Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
O fato: Marielle Franco, uma vereadora do Rio de Janeiro, aos 38 anos, mãe de uma estudante de 19 e eleita com o significativo número de 46 mil votos, foi baleada no bairro do Estácio, juntamente com seu motorista, Anderson Pedro Gomes. Os dois entraram para a estatística dos sessenta milhares de vítimas de homicídios por ano e da violência característica do Rio de Janeiro, que vem ceifando as vidas de policiais, professores, médicos, todos os tipos de pessoas de todas as profissões. O acontecimento foi uma tragédia. É mais uma face do horror que nos assombra, sedentos que estamos por uma perspectiva de esperança.
Infelizmente, o crime covarde e sanguinolento foi apenas o começo – e a pior parte, convenhamos – de um verdadeiro tiroteio de horrores a que presenciamos no mesmo dia. A começar pelo horror dos que procuraram nos rótulos e nas especificações identitárias o elemento elucidativo de todo o cenário dramático, quando sequer os restos da carne das vítimas haviam sido sepultados.
O horror de certos autointitulados liberais e conservadores que, diante da conclusão da história de Marielle, enfatizaram seu caráter de militante socialista, de esquerdista, de ativista do PSOL, para decretar que sua morte foi um bem e celebrar o abominável. Não, não cremos que estes insensatos formem qualquer fenômeno político significativo que valha a pena temer ou fazer parecer maior do que efetivamente é; foram, sim, a minoria, e não vamos aqui pagar pedágio às esquerdas e igualar o que não é proporcional. Moralmente, porém, são um encosto depravado e vil em um processo de desenvolvimento de uma alternativa real para o país, ao pontificar que a defesa de ideias tortas justifica a execução bárbara de uma vida humana.
O horror das esquerdas, que não perderam tempo em transformar em um movimento político o pranto por Marielle, “mulher”, “negra”, “favelada”, como se tais qualificativos tornassem sua vida mais ou menos importante ou explicassem de algum modo a sua morte. Hediondos carniceiros! Anderson, homem, caucasiano e fazendo um “bico”, não ganhou tantos holofotes, porque não era uma vida tão fácil de se instrumentalizar em seus panfletos repugnantes. Tal como Lula havia feito com a morte de sua esposa; tal como fez Luciana Genro ao manifestar estranhamento com a comoção em torno da morte do filho de Geraldo Alckmin; tal como não fazem ao vermos nossos policiais abatidos como gado nas ruas – assim agiram as esquerdas, em sua sanha por politizar. De maneira, porém, ao contrário das reações estouvadas e infelizes à direita, organizada, integrada, capaz ainda de mobilizar sua rede de manifestantes nas ruas a se acumpliciar de vazias palavras de ordem.
O horror das esquerdas, mais uma vez, ao dizer que o assassinato foi consequência do “golpe” de 2016, aquele que nunca existiu. Ao atribuir à “direita branca, rica e homofóbica” a morte de Marielle. Ao estabelecer qualquer tipo de associação – por menor que seja, já asquerosa -, entre tamanha violência e os cidadãos ordeiros que caminharam nas ruas para reivindicar o fim do governo Dilma Rousseff e da era lulopetista, significativamente responsável pela escalada numérica do quadro de compatriotas perecendo sob o tacão da crueldade.
O horror dos especialistas de Internet, os peritos criminais dos Cafundós de Judas, que já solucionaram o caso Marielle-Anderson antes mesmo de qualquer investigação ter sido efetivamente feita. O horror da leviandade insensível. O horror dos palpiteiros despudorados. O horror do fel nas palavras frias de quem não mede as consequências do que diz e se converte desbragadamente em paladino da injustiça.
O horror de um desafio à recém-iniciada intervenção federal no Rio de Janeiro, que, sob os ataques galvanizados da esquerda, depois que esta encontrou uma mártir-símbolo para chamar de sua, precisará trazer respostas eficientes para a sociedade com ainda mais urgência. O horror de não se saber quando isto vai acabar, quando a segurança pública será mais que uma ficção, quando os noticiários estarão menos tingidos de vermelho.
O horror de uma sociedade exibindo o que tem de mais feio, o que tem de mais triste, o que tem de mais escroque. O horror do horror – e é com tal azedume que nos despedimos de uma tétrica semana que, por ora, na realidade, não vai acabar.
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