• Carregando...
Minhas leituras de 2018
| Foto:

O texto/vídeo mais aguardado do ano para muitos dos meus seguidores, em que faço um resumo dos livros que li no ano. Em 2018, por conta de problemas pessoais, foi menor quantidade, mas com excelente qualidade. Não percam!

Heretics – Chesterton

Sou fã de Chesterton e ele tem sido uma peça-chave não só no meu apreço pelo conservadorismo, como nas minhas reflexões religiosas que me aproximam de “casa”. Nesse livro, Chesterton faz um ataque fulminante nos relativistas da era moderna, em figuras como Bernard Shaw. “É apenas o último e mais selvagem tipo de coragem que pode estar em uma torre diante de dez mil pessoas e dizer-lhes que duas vezes duas são quatro”. Façam um favor a vocês: leiam Chesterton.

The Long Goodbye – The Big Sleep – Raymond Chandler

Obrigado Martim Vasques da Cunha por me recomendar Chandler. Que livros! Que personagem! O investigador particular é um tipo em extinção, um solitário que flerta com o pecado, que vive no submundo, mas que preserva aquilo que nos torna humanos, e no melhor sentido do termo. Ele tem valores. Fora isso, as histórias são ótimas, a trama prende do começo ao fim, é entretenimento da melhor qualidade.

12 Rules for Life – Jordan Peterson

Foi um dos grandes livros que li, não só no ano mas na vida. Tornei-me fã de Peterson, eu e a torcida do Flamengo. Mas ele realmente se destaca como um dos pensadores mais argutos da atualidade. Nesse livro, ele mastiga conceitos que estão presentes em sua obra mais densa, Maps of Meaning, e quase os transforma em “autoajuda”. Mas está longe de ser isso. É um chamado ao resgate de valores, da masculinidade, da coragem ao enfrentar a condição humana.

Os vídeos e livro de Peterson têm feito tanto sucesso justamente porque tocam na ferida, falam aos jovens em busca de algum sentido para suas vidas, de uma estrutura mais ordenada em meio ao caos produzido pelo vale-tudo atual. Essa libertinagem hedonista mascarada de liberdade gera angústia e vazio, e Peterson tenta colocar um pouco de ordem no caos. A busca por um equilíbrio entre ordem e caos é, inclusive, um dos grandes temas do livro.

O vácuo será logo preenchido, e ninguém pode viver sem uma bússola moral. Até mesmo os relativistas acabam usando uma, ainda que inconsistente. Por trás do discurso de tolerância e de não julgamento, muitos mascaram seu próprio ódio, seus preconceitos, enquanto posam de virtuosos nas redes sociais em busca de curtidas e aprovação. Na prática, flertam com o destrutivo niilismo, com o desespero do vazio, aderindo a ideologias radicais que supostamente tampam o buraco.

Há muito mais no livro, e recomendo a leitura na íntegra. Em tempos de infantilização geral, com tantos “adultescentes” por aí, e com a perversa ideologia de gênero repetindo que homem e mulher são construções sociais, é um bálsamo travar uma conversa com um pensador sério e adulto.

Rape Culture Hysteria – Wendy McElroy

Vivemos em tempos estranhos, de muita afetação e histeria, na era do vitimismo em que o homem branco parece ter se transformado no grande vilão da humanidade. Entre os movimentos atrelados a esse Zeitgeist, o feminismo radical é o que mais cresce e ameaça os pilares de nossa civilização. Ao levar o conceito marxista de luta de classes para dentro da família, para o relacionamento entre homem e mulher, esse feminismo tem criado um ambiente terrível no convívio entre os diferentes sexos.

A paranoia com o “assédio sexual” é reflexo disso. Todos os homens, de preferência os brancos, passaram a ser vistos como predadores, estupradores em potencial, culpados já ao nascimento, só por ter um pênis. E tudo passou a ser considerado “abuso sexual”, desde o ato do estupro até uma cantada mais inocente. As feministas falam numa “cultura do estupro”, como se o Ocidente fosse o Afeganistão. Ela serviria para preservar o modelo patriarcal de domínio e opressão. Mas existe mesmo isso?

A quem se interessa pelo assunto – e acho que ele deveria interessar a todos – recomendo o excelente Rape Culture Hysteria, de Wendy McElroy. Ela demonstra de forma minuciosa, com fatos e argumentos, que não existe uma cultura de estupro na América, e sim uma histeria sobre a tal cultura do estupro, fruto de uma estratégia deliberada do movimento feminista.

