O movimento feminista chegou a um grau tão forte de radicalismo que tem espantado várias mulheres, preocupadas com o tom de ressentimento que demoniza todos os homens. De forma bem elegante e política, foi o caso de Condoleezza Rice, em entrevista a David Axelrod, na CNN.
Ela afirma que o movimento #MeToo expor casos concretos de abusos sexuais é “algo bom”, mas que é preciso tomar cuidado com os rumos da coisa. Para Condoleezza, o movimento está indo longe demais, e não deveria transformar as mulheres em “flocos de neve”, infantilizando-as.
Se essa tendência continuar, alerta a ex-secretária de governo, os homens vão acabar preferindo locais sem mulheres. Vejam:
Outra que se manifestou sobre os excessos do movimento foi Catherine Millet, uma das cem francesas que assinou um manifesto contra a fala de Oprah e os exageros das feministas, para quem tudo virou “abuso”. Millet é a autora de A vida sexual de Catherine M., um romance autobiográfico sobre sua experiência libertina com inúmeros parceiros. Ela pode ser depravada, como disse um amigo, mas é inteligente e entende alguma coisa de homens. Eis alguns trechos de sua entrevista:
A senhora se sente sufocada com movimentos como o #MeToo?
Eu vivi isso como um bombardeio midiático. Todos os dias os jornais publicavam artigos nos quais davam a palavra a mulheres que tinham sofrido assédio ou violência. E, sinceramente, muitas vezes essas violências não me pareciam ser graves -havia algumas e eu não nego isso, mas em certos casos não era tão grave. Em outros, o comportamento das mulheres não era tão evidente.
Em que sentido?
No sentido de que podia haver -e eu não condeno isso- uma certa ambiguidade das mulheres antes que o homem passasse ao ato. Isso me chamou a atenção em alguns testemunhos que li e eu me dizia: publicam o testemunho dessa mulher que acusa um homem de tê-la obrigado a uma relação sexual, mas alguém foi perguntar a esse homem seu lado da história? Isso me parece um pouco desequilibrado. Acho que o trabalho do jornalista é tentar ouvir os dois lados, fazer um trabalho de investigação que seja minimamente equilibrado e esse não foi o caso. Foi isso o que me fez reagir.
O manifesto começa falando sobre a “cantada insistente e desajeitada”. Mas onde termina essa cantada e começa a violência? Qual é o limite?
Eu adoraria que alguém me explicasse.
[…]
O que me incomoda em particular nessa campanha [#MeToo] é que, de alguma maneira, essas mulheres querem instaurar, como se fosse uma lei universal, uma fronteira precisa a partir da qual existiria assédio.
E pior: essa fronteira está chegando bem perto de um simples assobio, de um elogio em público, de uma “chegada”. Para Millet, o movimento feminista foi tomado por uma minoria retrógrada, reacionária, e parece ser esse mesmo o caso.
É um paradoxo, pois o feminismo incentiva de certa forma o comportamento mais depravado e libertino das mulheres, e ao mesmo tempo condena qualquer cantada masculina, qualquer abordagem mais direta ou firme, mesmo que sem agressão (é que tudo passou a ser visto como agressão).
As feministas radicais estão contribuindo para um mundo mais segregado entre homens e mulheres, e para mulheres mais fragilizadas, ainda que “liberadas” sexualmente. Se isso não é um grande complô machista, de quem quer mulher fácil e sem compromisso, e que ainda por cima se ofereça já que não pode mais receber cantadas, bem que parece…
Rodrigo Constantino