invenção da esquerda.

Haja malabarismo! Então não era para a gente ter queimado o establishment safado corrupto em 2015 porque era corrupto, mas sim porque era… comunista! Corrupto nacional-populista, pelo visto, tudo bem. Corrupto reacionário é legal, pois o importante – a única coisa importante – é lutar contra os comunistas. E comunistas, claro, são todos que não fazem parte do nosso time reacionário.

Renan Santos, fundador do MBL, dissecou numa série de tweets a tática desse discurso olavista. Eis o ponto essencial: “o vídeo é uma tentativa desesperada de manter viva a chama revolucionária do bolsolavismo após o acordão com Toffoli. Como as contradições são aparentes, resta blindar a militância com uma lógica personalista. […] A maldade no vídeo está aí. Olavo ignora que a) Bolsonaros tem o rabo preso com Queiroz e b) fizeram acordão com STF e a porra toda. Finge que Bolsonaro está só quando ele já vendeu até a mãe num acordo. Assim, manobra a militância e foge da raiz da questão”.

Sem o purismo ético, porém, o bolsonarismo perde muito da sua força revolucionária. Eles sabem disso, daí o desespero, o apelo personalista, a convocação de uma militância organizada nessa luta contra a “ameaça comunista”. Rodrigo Maia, João Doria, Michel Temer: todos comunas! A narrativa cai no ridículo, pois se restar apenas atacar essa turma com base na ética, o argumento já era.

“O filho dele é um trombadinha? Sim. Tem de prestar contas à justiça? Sim. Mas isso é muito pequeno diante dos problemas que temos e requerem solução rápida”. Essa linha pragmática de raciocínio, de um leitor, eu posso entender. Se Bolsonaro tem mesmo o rabo preso e por isso vem agindo de forma tão suspeita, isso precisa ser pesado com senso de proporções não só da roubalheira dos demais, como da agenda virtuosa do atual governo na economia. Mas aí a narrativa jacobina purista perde força.

Aí vamos na linha de abandonar o messianismo e reconhecer que política é a arte do possível, feita por gente imperfeita, eufemismo para gente podre na maioria das vezes. E, nesse caso, a agenda reformista de Michel Temer, que era boa, merecia apoio, não demonização, como fez o bolsonarismo. Temer deveria ter sido julgado com base nos mesmos critérios, assim como Rodrigo Maia e companhia.

O que mais irrita, portanto, é o malabarismo cafajeste do bolsonarismo para justificar suas atitudes. O guru chega a apelar para o vitimismo afirmando que o presidente está “sozinho”, como se não tivesse feito, ao que tudo indica, um acordão com Toffoli para livrar a cabeça do filho.

A narrativa antiestablishment, portanto, mascara um projeto de poder autoritário, ponto. Não dá para confiar em revolucionários. O Brasil precisa avançar. A agenda de reformas do governo é boa, a equipe econômica é ótima, e merece nosso apoio. Mas não me venham com puritanismo bolsonarista! Jacobinos devem sempre ser combatidos, pois são perigosos. Precisamos de reformistas pragmáticos, não de revolucionários oportunistas.

PS: O desespero do bolsonarismo com essa constatação é evidente, uma vez que, se for para comparar apenas as agendas e as equipes, sem o manto de pureza ética do “incorruptível”, então Doria não fica devendo nada a Bolsonaro. Se Doria anunciasse o desejo de manter Paulo Guedes e Sergio Moro, por exemplo, o que Bolsonaro teria a oferecer a mais? Os olavetes que ficam mitando nas redes sociais?

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]