A euforia perpétua – Pascal Bruckner

A ideia de que a coisa mais importante do mundo é a busca pela felicidade está tão enraizada na era moderna que faz parte até da Declaração de Independência da América, como um direito inalienável. Muito justo, mas surge a questão: e quando “ser feliz” deixa de ser um direito e se transforma basicamente num dever? E quando a obsessão por ser – ou parecer – feliz é tão grande que essa constante busca produz apenas seu oposto, mais angústia e sofrimento?

Em linha parecida a de Jordan Peterson, com seu tom pessimista, foi Pascal Bruckner com seu excelente A euforia perpétua: Ensaio sobre o dever de felicidade. O pensador francês toca em algumas feridas delicadas na obra, mas, apesar de flertar com a melancolia, não deixa uma mensagem de niilismo. Ao contrário: é justamente essa sensação de que precisamos ser felizes o tempo todo, e que isso está logo ali, ao nosso alcance, que estaria produzindo tanta angústia, tanto consumo de antidepressivos ou drogas ilícitas.

Toda essa “libertação” desde a década de 1960 produziu uma massa de sofredores hedonistas, despreparados para o sofrimento, incapazes de amadurecer. Talvez fosse melhor resgatar um pouco da sabedoria dos antigos, e não levar a sério demais a tal busca pela felicidade. Quem sabe assim, quando ela nos der o ar de sua graça em algumas ocasiões, possamos realmente apreciar a dádiva que é a vida?

God, Freedom, and Evil – Alvin Plantinga

Esse é um livro difícil de ler, já que o autor tenta provar a viabilidade da existência de Deus mesmo com o Mal habitando o mundo, e o faz por meio de cansativas deduções lógicas e fórmulas. Tem um argumento essencial convincente, porém: não podemos negar a existência de Deus só porque há coisas ruins na vida humana. “Um mundo contendo criaturas que são significativamente livres (e que executam livremente mais bem do que as más ações) é mais valioso, sendo tudo o mais igual, do que um mundo que não contém criaturas livres”. O livre-arbítrio é a grande dádiva, o presente que Deus concedeu aos homens, e isso implica em aceitar a maldade. “Para criar criaturas capazes de bem moral, portanto, Ele deve criar criaturas capazes de mal moral; e Ele não pode dar a essas criaturas a liberdade de realizar o mal e, ao mesmo tempo, impedi-las de fazê-lo.”

George Washington: The Founding Father – Paul Johnson

O historiador conservador Paul Johnson tem escrito essas pequenas biografias de grandes homens, e essa de Washinton, o primeiro presidente americano, é muito boa.

A personalidade do principal líder da revolução era um tanto conservadora e prudente, e sua grande ambição era não ser visto como alguém ambicioso. Para Johnson, o primeiro fato importante é que Washington era de ascendência inglesa impecável e veio da classe que ele mais admirava: a nobreza independente que possuía terras.

É importante entender que Washington se via como parte de uma classe dominante que cuidava dos próprios negócios desde sempre, de “tempos imemoriais”, como diziam os ingleses. Qualquer mudança de fora, imposta, era tida como usurpação, e resistir era um dever moral, assim como um autointeresse evidente.

Washington não era extremamente culto ou erudito, e John Adams e Thomas Jefferson chegaram a considerá-lo pouco “instruído”. Mas ele acumulou mais de 700 livros em sua biblioteca, lidos e com anotações, e sua educação formal era bastante prática, mas bem assimilada. Como ele tinha o hábito de guardar todas as correspondências e diários, trata-se de um dos personagens históricos sobre quem mais se conhece. E o que emerge é admirável.

Como o primeiro presidente americano, em parte por pressão dos compatriotas, Washington fez uma gestão apartidária, voltada para os interesses nacionais. Seus maiores méritos estiveram ligados à ratificação da Constituição pelos estados, assim como o Bill of Rights, que garantia direitos individuais contra o próprio Estado. Uma América livre, forte e próspera se tornava uma realidade, e muito se deveu ao caráter e à liderança de George Washington.

Ao ler sua história, não parece absurdo o velho e saudosista brocardo: não se fazem mais homens como antigamente!

