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Mais abertura comercial e menos impostos, pede editorial do GLOBO
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Sou crítico frequente da linha editorial do jornal carioca O GLOBO, especialmente quando se mete a falar de pautas de costumes ou do presidente americano Donald Trump. O viés “progressista” salta aos olhos. Mas quando o jornal fala de economia doméstica, costuma acertar mais do que errar. É análogo ao que acontece com os tucanos. Se caísse a ficha de que essas pautas econômicas merecem mais atenção do que a necessidade de “lacrar” com certo público, nem haveria motivo para tantas críticas. E Bolsonaro não seria tão demonizado como é…

Parece que os editores abrem os olhos aos poucos, e começam a se animar com o comando do liberal Paulo Guedes na agenda econômica. Percebe-se um tom mais otimista, buscando inclusive inspirar o novo governo na direção certa, de maior abertura comercial e simplificação com redução de impostos. Além das privatizações e da reforma previdenciária, essas são as duas pautas mais relevantes à frente.

No primeiro editorial, o caso chileno é usado como exemplo das vantagens de acordos bilaterais de comércio, com mérito do presidente Michel Temer, que fez mais do que a mídia e a população reconhecem. Diz o jornal:

É auspicioso, portanto, que o futuro governo se comprometa com o estímulo à competição empresarial, antítese das práticas monopolistas, da ineficiência produtiva e das condutas antiéticas.

Faz sentido que o projeto de abertura comercial seja realizado de forma “gradual e segura”, como indicou o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, na semana passada. Não seria racional desmontar a estrutura industrial construída e operante, mesmo estando em obsolescência tecnológica, com baixa produtividade e prisioneira de uma teia burocrática construída, em parte, sob inspiração de empresários dependentes da benemerência estatal.

Abrir o mercado nacional é oxigenar a produção doméstica e integrá-la às cadeias globais, permitindo às empresas o acesso à fase atual da revolução industrial, pautada pela inteligência artificial, computação quântica e bioengenharia.

Nesse contexto, é positiva a aproximação entre Brasil e Estados Unidos, para acesso a mercados, investimentos e transferência de tecnologia.

Mas é essencial que o futuro governo explore, também, outras fronteiras. Sem exceções. É preciso ampliar o comércio com a China e a União Europeia e a cooperação com a Argentina para recuperar o Mercosul.

Basta mirar nas experiências bem-sucedidas. O governo Michel Temer acaba de demonstrar como é possível avançar rapidamente. No espaço de apenas seis meses, construiu com o Chile o mais amplo acordo sobre questões regulatórias já assinado, que reduz em 35% o custo da burocracia no comércio entre os dois países.

Já no segundo editorial, o tema foi a complexidade dos nossos impostos, o aumento indecente das normas de tributação, e a oportunidade que o futuro governo Bolsonaro tem de mudar esse lamentável quadro:

Sem reformas nos sistemas tributário e previdenciário, vai ser muito difícil ao governo Jair Bolsonaro cumprir seu compromisso de reconduzir o país aos trilhos do desenvolvimento.

Para ampliar suas chances de êxito, o futuro presidente deveria mobilizar sua equipe em torno de consensos básicos, aproveitando as últimas semanas de votação do atual Congresso, onde existem iniciativas encaminhadas.

A reforma tributária é fundamental à melhoria do ambiente de negócios e ao restabelecimento do primado da justiça social, porque o maior impacto da atual carga tributária, estimada em 35% do Produto Interno Bruto, recai sobre os mais pobres. É necessária para alavancar a livre-iniciativa, a geração de renda, de lucros e de empregos — três aspectos-chave do desenvolvimento capitalista.

Nos últimos 30 anos, foram produzidas 390.726 normas na área de tributação, quase duas novas por dia útil, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Esse sistema confuso que está aí consome a produtividade das empresas, reduzindo seu poder de competição no mercado global.

[…]

Da mesma forma, é imprescindível a compreensão sobre o esgotamento da capacidade de transferência de renda da sociedade para o setor público, o que impõe veto ao aumento de impostos e à recorrência ao modelo de ineficiência da antiga CPMF, com óbvios efeitos de injustiça social.

A pouco mais de um mês da posse, Jair Bolsonaro tem à frente uma janela política escancarada. Deveria aproveitá-la, mobilizando o atual Congresso para simplificar a tributação e desburocratizar as relações do Estado com a sociedade.

Ambos os editoriais tocam em pontos fundamentais para fazer nossa economia avançar, e adotam uma postura mais positiva em relação ao próximo governo, tentando inspirar na direção certa, em vez de só demonizar o futuro presidente. Bolsonaro costuma receber um tratamento diferente da grande imprensa, justamente porque o foco acaba sendo o aspecto “cultural”, e a minoria “progressista” organizada, hegemônica nas redações, detona o “obscurantismo tacanho” do presidente eleito.

Mas o Brasil tem pressa, e Bolsonaro foi eleito com quase 58 milhões de votos para fazer o país andar, para priorizar as pautas certas, como emprego e segurança, não para “lacrar” com a turma dos “direitos humanos”. A quantidade incrível de ataques que Bolsonaro recebe dos jornalistas se deve a esse foco mal calibrado da turma que jura que pautas LGBT, feminista e racial merecem muito mais destaque do que permitir o crescimento do PIB e a queda da criminalidade.

Se o jornal mantiver essa postura, focando na economia e deixando de lado o ranço ideológico “progressista” em temas que geram muito barulho e calor, mas pouca luz e interesse genuíno, então poderá contribuir para a melhora do Brasil, sem massacrar um presidente que pode até ser meio bronco em relação às “minorias oprimidas”, mas que claramente acertou nas escolhas da equipe econômica como nenhum antes dele na história deste país.

Rodrigo Constantino

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