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Keynesianos querem que governo abandone o tripé macroeconômico
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O Brasil, com freqüência, nos dá a impressão de andar em círculos. É a volta ao ponto de partida, dos que nunca aprendem, nunca avançam, nunca evoluem. Foi exatamente essa a sensação que tive ao ler, na Folha, resenha do novo livro organizado por Luiz Carlos Bresser-Pereira e com a participação de José Luis Oreiro, da Associação Brasileira Keynesiana.

São, como Alexandre Schwartsman diria, “keynesianos de quermesse”, que matariam o Keynes original de vergonha. Vejam alguns pontos:

Sua proposta de mudança defende: 1) flexibilização do regime de metas de inflação; 2) mudança do regime de política fiscal em direção a um sistema baseado na obtenção de metas de superavit em conta-corrente do governo; 3) adoção de uma política de administração da taxa de câmbio por intermédio da constituição de um fundo de estabilização cambial; e 4) uma reforma geral do sistema financeiro.

Para Oreiro, “o atual modelo econômico manteve uma combinação perversa entre juros elevados em termos nominais e reais, câmbio apreciado e baixo investimento público em obras de infraestrutura econômico-social”.

Em outras palavras, o velho nacional-desenvolvimentismo que, vale notar, já está em curso no Brasil, sob o governo Dilma. Os mesmos economistas que agora recomendam essa receita milagrosa estavam aplaudindo as medidas de Dilma no começo, e ridicularizando seus críticos.

Mas seria cobrar demais deles uma mea culpa, claro. Preferem insistir no erro, e alertar que faltou ainda mais do veneno que recomendam. Se ao menos o governo tivesse abandonado mais ainda o tripé macroeconômico, rasgado de vez a responsabilidade fiscal, ignorado ainda mais as metas de inflação e controlado ainda mais o câmbio…

Para Oreiro, o atual regime de metas de superavit primário é míope, pois não percebe os efeitos sobre o crescimento de longo prazo de um aumento dos gastos de investimento do setor público.

Já o modelo de metas de inflação deveria ser baseado no coração da taxa, retirando efeitos de alta de preços, suscetíveis a choques de oferta.

Segundo ele, o Banco Central só deveria reagir a situações de excesso de demanda permanente. O prazo de convergência para a meta deveria ser estendido de um para dois anos. Preocupado com a desindustrialização, Oreiro prega a adoção de um regime de câmbio administrado, com o uso de controles à entrada de capitais no país.

Em outras palavras, ainda mais poder para o governo e seus economistas ungidos e clarividentes, que, naturalmente, serão como Oreiro e Bresser-Pereira. É sempre assim: uma nefasta simbiose entre economistas intervencionistas e governantes sedentos pelo poder. Uma combinação explosiva… para os pagadores de impostos e consumidores.

Não me espanta alguns economistas nunca aprenderem com a história. O que me espanta mais é o espaço que eles ainda desfrutam na imprensa, apesar de tantos erros no passado. A Folha recomenda o livro como “bom”, dedica grande espaço a ele, e trata tais recomendações estapafúrdias como propostas sensatas, que merecem mais reflexão.

Enquanto isso ocorrer, nenhum brasileiro consciente pode se dar ao luxo de tomar como certa a conquista do Plano Real. O tripé macroeconômico, pilar importante do nosso avanço recente, corre sérios perigos. E tudo que o governo mais quer no momento é receber o sinal verde de economistas para seguir no rumo catastrófico do desenvolvimentismo, cuja fatura pesada só vem depois.

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