Ensaios: Livro 1 – Michel de Montaigne

Finalmente parei de ler excertos isolados de Montaigne e comecei sua obra de forma mais sistemática. Ler os Ensaios é entrar em contato com uma mente brilhante e com honestidade intelectual, já que escreveu para si mesmo suas reflexões, e não para publica-las. São muitos tópicos distintos, mas o que os liga é o caráter moderado do autor. Em 2018 seu nascimento completou 485 anos. Trata-se de um pensador equilibrado, comedido, humilde, cauteloso e prudente, que descarta os extremos e desconfia dos radicalismos. No caso dos apetites carnais e da própria filosofia, sua resposta é a moderação. A arte da prudência, o exercício da moderação, a virtude da temperança: essas são todas lições muito importantes que nós, liberais, podemos e devemos aprender com os conservadores de boa estirpe, para que nossa luta por justiça e liberdade não se torne um caminho para o inferno libertino ou o Terror engendrado pelos fanáticos puristas.

“Todo o problema do mundo é que os tolos e fanáticos estão sempre tão certos de si, mas os mais sábios estão cheios de dúvidas”, disse Bertrand Russell. Uma ideia que fora abordada por Yeats também, quando disse que aos melhores falta toda convicção, enquanto os piores estão repletos de intensidade apaixonada. Ambos já tinham sido antecipados por Montaigne, séculos antes.

Where we are – Roger Scruton

Não são poucos os poemas e as músicas que falam do sentimento de pertencer a um lar, ou da saudade de casa. A busca por essa sensação de familiaridade, conforto e segurança, existentes somente quando estamos em “casa”, parece ser algo atávico a nós, seres humanos. Se exagerado, pode levar a um tribalismo perigoso, a um nacionalismo xenófobo. Em doses certas, porém, produz um patriotismo saudável.

Roger Scruton, filósofo conservador britânico, defende em seu novo livro, Where we are, esse valor patriótico, o amor pelo lar (oikofilia), tomando como base o caso específico do Reino Unido e o “Brexit”, aprovado em plebiscito. Muitos na imprensa repetiram que a escolha pela saída da União Europeia foi tomada pelos mais pobres e ignorantes, com medo da globalização. Não deixa de ser interessante ver que um dos mais inteligentes e preparados pensadores da atualidade se colocou ao lado desses “alienados”.

A questão central de seu argumento gira justamente em torno da “soberania nacional”. Para muitas pessoas comuns, as redes de contato pessoal, os relacionamentos nas vizinhanças, a decisão de quem nos governa e de onde, são todos aspectos cruciais e urgentes. Para essas pessoas, algo estava em risco, que foi ignorado pelos políticos, e que era muito mais relevante do que argumentos econômicos e geopolíticos. Era uma questão de identidade: quem somos, onde estamos, e o que nos mantém unidos em torno de uma ordem política comum?

“Membros de tribos se veem como uma família; membros de comunidades de credo se veem como fieis; membros de nações se veem como vizinhos”, resume o filósofo. E quando os fieis colocam sua lealdade fora da vizinhança, os interesses podem entrar em um conflito irremediável. Se a lealdade do muçulmano britânico está em Alá, e não na comunidade local em que vive, ele dificilmente irá se tornar um bom cidadão, que respeita as leis locais, um vizinho que compartilha daquela mesma sensação de que estamos todos no mesmo barco.

Mussolini’s Intellectuals – James Gregor

Falar em “fascismo” hoje em dia é complicado, pois tudo que não é socialismo virou fascismo na boca dos socialistas. Como Churchill alertara, “os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas”, e o futuro chegou. Além disso, qualquer grupo violento, agressivo, como até mesmo uma torcida organizada de futebol, é chamado de “fascista”. Mas o que é o fascismo? Qual a sua origem?
É o que tenta responder James Gregor em Mussolini’s Intellectuals, livro fundamental para quem se interessa pelo assunto. Ele mergulha nas ideias dos principais nomes por trás do fenômeno que surgiu na Itália naquele começo do século 20, para mostrar que havia uma coerência ideológica por trás da coisa, que não se tratou apenas de brutamontes distribuindo pauladas, mas de pensadores, alguns renomados, construindo uma ideologia totalitária com resultados perversos.

A primeira coisa que chama a atenção é que quase todos os líderes intelectuais do fascismo foram marxistas. Houve uma conversão, em muitos casos após a Primeira Guerra Mundial, quando esses pensadores perceberam que o conceito universal de classe não era suficiente para atrair o proletário para a luta, uma vez que o apego à nação falava mais alto. O fascismo trocaria classe por nação, mas manteria inúmeras outras características do marxismo, a começar por seu coletivismo que ignora o indivíduo, meio sacrificável para esse “bem geral”.

