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O “capitalismo de quadrilha” e o jornalismo independente
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Paulo Guedes tem usado seu espaço às segundas-feiras no GLOBO para defender a ideia de uma Grande Sociedade Aberta, expressão usada pelo filósofo liberal Karl Popper. Trata-se de uma sociedade viva, em que a tentativa e o erro vão moldando instituições mais sólidas e republicanas, tudo isso contra o “Antigo Regime”, das forças patrimonialistas fechadas que encaram a “coisa pública” como “cosa nostra” de uma patota, de uma “família”. Na coluna de hoje, ele aproveitou para incluir Lula na análise, uma vez que o ex-presidente se enrola cada vez mais nas investigações da Lava-Jato:

O ex- presidente Lula acaba de entrar no raio das investigações sobre o tráfico de influências em favor de grupos de interesse privados que teriam corrompido decisões públicas durante seu governo… e além. Começa a sentir na própria nuca o bafo quente de investigadores independentes que acreditam no aperfeiçoamento institucional de nossa ordem jurídica e, por consequência, de nosso sistema político.

O que lhe parece impertinente perseguição política é na verdade a exigência de uma sociedade aberta ante as dimensões vulcânicas da corrupção sistêmica. Suas evidências são como jatos de lavas lançados sobre uma classe política que há tempos nos deve forma decente de tratar a coisa pública. A erupção da Lava- Jato deve causar em 2016 muito calor, suor e lágrimas entre uma elite política que transformou o que deveria ser “presidencialismo de coalizão”, movido por princípios comuns de políticas públicas, em “presidencialismo de cooptação”, movido por propinas para apropriação indébita de recursos públicos.

[…]

Somos prisioneiros dos limites cognitivos de uma obsoleta plataforma social- democrata. Perdemos nossa dinâmica de crescimento. Essa armadilha de baixo crescimento é o resultado da falta de sintonia de nossas lideranças políticas com as exigências da nova ordem global a uma democracia emergente. Buscando apoio no oportunismo político de mercenários e nos interesses econômicos de maus empresários, essas despreparadas lideranças de inclinações “socialistas” acabaram transformando o “capitalismo de estado” do regime militar em um “capitalismo de quadrilha”.

Não discordo, e a essência do problema é mesmo o modelo social-democrata. Com os tucanos no poder, eventualmente teríamos problemas graves para lidar, necessitando de reformas estruturais a evitar uma quebradeira generalizada. Mas não dá para negar que o PT fez muito, muito pior do que o PSDB. Seu DNA não é social-democrata, e sim socialista, sem aspas. Autoritário ao extremo, amigo dos piores ditadores comunistas, disposto a “fazer o diabo” para se perpetuar no poder, usando seus braços armados do MST e do MTST, seus militantes da CUT e da UNE.

Enfim, Guedes acerta ao atacar o “big picture”, ao mostrar que a plataforma social-democrata pós-redemocratização fracassou, está obsoleta, e somente o liberalismo pode salvar o Brasil dessa desgraça, desse “capitalismo de compadres”. Mas é inegável que o PT pegou o que já era ruim e transformou em algo muito pior. Não só interrompeu as mudanças positivas que os tucanos tinham realizado, ainda que numa velocidade muito aquém do desejável, como intensificaram o grau na direção contrária. Recuamos décadas no tempo. Voltamos à era da inflação alta, do nacionalismo protecionista, do intervencionismo absurdo.

Isso tudo para não falar da institucionalização da corrupção, do mensalão e do petrolão, tentativas de tomar o estado todo de assalto. Sim, o “capitalismo de estado”, que já era terrível e antiliberal, virou um “capitalismo de quadrilha”, e o aparelhamento da máquina estatal quase mata a nação por asfixia e impede as instituições republicanas de respirar. Felizmente, elas não chegaram a morrer, e ensaiam alguma reação rumo à Sociedade Aberta. Para isso, contamos com os juízes da nova leva, com seus jatos de lava queimando ícones do Antigo Regime. E contamos com o que restou da imprensa independente, cuja função é crucial nessa tarefa, como destaca Carlos Alberto Di Franco em sua coluna de hoje, logo abaixo da de Guedes:

A independência é a regra de ouro da nossa atividade. Para cumprir a nossa missão de levar informação de qualidade à sociedade, precisamos fiscalizar o poder. A imprensa não tem jamais o papel de apoiar o poder. A relação entre mídia e governos, embora pautada por um clima respeitoso e civilizado, deve ser marcada por estrita independência.

Está surgindo, de forma acelerada, uma nova “democracia”, totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura ideológica constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar jornalistas e redações. O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é, como já disse, a independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, homossexuais ou raciais. O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo, em ano eleitoral e em qualquer tempo, não pode haver vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético.

Deixemos de lado a pirotecnia do marketing. Nosso papel, único e intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. E é o que o leitor espera de nós.

Para a construção de uma Grande Sociedade Aberta, o primeiro passo, de vida ou morte, será derrotar o PT, o seu maior inimigo. Em seguida, será derrotar o modelo social-democrata que engessou a economia, impôs enorme custo aos negócios criadores de riqueza, e alimentou o monstro do Leviatã estatal que impede os avanços capitalistas rumo ao progresso. Mas o liberal precisa ter prioridades: primeiro, sobreviver, ou seja, eliminar o PT. Somente depois apontar a mira na direção dos social-democratas, da esquerda mais moderada. First things first!

Rodrigo Constantino

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