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Mudanças na Lei Rouanet visam maior transparência: seria esse o motivo da revolta de Wagner Moura?
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O ator Wagner Moura – um bom ator, sem dúvida – publicou um texto na Folha hoje um tanto agressivo, alegando que os críticos dos artistas engajados teriam “medo”, e que o artista é um ser político que deve usar mesmo sua obra para levar uma mensagem ideológica. Correção: todo ser humano é um ser político, como já sabia Aristoteles. Mas não é isso que o ator tem em mente, e sim o engajamento partidário daqueles que parecem colocar a ideologia acima da própria arte. E isso, vai me desculpar, não é muito artístico.

O “capitão Nascimento” lança mão de um sofisma para se proteger das acusações de proselitismo, que eu mesmo já fiz várias vezes. Aliás, num determinado momento do texto ele parece tentar responder a mim mesmo, que escrevi que atores não são exatamente respeitados por sua inteligência política, e sim por seu bom desempenho em sua função, que até demandaria uma certa capacidade de não ser nada e ser tudo ao mesmo tempo, já que seu objetivo é absorver a personagem e persuadir o público, ou seja, enganá-lo de maneira convincente. Diz Moura:

A natureza da arte é política pura. Numa democracia saudável, artistas são parte fundamental de qualquer debate. No Brasil de Michel Temer, são considerados vagabundos, vendidos, hipócritas, desprezíveis ladrões da Lei Rouanet.

Diante de tamanha estupidez, fico pensando: por que esses caras têm tanto medo de artistas, a ponto de ainda precisarem desqualificá-los dessa maneira?

Faz um tempo, dei muita risada ao ver uma dessas pessoas, que se referia com agressividade a um texto meu, dizer que todo bom ator é sempre burro, pois sendo muito consciente de si próprio ele não conseguiria “entrar no personagem”.

Talvez essa extraordinária tese se aplicasse bem a Ronald Reagan, rematado canastrão e deus maior da direita “let’s make it great again”. De minha parte, digo que algumas das pessoas mais brilhantes que conheci são artistas.

É muita confusão, muita mistura deliberada. Vamos lá: os vagabundos, vendidos e hipócritas não são todos os artistas, como Moura quer insinuar, mas alguns, justamente aqueles que colocam a ideologia e o partido acima de tudo, e que parecem mirar apenas nas tetas gordas do estado via Lei Rouanet.

Reagan era meio canastrão como ator mesmo, mas que baita político ele foi! E que ser humano incrível, que superou adversidades, o alcoolismo do pai, a pobreza da família, para se tornar um líder inconteste que resgatou o orgulho nacional do americano, além da prosperidade, e ainda derrubou o império maligno soviético e o Muro de Berlim no processo, como trocado. Talvez Moura prefira pessoas “maravilhosas” como os atores de Hollywood que, na época, defendiam a União Soviética…

As “pessoas brilhantes” podem ser atores, é claro, mas suspeito que as realmente brilhantes não sejam as que Moura conhece e admira. Esses são “brilhantes” em defender o indefensável, em destilar hipocrisia, em ajudar a destruir o Brasil apoiando o PT e Lula. São esses os “camaradas” que Moura tanto admira, sem dúvida. Aqueles que, ao lado dos “intelectuais”, assinaram manifesto em defesa da volta de Lula em 2018. Brilhantes!

Continuando com o sofisma, Wagner Moura apela para a vitimização, e usa um argumento legítimo para defender uma postura imprópria:

Uma apresentadora de TV fez recentemente sua própria lista de atores a serem proscritos. Usou uma frase atribuída a Kevin Spacey, possivelmente dita no contexto de seu papel de presidente dos EUA na série “House of Cards”.

A frase era a seguinte: “a opinião de um artista não vale merda nenhuma”. Certo. Vale a opinião de quem mesmo? Invariavelmente essas pessoas utilizam o chamado argumento “ad hominem” para desqualificar os que discordam de suas opiniões.