“Para qualquer um que soubesse alguma coisa sobre Mussolini, estava claro que havia muito pouco que fosse conservador, liberal ou politicamente democrático em suas convicções mais fundamentais”, afirma Gregor. Diante disso tudo, resta evidente que, quando um socialista acusa um liberal de “fascista”, está seguindo a tática de Lenin de atacar os outros na frente de um espelho.

The Knife Went In – Theodore Dalrymple

Ler Theodore Dalrymple é sempre um grande prazer. Não por acaso já li mais de dez livros do autor, com quem estive este ano em Porto Alegre, com a honra de fazer as perguntas e ouvir as respostas. O foco era seu novo livro A faca entrou, lançado pela É Realizações.

Dalrymple, com seu estilo elegante, mergulha nas memórias de seus vários anos como médico prisional, além de testemunha nos tribunais, normalmente de regiões pobres de Londres. Ele fala, portanto, com autoridade sobre criminalidade. E a marca registrada de suas análises é justamente a constante tentativa de evasão de responsabilidade por parte dos criminosos.

Segundo seus relatos, a coisa mais comum que ele ouvia era que “a faca entrou”, como se o objeto inanimado tivesse volição independente e capacidade de ação, não o próprio indivíduo. Invertendo a causalidade, é como se a faca tivesse pego a mão do sujeito e a dirigido ao encontro do alvo, não o contrário.

Não escolhemos tudo que se passa ao nosso redor, mas escolhemos em parte como reagir às contingências do destino. E o nosso fracasso deve ser sempre uma lição. Uns ficam paralisados diante dos próprios erros e logo partem para as tradicionais desculpas, jogando o problema para fora de si. Outros assumem a rédea da própria vida, entendendo que os erros devem ser enfrentados, assimilados e transformados em valiosas lições, para jamais se repetirem.

Liberdade só pode andar junto com responsabilidade. Quem foge desta, se afasta daquela. E depois reclama: “doutor, a faca entrou”.

Levanta e anda – Roberto Motta (Esse era o título sugerido inicialmente, mas que foi alterado depois)

Sou suspeito: escrevi o prefácio do livro. Um grito de desabafo de um patriota. Uma análise embasada da sociologia brasileira. Um estudo sobre as causas da criminalidade e como combate-la. Um manual para a ação política prática. Uma sólida teoria sobre cultura. O livro é tudo isso e muito mais.

Roberto Motta conseguiu reunir ensaios que parecem isolados, mas que se comunicam e formam um elo comum. Como alguém que mora fora do Brasil há três anos, várias passagens me marcaram profundamente, pois o autor também teve essa experiência, tendo trabalhado por quase cinco anos nos Estados Unidos. Mas decidiu voltar, viver no Arpoador que adora, preservar seu estilo de vida de carioca descolado, praiano, mas sem desistir da luta pela transformação de seu bairro, sua cidade, seu país.

É isso que Roberto Motta oferece aos seus leitores. Um arcabouço teórico com base em grandes pensadores, e um manual pragmático de como lutar na arena política para colocar essas teorias em prática. Trata-se de uma rica combinação, e com um bom senso que, infelizmente, tanta falta faz em nosso país.

Churchill & Orwell: The Fight For Freedom – Thomas Ricks

Um foi tido como um fanfarrão pouco confiável no mundo da política britânica, até ter a oportunidade de se tornar protagonista como primeiro-ministro no embate de vida ou morte contra Hitler e os nazistas, tornando-se então o maior estadista do século XX. O outro era um escritor meio apagado, com alguns textos e livros de razoável repercussão, até retratar com perfeição o modelo totalitário comunista que ameaçava as mais básicas liberdades individuais, tornando-se um dos autores mais influentes do século XX.

As vidas de Winston Churchill e George Orwell suscitam inúmeras biografias e filmes. Quando ambas são retratadas em paralelo, por um jornalista premiado, o resultado é o imperdível Churchill & Orwell: The Fight For Freedom, de Thomas Ricks. Tanto Churchill como Orwell se viram no epicentro dos acontecimentos mais marcantes da história, quando regimes totalitários colocaram em xeque a sobrevivência da democracia liberal do Ocidente.

