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NYT contra o jornalismo: jornal quer investigar conservadores, mas não aceita ser exposto
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Não foi numa página perdida lá no meio do jornal. Foi um texto com destaque na capa do maior jornal americano, o New York Times, adorado por dez em cada dez “progressistas”. Assinado por Kenneth Vogel e Jeremy Peters, o texto dava ares conspiratórios para o fato de que conservadores próximos da gestão Trump resolveram mergulhar no passado de jornalistas para expor seu viés ideológico e suas ligações políticas.

A Folha de SP deu destaque ao texto também, que começa assim: “Uma rede informal de agentes conservadores aliados à Casa Branca está iniciando o que, segundo eles dizem, será uma operação agressiva para desacreditar veículos de imprensa considerados hostis ao presidente Donald Trump, divulgando informações prejudiciais sobre jornalistas. É o passo mais recente em um antigo esforço de Trump e seus aliados para minar a influência do jornalismo legítimo”.

Uau! Uma rede informal de agentes conservadores, aliados ao governo Trump, num esforço para desacreditar jornais, minando a influência do jornalismo legítimo! Aqui já podemos pausar para avaliar a arrogância da mídia mainstream, que se julga detentora do monopólio da verdade, sendo que desde os tempos da falida União Soviética já tínhamos escancarado viés e militância disfarçados de reportagem no jornalzão de esquerda, quando Duranty relatou as “maravilhas” que viu no regime comunista. Isenção e imparcialidade uma ova!

O texto continua: “Quatro pessoas familiarizadas com a operação descreveram como ela funciona, afirmando que compilaram dossiês de mensagens em redes sociais e outras declarações públicas potencialmente embaraçosas de centenas de pessoas que trabalham em importantes organizações noticiosas do país”. Opa! Atenção para o “detalhe”: dossiês, que sugere algo conspiratório, para compilar mensagens públicas de pessoas públicas, que vivem do que escrevem! Escrutinar o que repórteres disseram virou um absurdo para o jornal que investiga a vida de todos, pública ou privada, e não se importa em ajudar a destruir reputações com base em fofocas, suspeitas ou implicância partidária. Ai de quem ousar fazer com os intocáveis do NYT aquilo que eles fazem com os outros!

Tem mais: “Os agentes conservadores examinaram de perto mais de uma década de postagens públicas e declarações de jornalistas, segundo as pessoas inteiradas da operação. Apenas uma fração do que a rede afirma ter descoberto foi divulgada, disseram essas pessoas, e mais será revelado quando a eleição de 2020 se aproximar”. Calma lá! Olha a contradição aí, gente! As tais informações já estão divulgadas, pois são públicas, de figuras públicas, disponíveis nas redes. O trabalho dos conservadores foi, como afirma o próprio jornal, apenas compilar as mensagens.

O show de horrores continua: “Elas dizem ainda que a pesquisa se estende a parentes de jornalistas que são ativos politicamente, assim como ativistas liberais e outros adversários políticos do presidente”. Em primeiro lugar, vamos colocar esses liberais aí entre aspas na tradução, Folha, pois são os “liberais” americanos, ou seja, os esquerdistas! Em segundo lugar, veja só que “absurdo”: a “investigação” se estende não para familiares comuns, pessoas privadas, mas gente com atuação política, ativistas ou políticos. E sim, claro que esses elos são relevantes no caso, para mostrar a promiscuidade de quem se vende como imparcial, mas dorme com o alvo de suas reportagens!

É preciso explicar novamente aqui a diferença entre comentarista de opinião (eu) e repórter. Eu sou pago para emitir minha opinião, analisar as notícias, imprimir minha crítica e expor minha visão de mundo sobre os acontecimentos importantes. O repórter deve divulgar os fatos, deixando de lado o seu viés. Quem se vende por aí como repórter imparcial, mas carrega toda uma visão preconceituosa de mundo em cada linha que escreve, em cada pauta que seleciona, precisa ser exposto sim, pois estão desinformando seu público, fingindo ser algo que não é.

Claro que pode haver manipulação ou retirada do contexto por parte desses conservadores. Algo como o “jornalista” premiado Glenn Greenwald vem fazendo com a tal “vazajato”, não é mesmo? Mas chega a ser cômico e revelador ver o NYT atacando o trabalho jornalístico, só porque vem da direita. Ora, o que esses repórteres escreveram e publicaram, e com quem eles dormem ou são aparentados no mundo da política, são não só informações disponíveis, como de interesse público. Transparência no olho dos outros é refresco, não é mesmo?

O ataque ao trabalho de jornalismo foi tão escancarado que até o Washington Post e o Politico, ambos com viés de esquerda também, publicaram textos criticando a postura do NYT, e cobrando a mesma régua como parâmetro para os jornalistas. Temem o quê? Expor o viés que todos já perceberam, razão pela qual a credibilidade desses veículos só desaba? Não adianta matar o mensageiro, quebrar o termômetro. Os fatos não ligam para seus sentimentos. E são fatos que estão sendo divulgados.

Não nego a campanha perigosa de Trump para demonizar toda a mídia, tratada não só como fábrica de Fake News, mas como inimiga da nação mesmo. É uma narrativa preocupante. Mas não vinga por acaso. Há fundo de verdade. As pessoas cansaram dessa torcida escancarada, desse viés partidário, desses ataques exagerados aos conservadores. O ódio dos conservadores pela mídia mainstream, portanto, é recíproco e em boa parte uma reação. A mídia odeia o conservadorismo, e no caso de Trump é um ódio realmente patológico. Passa o tempo todo tentando detonar seu governo, encontrar pelo em ovo, inventar fofocas ou conspirações onde nada existe. E agora vai chorar porque a turma ligada a Trump resolveu reagir na mesma moeda? Esperava-se mais casca grossa por parte desse pessoal.

Mas um deles, Bret Stephens, que escreve para o próprio NYT, chegou a mandar um email para o chefe de um professor qualquer que fez uma piada com ele nas redes sociais, chamando-o de “inseto”. A postagem tinha, então, nove curtidas, ou seja, ninguém viu! Mas o famoso jornalista achou adequado enviar uma mensagem diretamente para o chefe do desconhecido professor, colocando em risco sua carreira, por conta de uma piada! Talvez fosse o caso de a classe jornalística aprender a rir um pouco mais, e não se levar tão a sério assim. Como disse Chesterton, os anjos voam porque não levam as coisas tão a sério, são mais leves. Os jornalistas em geral estão precisando de mais humor, mais leveza, mais humildade e, certamente, de um pouco mais de imparcialidade.

Rodrigo Constantino

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