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O Brasil à beira do abismo: uma visão de Portugal
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Tive a oportunidade de conhecer André Azevedo Alves (o “triple A”, como é chamado por alguns em sua universidade) num colóquio do Liberty Fund, e depois vi sua palestra em evento recente em Estoril, quando aproveitei para lançar o meu Esquerda Caviar em Portugal. André é professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, e desponta como um profundo conhecedor da Public Choice School, que analisa as falhas de governo.

É justamente das falhas do nosso governo que ele falou em sua mais recente coluna no Observador. O professor se mostra preocupado com os rumos políticos e econômicos do Brasil, argumentando que os olhares de todos estão voltados para a Grécia, mas que a crise brasileira mereceria maior atenção do resto do mundo. A confusão institucional é citada pelo autor, inclusive a bizarra reunião fora da agenda entre Dilma e o presidente do STF, justamente em Porto, Portugal.

André diz que, para quem não acompanha o Brasil de perto, a situação grave em que o país se encontra pode parecer estranha, levando em conta uma capa da revista The Economist não tão distante assim colocando o Cristo Redendor alçando voo. Mas, no fundo, nossos problemas vêm de longa data, “a raiz de muitos dos principais problemas é bem anterior aos acontecimentos dos últimos anos”. Sua visão é acurada, portanto, e deveria ser levada em conta por aqueles que ainda acreditam numa crise repentina causada por fatores externos.

Ele busca no Plano Real a principal fonte de mudança positiva nas últimas décadas, pois a estabilidade monetária finalmente permitiu o “milagre econômico”. O PT teria surfado essa onda, mas sua visão do papel do estado na economia plantaria as sementes da atual crise:

Os primeiros anos de governação PT beneficiaram destas medidas e aproveitaram a folga existente para expandir substancialmente o Estado. A chegada do PT ao poder não trouxe a revolução que muitos – dentro e fora do Brasil – temiam, mas iniciou um processo de expansão do aparelho de Estado (com o clientelismo associado) e de estagnação da economia do país, com destaque para um nível asfixiante de burocracia e fiscalidade.

O país que ainda recentemente era visto por muitos como um milagre económico chegou assim a uma situação de recessão – com o PIB a contrair mais de 1% – e com a inflação oficial em torno dos 10%.

Ao mesmo tempo, ao longo dos últimos anos, manifestações populares massivas vêm contestando a fraca qualidade dos serviços públicos, os elevados níveis de corrupção percepcionados e a subida do custo de vida, mas sem que até ao momento se vislumbre uma alternativa governativa viável.

Mas, se o avanço estatal liderado pelo PT gerou todo tipo de problema que vemos hoje, é inegável que há, pela primeira vez em muito tempo, uma forte reação por parte da população. André credita essa mudança aos esforços de institutos com viés liberal que têm ajudado a disseminar uma visão alternativa pelo país:

É inegável que, além das manifestações anti-governamentais, há mais sinais de vitalidade da sociedade civil brasileira. Um vasto e variado leque de organizações voluntárias da sociedade civil – como o Instituto Millenium, o Instituto de Estudos Empresariais ou oInstituto Mises Brasil – desempenham um papel educacional importante e com notável impacto. É de destacar também o recente sucesso junto do público brasileiro de obras como “Pare de Acreditar no Governo”, de Bruno Garschagen, ou “Esquerda Caviar” (publicado em Portugal pela Alêtheia), de Rodrigo Constantino. Mas não é menos verdade que, não obstante todos estes sinais, a construção de um caminho alternativo para o Brasil não se afigura fácil.

Fico lisonjeado pela menção, ao lado de meu amigo Bruno Garschagen e de institutos que tenho colaborado de forma bastante próxima. A visão mais afastada do professor português serve para ilustrar bem o momento em que o Brasil vive: de um lado, o PT levou as tradições estatistas ao extremo, e com isso causou uma grave crise econômica e institucional; por outro lado, há finalmente alguma reação por parte da população, a parte mais esclarecida que bebeu em fontes liberais e está ciente dos caminhos alternativos que o Brasil deveria tomar.

Quem vencerá esse cabo-de-guerra? Ninguém sabe ao certo. A história não está contada, não há um destino fatalista. Somos nós quem vamos construir o futuro brasileiro, para o bem ou para o mal. As “forças do pântano”, como costuma dizer Paulo Guedes, estão reagindo para não perder privilégios, mamatas e poder. As forças da Grande Sociedade Aberta também estão em movimento, cada vez mais organizadas e espalhadas. O professor conclui:

Os próximos passos do Brasil serão decisivos para determinar se o país consegue dar a volta à crise ou se mergulhará definitivamente numa espiral de degradação económica, política e social. Dada a importância global do Brasil, o futuro do país terá também ramificações significativas na América do Sul e no resto do mundo. Também por isso seria importante prestar mais atenção ao que por lá se está a passar.

Que o Brasil não faça como aquele time, que estava à beira do precipício, mas tomou a decisão “certa”: deu um passo à frente. É hora de recuar do estatismo, do populismo, do governo como a locomotiva do progresso e da “justiça social”, e dar uma chance à liberdade, ao capitalismo verdadeiro, à economia de mercado. Será que somos capazes de tal mudança? Quem viver, verá.

Rodrigo Constantino

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