Em tempos de desespero, quando tudo parecia perdido, Churchill e Orwell não abaixaram suas cabeças; ao contrário: assumiram o fardo de enfrentar o inimigo de peito aberto, com clareza moral e realismo e, com enormes custos pessoais, contribuíram para a vitória da democracia liberal, principal legado da civilização ocidental. Não é pouca coisa.

The populist explosion – John Judis

Recomendação do João Pereira Coutinho a gente acata sem pestanejar. Esse livro é interessante por mostrar a ascensão de um populismo como resposta à crise das democracias ocidentais e da representatividade na era das redes sociais. Traça um histórico do populismo americano, à esquerda e à direita, e como serve para atacar características de Trump, foi bem recebido por parte da esquerda. Mas é um livro imparcial, que detona o populismo esquerdista também.

Gift From the Sea – Anne Morrow Lindbergh

São belas reflexões de uma mulher de meia-idade escritas há meio século. A autora tenta se equilibrar entre suas diferentes funções: mulher de uma figura pública, mãe de cinco e aviadora, além de escritora, podemos imaginar que suas tarefas eram mesmo hercúleas. O livro mostra com delicadeza os desafios da mulher moderna, sem cair na conversa fiada do feminismo radical.

Ao contrário, ela admite que, na tentativa de se emancipar, de se provar igual aos homens, a mulher foi levada a competir com o homem em suas atividades externas, negligenciando suas fontes interiores. Para Anne, a mulher deve ser como o eixo da roda, que permite, com sua força estável, que o mundo continue a girar. Sem essa característica, ela acha que a família, a sociedade e talvez a própria civilização correm perigo. Difícil discordar quando vemos tantas famílias desestruturadas hoje em dia, como reflexo dos anos 1960.

É a mãe que, normalmente, traz mais doçura e amor para dentro de casa, que representa a estabilidade do lar, que garante a estrutura familiar. O pai é a Lei, o limite, a ordem. Houve uma época em que se entendia no Ocidente a importância dessa distinção e combinação. Será que ainda há tempo para se lembrar que mãe é mãe, figura essencial para a sobrevivência de nossa civilização?

The Myth of the Andalusian Paradise – Darío Fernández-Morera

Na era do politicamente correto e da marcha das “minorias oprimidas” – e também dos petrodólares árabes – virou lugar comum, mesmo no meio acadêmico, repetir que houve um tempo em que cristãos, judeus e muçulmanos viveram em paz e harmonia, e foi justamente quando o controle pertencia ao Islã. Esse “paraíso” pacifista teria ocorrido em Andaluzia, quando os seguidores do profeta Maomé conquistaram o poder e governaram por séculos, antes da reconquista cristã. Mas será que isso é mito ou verdade?

O scholar Darío Fernández-Morera responde essa questão em seu livro The Myth of the Andalusian Paradise, que tem mais da metade das 381 páginas só de referências bibliográficas, incluindo inúmeras fontes primárias. Ele alega que, por não dominarem bem o espanhol e o árabe, vários acadêmicos tiveram que beber somente de fontes secundárias, e que estas, muitas vezes, foram deturpadas ou interpretadas por uma lente ideológica.

O livro desmistifica a alegação de que a Espanha islâmica medieval era um excelente lugar de tolerância entre as três principais culturas monoteístas, sob a supervisão de governantes muçulmanos esclarecidos. Os capítulos abrem com várias declarações de pesquisadores e figuras públicas, como políticos, enaltecendo essa época e mencionando o convívio supostamente tranquilo dos três povos. Estão todos, garante Darío, repetindo uma falácia, e em muitos casos por evidente suspeita de desonestidade intelectual, pois parece impossível ignorarem certos fatos.

A Espanha islâmica medieval não era uma convivência tolerante, mas uma precária coexistência, e se não fosse a reconquista cristã, a Espanha hoje seria como os demais países islâmicos, sem vinhos e presuntos. Tentar rescrever a história como se ali as três religiões vivessem numa paz incrível é distorcer a realidade. Não era nada parecido como é hoje na América cristã ou em Jerusalém, na parte dominada por Israel, onde muçulmanos, cristãos e judeus de fato convivem em relativa harmonia e gozando dos mesmos direitos legais.

