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Militância organizada fiel a um líder, não a princípios: bolsonarismo mostra suas cores fascistoides
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Recapitulando: o presidente Bolsonaro vem se afastando da bandeira ética de combate à corrupção e se aproximando das figuras do pântano da velha política, inclusive de Toffoli. Há vários indícios disso, suspeitas no ar, ações concretas. A ingerência nos órgãos de estado, como Receita e Política Federal, pegou muito mal, além do reduzido compromisso com o projeto anti-crime do ministro Sergio Moro. Mas o golpe fatal foi mesmo a postura diante da CPI da Lava Toga.

O racha foi inevitável, pois é bastante estranha a campanha que o bolsonarismo tem feito contra essa CPI, sendo que ainda ontem era uma bandeira crucial. O senador Flavio Bolsonaro teria feito enorme pressão nos colegas para não assinarem o pedido da CPI, e a senadora Selma Arruda deve inclusive deixar o PSL por conta disso.

Diante desse quadro tenso, muitos formadores de opinião da direita partiram para o ataque. O youtuber Nando Moura gravou um vídeo detonando os filhos do presidente e afirmando que quem se colocasse contra a CPI da Lava Toga seria tratado como seu inimigo. O próprio senador Alessandro Vieira deu uma resposta a Eduardo Bolsonaro, que divulgou vídeo contra a CPI, que levou o deputado à lona:

Modesto Carvalhosa gravou vídeo explicando que não há nada inconstitucional na CPI da Lava Toga, opinião compartilhada por Janaina Paschoal. O jornalista Felipe Moura Brasil escreveu várias mensagens de apoio a essa CPI e criticando a postura submissa dos “militantes de gabinete”, que precisam passar pano em tudo que o presidente e sua família façam.

Era previsível o clima cada vez mais intolerante dentro da “direita”, essas “tretas” crescentes com trocas de xingamentos. O tribalismo leva exatamente a isso, ainda mais quando um grupo chegou ao poder com base em discursos puristas. Uma “traição” era inevitável. E como a lealdade dos bolsonaristas é a Bolsonaro, então cada vez a lista de “comunistas” aumenta. Carluxo chegou a concordar com um post que acusava a Jovem Pan e a Crusoé de “mídia doriana”. Todos seremos “isentões”!

Como resposta, o bolsolavismo resolveu intensificar ainda mais o tom belicoso. O guru da turma gravou um vídeo em que afirma, com todas as letras, que o presidente precisa do apoio de uma militância organizada, que deve ser fiel a ele, não a princípios. A política não se faz com ideias, disse Olavo de Carvalho. Vejam:

Eis aí os “princípios” do bolsonarismo, como apontou Flavio Quintela: Qualquer virtude, caso identificada num inimigo, será considerada um vício; o mito não erra: seus “erros” são parte de uma estratégia genial no xadrez 4D da política; críticas só servem para alimentar a extrema-imprensa, e por isso não devem existir. Em outras palavras, eles não têm princípios!

A deputada Janaina Paschoal reagiu com firmeza ao vídeo de Olavo: “Eu defendo o direito de todo ser humano falar livremente. Luto pela liberdade de pensamento, expressão e manifestação, mas não posso deixar de reconhecer ter me causado profunda tristeza (profunda mesmo) assistir ao vídeo de Olavo de Carvalho, ontem. O filósofo que se consagrou por denunciar o Imbecil Coletivo do PT, quase criou um Imbecil Coletivo em torno de si mesmo e agora, pasmem, prega um Imbecil Coletivo Bolsonarista. Não vou criticar, quero apenas externar o meu profundo pesar. Olavo de Carvalho acabou ontem.”

Os tribalistas querem uma militância cadastrada e organizada para defender qualquer coisa que o presidente Bolsonaro diga ou faça. E eles ainda alegam que não há nada demais nisso, pois o Partido Novo tem a sua “militância”, o MBL tem a sua “militância”. Não sei se é estupidez ou malícia, mas tal comparação é ridícula. Ora, o Novo é calcado justamente em ideias e princípios, aquilo que Olavo rejeita. Ele quer devoção e fidelidade ao líder, ao político. E isso nos remete àqueles movimentos coletivistas que ganharam força na Itália e na Alemanha na década de 1930…

Fica, portanto, a dica para não distribuírem camisas marrons ou pretas para essa militância organizada que precisa abandonar debates e partir para a ação (qual?) para defender cegamente seu líder. Vai dar muita bandeira para quem estudou história…

Os bolsolavistas conseguiram transformar em realidade todas as caricaturas que a esquerda usava para definir a direita. Por isso é tão importante se afastar dessa gente, em nome da direita. Foi o tema do meu comentário no Jornal da Manhã deste sábado:

Rodrigo Constantino

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