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Metáforas para acalmar as vítimas da crise
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1. O leitor, imagino, já tomou ao menos um porre na vida. Sabe qual a sensação de euforia causada durante a bebedeira. O sujeito se sente imortal, corajoso, acha que todos olham para ele com admiração e respeito, sente-se mais engraçado, animado, vislumbra um futuro sem restrições à frente.

Aí vem aquela maldita ressaca. Gosto de cabo de guarda-chuva na boca, garganta seca, dor de cabeça, mal-estar, clima depressivo, arrependimento, promessas de jamais voltar a beber daquele jeito novamente. É um saco!

Mas sabemos que não há alternativa. Aliás, há: continuar bebendo para postergar a euforia artificial. Só que esse caminho leva a uma ressaca ainda maior depois, quiçá uma cirrose hepática. Melhor enfrentar o tormento com resignação de quem entende ser um processo necessário para limpar o organismo dos excessos, do veneno.

2. Vem o diagnóstico dos exames médicos e o sujeito quase cai para trás: é câncer mesmo, e maligno! As células do corpo estão sendo destruídas pelo “invasor”. O doutor é direto e transparente: ou parte para um tratamento radical agora, ou a morte. Lá vai o paciente para aquelas sessões infindáveis de radioterapia, de quimioterapia, vômitos, perda dos cabelos, um calvário!

Mas ele segue firme e forte, busca forças lá de dentro (ou no além), procura amparo nos amigos e na família, e encara a pedreira. Foca no que vem depois, quando o câncer for, finalmente, derrotado. Uma vida normal de volta: eis o prêmio que ele não pode perder de vista, para suportar o tratamento.

3. O mito católico deixa bem claro: entre o inferno e o Reino dos Céus, está o Purgatório. Trata-se de um processo de purificação, um castigo temporário para o pecador. Claro, há que se separar o pecado mortal do venial, que “não nos coloca em oposição direta com a vontade e amizade de Deus”. O pecador ainda tem salvação nesse caso. Sim, ele se afastou de Deus, ele fez escolhas muito ruins, movido pela ganância, seduzido pelo Diabo. Abandonou a moral, a ética. Abraçou o Bezerro de Ouro. Mas se ele realmente se arrepender, então poderá ser perdoado e atravessar o Purgatório até chegar ao paraíso. 

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Inflação acima de 9%, desemprego crescendo, dólar a R$ 3,40, o país sendo rebaixado pelas agências de risco, economia com queda de 2% esperada para 2015: chegamos ao Purgatório, estamos pagando por nossos pecados, é hora da ressaca após a euforia de 2010, produzida pela liquidez artificial do governo. A sensação é de mal-estar, de depressão, de incômodo. Estamos tomando remédios para atacar o câncer. O corpo reage, o sofrimento é evidente. Engolimos até o PMDB e Eduardo Cunha, cientes de que o inimigo, agora, é outro. Quem vai focar suas energias no ataque à quimioterapia sabendo quem é o verdadeiro vilão?

Mas o que não mata, fortalece, sabia Nietzsche. Se o organismo Brasil superar essa fase, sairá fortalecido lá na frente, livre do câncer que nos assola, pronto para embarcar rumo ao “paraíso”, ou ao menos para longe do inferno bolivariano. Teremos nossas instituições republicanas mais sólidas, e um povo mais avesso ao populismo. Se esse momento de crise for o preço necessário a se pagar para que o Brasil se livre de uma vez por todas do PT, então força, cidadãos! A alternativa é muito, muito pior.

Rodrigo Constantino

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