Discrimination and Disparities – Thomas Sowell

Muitas pessoas observam as discrepâncias estatísticas na sociedade e concluem automaticamente que elas se devem a algum tipo de preconceito, de discriminação. Os salários mais baixos, na média, das mulheres ou dos negros precisam ter uma explicação no machismo ou racismo, pensam essas pessoas. Mas será que isso faz algum sentido?

Thomas Sowell mergulhou nesse tema em seu novo livro, Discrimination and Disparities. Como de praxe, Sowell traz argumentos sólidos, lógica e dados concretos para o debate, ou seja, não fala a quem só quer repetir slogans ou monopolizar as virtudes em busca de uma sensação artificial de superioridade moral. Ele fala a quem quer pensar.

O autor desperta a fúria dos líderes de movimentos de “minorias” justamente por isso: ao focar na verdade, descarta o sensacionalismo. O fato de ser negro é uma agravante, pois anula a possibilidade de rejeitar seus pontos com base na acusação de racismo. O livro é dedicado a outro liberal negro, o professor Walter Williams, que também tem um livro desmontando a falácia do racismo como bode expiatório para desigualdades e mostrando que o livre mercado é o melhor amigo dos negros (e brancos, mulheres, gays etc.).

Leitura imperdível para refutar de vez as falácias dos igualitários, em especial das feministas que usam o hiato de salário na média como “prova” de preconceito machista no mercado de trabalho.

Amor para corajosos – Espiritualidade para corajosos  – Luiz Felipe Pondé

Essa série de livros para corajosos é muito boa. Gosto do estilo do Pondé e penso parecido com ele em muitas coisas, sempre aprendendo muito com suas reflexões e bagagem cultural. Pode parecer coisa de autoajuda, mas é o oposto: toca na ferida narcísica do homem, apresenta uma visão de mundo que chega a flertar com o niilismo e a melancolia, bem ao estilo do filósofo, mas termina com mensagem de esperança: desde que tenhamos a coragem de amadurecer, de encarar o vazio de sentido, a finitude, as doenças, o inevitável sofrimento. Eu leio tudo do Pondé, e recomendo que façam o mesmo.

Sapiens: A Brief History of Humankind – Yuval Noah Harari 

Fizemos um podcast Ideias na Gazeta só sobre ele, e recomendo aos interessados no assunto da evolução, da imortalidade e da ciência (ou cientificismo) como nossa salvação que escutem o bate-papo. Martim Vasques da Cunha participou, e acho que foi bastante enriquecedor, inclusive para detonar o “guru” da elite “progressista”, em especial dos geniozinhos do Vale do Silício.

Let There Be Water – Seth Siegel   

Muitos consideram que a escassez de água será o grande problema desse século. Secas que impõem racionamento em seu consumo não são coisas apenas do sertão brasileiro, mas também de locais ricos como a Califórnia. Como cerca de 70% do uso da água vai para a agricultura, isso pode significar alta no preço dos alimentos, algo temerário quando pensamos na quantidade de miseráveis no mundo. O que fazer? Como garantir um suprimento mais estável desse fundamental recurso que tomamos como garantido?

Em Let There Be Water, Seth Siegel conta a fascinante história de como Israel, um pequeno país cercado de deserto árido, conseguiu atingir uma condição de excesso de água, a ponto de permitir sua exportação por meio de uma farta agricultura. O livro foi best-seller do NYT e foi recebido com muita empolgação por inúmeros políticos e cientistas. Michael Bloomberg o considerou leitura essencial, e nomes que vão da esquerda à direita, como Tony Blair e George W. Bush, reconheceram sua importância para o debate.

Não é para menos. O livro conta como, no meio do deserto e numa das regiões mais secas do planeta, Israel foi capaz de inovar no setor, conquistando não só autonomia, como excedente de água. A receita que surge por meio desse relato, repleto de casos interessantes, não se encaixa em ideologias “puristas”, e não vai agradar nem fundamentalistas de mercado, nem estatizantes. O que importa para os israelenses é o resultado, e isso eles conseguiram.

Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo – Nicholas Vital

“Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa”, disse Chesterton. Não deixa de ser irônico ver como a esquerda secular e “progressista” trata os conservadores religiosos como obscurantistas aprisionados na Idade das Trevas e julga falar em nome da ciência, enquanto mergulha de cabeça nas seitas mais estranhas que existem.

A histeria com o “aquecimento global” (já modificado para o vago “mudanças climáticas”), a ideologia de gênero (negação das diferenças biológicas entre homem e mulher), a repulsa aos transgênicos e o endeusamento dos alimentos orgânicos comprovam: foi a própria esquerda que virou as costas para a ciência.