O “argumento ad hominem” é mesmo uma estratégia pérfida de debate, e Moura deveria repetir isso ad nauseam para seus colegas da extrema-esquerda, que só sabem “debater” rotulando os adversários, tratados como inimigos mortais. Mas notem que ninguém precisa desse subterfúgio para rebater as baboseiras ditas por Moura. Não é porque ele é ator que ele é tão criticado, e sim porque ele diz muita bobagem, demonstrando ignorância ou má-fé, e sempre deixando a hipocrisia saltar aos olhos.

A cara de pau do sofista é tanta que ele mesmo acusa os outros do que é e faz: “É a clássica falácia sofista: eu não consigo destruir o que você pensa, portanto tento destruir você pessoalmente. Um estratagema ignóbil, mas muito eficaz, de fácil impacto retórico. Mais triste ainda tem sido ver a criminalização da cultura e de seus mecanismos de fomento, cruciais para o desenvolvimento do país”.

Ora, ninguém quer “criminalizar a cultura”, e sim cortar o cordão umbilical entre atores engajados e partidos de extrema-esquerda que controlam os recursos públicos dessa área. O defensor do MTST, ou seja, dos criminosos ligados a Guilherme Boulos, finge não saber dessa diferença, pois isso colocaria seu discurso todo por água abaixo. Wagner Moura é contra a reforma da Previdência, necessária para estancar a sangria fiscal, e quer manter as mamatas “culturais”. E ai de quem criticar isso: não passa de um sofista que tem medo dos artistas!

Algo me diz que essa revolta toda do ator baiano tem ligação com essa notícia de hoje:

O Ministério da Cultura anunciou nesta terça-feira as mudanças na Lei Rouanet que visam criar limites de financiamento e gastos e ampliar a transparência nos processos. O ministro Roberto Freire destacou o estoque de 18 mil prestações de contas que não foram analisadas e afirmou que a irregularidade “campeava” no modelo antigo. As medidas foram antecipadas pelo GLOBO.

— Nós estamos com um passivo que se aproxima de 18 mil processos no ministério da Cultura, grande parte na Lei Rouanet, em que as fiscalizações não foram realizadas. Isso dá a demonstração de que a irregularidade campeava, porque se descobre desvios como os apurados na Operação Boca Livre. Espero que não tenhamos mais com a irresponsabilidade desse passivo – disse Freire.

Entre as principais mudanças está justamente o sistema de prestação de contas. A partir de agora os gastos de cada projeto serão disponibilizados em tempo real em um site no ministério e todos os recursos serão movimentados por uma conta vinculada do Banco do Brasil. Com isso, a ideia é de uma fiscalização online tanto dos técnicos do ministério quanto da sociedade.

Ou seja, acabar com a farra atual, cobrar mais transparência, prestar contas para a sociedade, quem paga a conta. Que horror! O “Drácula” é mesmo um monstro terrível que morre de medo de artistas e quer acabar com a cultura nacional, aquela presente em shows suspeitos. E o ministro, vale lembrar, é o esquerdista Roberto Freire, militante por toda a vida do socialismo, ainda que em sua versão mais light nos últimos anos. Imaginem só se fosse alguém de direita!

Pois é, Wagner Moura, você acaba seu texto com uma ameaça: “Tenho uma má notícia: no último dia 15, havia mais de um milhão de pessoas nas ruas do país. Parece que não é só dos artistas que eles deverão ter medo”. Sim, os artistas engajados não estão sozinhos. Contam com os “intelectuais”, sindicalistas, vagabundos do MTST, invasores, criminosos e milhares de “mortadelas”, de olho em algum privilégio qualquer ou uma simples remuneração pela presença, custeada por recursos públicos.

Mas eu devolvo a ameaça: tenho uma péssima notícia. Os “coxinhas” não estão sozinhos, somos milhões, não temos mais medo de artistas engajados, e vamos continuar pressionando por menos privilégios no governo, por mais transparência, e por um critério bem mais rigoroso do que pode ser considerado “fomento à cultura”, hoje claramente um eufemismo para transferir dinheiro do trabalhador para o bolso de artistas engajados. Tremei, “Zero Um”, tremei!

Rodrigo Constantino

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