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Não há qualquer dúvida: Haddad como “centro” é estelionato eleitoral
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Já escrevi mais de um texto aqui sobre a estratégia da esquerda radical e parte do establishment, apavorado com a possibilidade de vitória do “outsider” Jair Bolsonaro. Ela consiste em pintar o ultra-radical candidato do PT como “moderado pragmático”. Fernando Haddad já tem pinta de tucano, o que ajuda na embalagem. O desespero com Bolsonaro faz o resto do serviço: Haddad se transforma num sujeito ponderado e, vejam só, até a favor da austeridade.

O editorial do GLOBO de hoje fala dessa “guinada” ao centro como estratégia, compara com aquilo feito por Lula no primeiro mandato, e termina questionando se o PT aprendeu mesmo a lição ou se mente. Eis um trecho:

Caminharia para a quarta derrota. Lula, então, deu o cavalo de pau no transatlântico e, em meados de 2002, lançou a Carta ao Povo Brasileiro, garantindo cumprir contratos (leia-se, nada de calote nas dívidas interna e externa, uma obsessão da esquerda; e respeito ao mercado). Deu certo.

Haddad já começou o cavalo de pau. Na sabatina da “Folha”, UOL e SBT confirmou o afastamento da sua campanha do economista Marcio Pochmann, símbolo do pensamento econômico petista de raiz. Pochmann é arauto, entre outras heresias, da ideia de que não há urgência para a reforma da Previdência. Sabe-se no que este tipo de tese resulta. Haddad foi adiante e admitiu que parte da proposta da reforma previdenciária de Temer “tem coisas úteis”. Principalmente a reforma do sistema dos servidores. O resto, disse, iria para “uma mesa de discussões”. Estas já foram esgotadas, mas este é outro assunto.

Lula, inicialmente, cumpriu a promessa e, para reforçar o compromisso, permitiu que Palocci, no Ministério da Fazenda, seguisse uma política de ajuste “neoliberal”, ajudado, no Banco Central, por ninguém menos que um tucano, Henrique Meirelles, e, mais do que isso, ex-presidente mundial do BankBoston, um dos braços do “capital financeiro monopolista internacional”.

Funcionou. A inflação, que disparara devido à alta do dólar causada pelo temor a Lula, retrocedeu, e a economia voltou a crescer. Por isso, também já se especula sobre o nome de um “neoliberal” para a Fazenda de Haddad. Lula sabe em detalhes esta história.

Mas conspira contra PT e Fernando Haddad o desfecho daquela apenas aparente — viu-se depois — conversão do partido às boas práticas de política econômica. A dúvida é se aprenderam a lição ou poderão cometer outro estelionato eleitoral.

A dúvida só quem tem é o jornal carioca, ou quem deseja muito ser enganado novamente. Qualquer observador isento não questiona uma coisa dessas, pois sabe que o PT está apenas mentindo, como sempre, que é totalmente incapaz de aprender qualquer lição sincera. A única lição que o PT aprende é como evitar perder o poder, ou seja, o partido oficialmente lamenta não ter sido mais radical na implantação do bolivarianismo no Brasil.

Os petistas continuam defendendo abertamente o modelo venezuelano, em seus documentos oficiais não fazem qualquer autocrítica dos erros passados, e seguem desrespeitando a Justiça. A vice na chapa de Haddad é a comunista Manuela D’Ávila, do PCdoB. As pessoas próximas são todas extremistas de esquerda, pregando tudo contra as reformas necessárias para o país.

Não obstante, o jornal carioca tem dúvida se aprenderam a lição ou se vão tentar cometer outro estelionato eleitoral. É como ter dúvida se um serial killer que já matou dezenas vai agora se tornar um bom samaritano ou vai praticar novamente o crime. É muita vontade de ser enganado. É muita cegueira ideológica. É a típica postura tucana, de quem adora apanhar e depois questiona se o agressor, no fundo, não é bonzinho.

Não há qualquer espaço para dúvida aqui. É óbvio que se trata de um estelionato eleitoral, como, aliás, alertei bem antes que aconteceria. Estava na cara que o PT faria isso para tentar seduzir os votos mais ao centro. “Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será facilmente sua presa”, alertou Schopenhauer. O PT tenta ocultar os chifres, naturalmente. Mas se olharmos direito, nem conseguem esconde-los. Basta procurar nos lugares certos, nas atas oficiais do partido, nas declarações, e lá estarão os enormes cornos do Belzebu.

Rodrigo Constantino

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