O tema desse artigo será esse último caso, com base no livro Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo, do jornalista Nicholas Vital. Movimentos ambientalistas declararam guerra aos “agrotóxicos” e santificaram os alimentos orgânicos, tidos como mais saudáveis. Mas será que a ciência está do lado deles? Será que os fatos corroboram essa paixão “natureba”?

O que o autor demonstra, com muita pesquisa e informação, é que toda essa seita criada em torno dos orgânicos depende de mitos, não fatos. As distorções já começam na escolha das palavras. Chamar de “agrotóxicos” os defensivos agrícolas denota um claro viés ideológico.

The Treason of the Intellectuals – Julien Benda 

Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o pensador francês Julien Benda publicou um livro sobre a traição dos intelectuais. Essa traição, segundo ele, era abandonar a vocação dessa classe como homens voltados para a vida da mente, não da ação. Quando os intelectuais passaram a mergulhar nas questões mais práticas e materiais do mundo, o resultado foram as paixões políticas, sempre perigosas.

Por alertar sobre uma provável guerra ainda maior do que aquela que o mundo tinha acabado de experimentar, prevendo com precisão o caos produzido pelo fascismo, nazismo e comunismo, o livro teve merecido destaque. Mas andou um tanto esquecido depois, e, como sua mensagem continua atual, vale a pena resgatá-la.

O julgamento desinteressado e a fé numa verdade universal: esses foram os princípios tradicionais que guiaram a vida intelectual até recentemente. Não mais. Hoje, ao simplesmente defender a possibilidade de uma busca desinteressada pelo conhecimento e por verdades transcendentais, o sujeito já atrai o desprezo de muitos.

A tentação desses intelectuais de se colocarem a serviço de algum projeto de poder se tornou quase irresistível. Por isso vemos tantos artistas, historiadores, filósofos e pensadores em geral dando aval para bufões populistas, no afã de canalizar emoções rumo à ação, ainda que violenta. Pela visão estética da glória da nação ou da classe, esses pensadores traíram o povo incentivando suas paixões irracionais, em vez de atuar como um freio a elas.

As democracias liberais eram muito “entediantes” para esses intelectuais. Era bem mais emocionante defender alguma “solução” qualquer, uma revolução utópica, um messias salvador da pátria. A força e os resultados se tornam as únicas réguas morais. Qualquer ceticismo ou temperança são tidos como fraqueza moral, covardia. E o tribalismo entra em cena: quem não está totalmente com você só pode ser seu inimigo mortal, que precisa ser eliminado, pois representa uma ameaça ao projeto político grandioso. O indivíduo que pensa por conta própria não pode ser tolerado nesse grupo, por razões óbvias.

The Bonfire of Vanities – Tom Wolfe 

Finalmente li esse clássico do Tom Wolfe, autor que faleceu este ano e que gosto muito. Vi o filme também, que não chega aos pés do livro, como de praxe. O livro é uma história fascinante de um sujeito, Tom Hanks no cinema, cheio de si, rico, do mercado financeiro, aristocrata, com amante gostosa, que se envolve num acidente bobo de carro, uma tentativa de assalto, mas que dali em diante vê sua vida desmoronar impotente. Racismo, arrogância, vaidade, inveja, todas as paixões mesquinhas estão bem retratadas na obra. As contingências do destino cobram humildade de quem se acha o “mestre do universo”.

The Screwtape Letters – C.S. Lewis 

Ao lado de Chesteron, C.S. Lewis tem sido outra grande influência no crescente apreço pelo cristianismo. Nesse livro, com sarcasmo e inteligência, Lewis transmite cartas do agente do capeta ao seu aprendiz, ensinando como manipular melhor os humanos frágeis para que garantam seu lugar no inferno, entregando sua alma ao Diabo. Ao fazer isso, ele nos dá o caminho da libertação, da nossa salvação. Mas não é nada fácil, pois somos pecadores, anjos caídos. Só mesmo com muito amor e dedicação aos valores cristãos temos chances de resistir às tentações do capeta.

Suicide of the West – Jonah Goldberg 

Jonah Goldberg, autor de Fascismo de Esquerda, lançou um novo livro: Suicídio do Ocidente. O que o autor sustenta é que a humanidade passou por uma espécie de Milagre, que nos retirou do pântano, não de um Jardim do Éden. Criamos o Milagre da modernidade por conta própria e, se o perdermos, será nossa culpa também. Seu intuito é mostrar como evitar essa tragédia.

Há, porém, um detalhe: essas conquistas não são naturais. O capitalismo não é natural. A democracia não é natural. Os direitos humanos não são naturais. O mundo em que vivemos hoje não é natural. O estado natural é a miséria e muita violência, terminando com morte precoce. Foi assim por muito, muito tempo. Até que algo mudasse, quase por acidente.

A verdade impactante é que quase todo o progresso humano ocorreu nos últimos 300 anos. Em locais onde o capitalismo não tinha ainda dado o ar de sua graça, esse progresso, que retirou centenas de milhões da pobreza, deu-se nos últimos 30 anos. Ou seja, em uma única geração uma parte significativa da humanidade experimentou um progresso sem precedentes. Esse é o Milagre de que Goldberg fala.

A corrupção de que Goldberg fala não é cair na tentação da propina, mas ceder aos encantos de nossa natureza humana, acatar aquela voz interior primitiva que sussurra sobre nossos sentimentos. Seria dar vazão aos nossos apetites sem qualquer tipo de freio moral, civilizatório. É permitir que o “bom selvagem”, que nada tem de bom, nos domine. É, enfim, abraçar a barbárie e virar as costas para a civilização.

Sem esforço, a civilização morre, pois é isso que ela representa: esforço. A complacência é uma receita para um suicídio em câmera lenta. As primeiras civilizações que surgiram tiveram sucesso justamente por conquistar a natureza humana, não por se entregar a ela.

Nothing is impossible – Christopher Reeve 

Quando vc estiver flertando com o vitimismo, porque sua vida não anda exatamente como vc planejou, leia esse livro. A biografia do superman que ficou tetraplégico é um soco na cara de quem está pensando em apelar para o mimimi. Sem sensacionalismo, sem chororô, até mesmo com doses de humor, Reeve relata um pouco de sua experiência e as reflexões existenciais que passou a ter após o acidente de cavalo que o colocou para sempre, até a morte, numa cadeira de rodas. A esperança, porém, nunca o abandonou. Não uma esperança vã, mas sim calcada no esforço da ciência. Como um farol no mar, ela deve se sustentar em solo firme, para poder lançar luz aos marinheiros desesperados e perdidos. Mas sem esperança, o que nos resta?

The Hero of a Thousand Faces – Joseph Campbell

O livro que influenciou George Lucas, autor de Guerra nas Estrelas, faz uma análise comparada de mitologia, discutindo com base em conceitos psicanalíticos a estrutura comum na jornada do herói arquétipo encontrado em quase todas as diferentes culturas.

De forma bem resumida, o herói se aventura num mundo de maravilhas e perigos sobrenaturais, saindo do cotidiano para encontrar uma vitória decisiva, retornando em seguida com o poder para ajudar seus semelhantes. O mito do herói é como uma passagem secreta que se abre por onde passam energias inextinguíveis do cosmos para a manifestação cultural humana. É a forma que temos para narrar histórias que servem como referência moral, um norte a ser seguido, uma inspiração para todos que precisam enfrentar os ritos de passagem e amadurecer ou vencer desafios na vida.

Como coloca George Lucas, Campbell mergulha em séculos de mitologia para nos mostrar que estamos todos ligados por uma necessidade básica de escutar histórias e compreender melhor a nós mesmos. O fio condutor desses mitos é a frágil condição humana, do animal que mais tempo depende da mãe ao nascer, e que precisa lidar com o pai “intruso” nessa equação. Campbell bebe muito de fontes psicanalíticas, como Freud e Jung, para analisar a psique humana nessa trajetória de libertação e crescimento.

O livro mostra como suprimir o ego faz parte de quase toda a cultura que enaltece o herói, a descoberta interior, o nirvana ou Deus. Enquanto durar a egotrip, a obsessão narcísica pelo “eu”, não há como o sujeito agir de forma realmente nobre e heróica.

Por que Batman corre da polícia se não fez nada de errado?, pergunta o filho do comissário Gordon. Porque ele pode suportar isso, responde o pai. Porque ele é um herói – não o que Gotham merece no momento, mas aquele de que precisa. E precisamos desses heróis, não resta a menor dúvida.

Um Feliz Natal a todos e um ótimo Ano Novo!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]